O Brasil mais que dobrou o número de médicos nos últimos 10 anos. Passou de 239 mil, em 2004, para cerca de 576 mil, em 2024. Atualmente, o país conta com quase três profissionais para cada mil habitantes. Um novo levantamento baseado nos dados da Demografia Médica de 2024 do Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que o número de médicos aumentou 89%.
Os números revelam, no entanto, uma grande desigualdade quando observada a taxa de profissionais por mil habitantes, que chega a uma diferença de até cinco vezes entre os estados. Na ponta superior, o Distrito Federal tem uma proporção de 6,3 profissionais para cada mil pessoas, enquanto no Pará essa proporção é de 1,4 e no Maranhão – a menor proporção – é de 1,3 médicos por mil habitantes.
O Pará tem 11.432 profissionais registrados para uma população de mais de 8,2 milhões de habitantes, a maioria – 7.608 especialistas– concentrados em Belém, que se aproxima em termos proporcionais, do Distrito Federal, com 5,77 profissionais por mil habitantes. Os demais 143 municípios paraenses somam um total de 3.824 profissionais, em uma proporção de 0,6 médicos por 1.000/hab.
Nas cidades paraenses com população abaixo de 100 mil habitantes – um total de 129 dos 144 – a densidade por mil/habitantes é de apenas 3,9. São 711 profissionais para 1.8 milhão de pessoas. Estados como Amazonas (1,6), Amapá (1,5), Pará (1,4) e Maranhão (1,3) apresentam as menores razões de médicos por mil habitantes – embora tenham mostrado evolução superior a 67% neste índice nos últimos 14 anos.
As unidades da Federação economicamente mais desenvolvidas, como Distrito Federal (6,3), Rio de Janeiro (4,3), São Paulo (3,7), Espírito Santo (3,6), Minas Gerais (3,5) e Rio Grande do Sul (3,4), tiveram aumento absoluto de médicos menor entre 2010 e 2024, e apresentam média de médicos por mil habitantes significativamente acima da quantidade nacional (3,07). Esses indicadores são equiparáveis à média observada entre os países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,7.
A Demografia Médica do CFM mostra que nove UFs registraram aumento de mais de 100% na densidade de médicos, ou seja, a proporção do profissional da saúde por mil habitantes. Nenhum estado registrou diminuição da quantidade de médicos ou da densidade médica nos últimos 14 anos.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina, além das distorções por estado, uma análise detalhada da situação dentro das próprias unidades da Federação desvenda distorções. “É notável que a concentração de médicos é significativamente maior em áreas que se destacam, como grandes centros econômicos, aglomerações populacionais e locais onde se agrupam instituições de ensino superior e uma vasta gama de serviços de saúde, criando assim, uma maior oferta de oportunidades aos profissionais”, avalia o CFM.
Por outro lado, as regiões menos desenvolvidas, especialmente as mais pobres e situadas no interior de estados, enfrentam desafios para reter e atrair médicos. As capitais concentram 23% da população do país e agrupam 52% dos médicos. Os municípios do interior somam 77% da população do Brasil e 48% dos médicos.
As desigualdades regionais ficam evidentes no levantamento: o Sudeste se destaca por ter a maior densidade e proporção de médicos no país, com 3,76 médicos por mil habitantes e 51% do total de médicos, enquanto abriga 41% da população brasileira. Já o Norte exibe a menor razão e proporção de médicos, contando com uma razão 1,73, ficando abaixo da média nacional e representando 4,8% do contingente médico nacional para atender 8,6% da população.
A região Nordeste, com 19% dos médicos e quase 27% da população, apresenta uma razão de 2,22 médicos por mil habitantes. O Sul, com 16% dos médicos e 15% da população, exibe uma razão de 3,27 médicos por mil habitantes, enquanto o Centro-Oeste, com 9% dos médicos e 8% da população, tem uma razão de 3,39 médicos por mil habitantes.