CÍRIO 2024

Os peregrinos e a padroeira: Caminhada de fé, agradecimento e esperança

Vindos de diferentes localidades, em caravanas, grupos pequenos ou sozinhos, os devotos caminham sob o sol até a Basílica Santuário, em Belém, ponto final da peregrinação

A Basílica deverá receber um grande público hoje e nos próximos dias, e é um dos locais mais visitados por turistas e devotos durante a quadra nazarena. Foto: Irlaine Nóbrega
A Basílica deverá receber um grande público hoje e nos próximos dias, e é um dos locais mais visitados por turistas e devotos durante a quadra nazarena. Foto: Irlaine Nóbrega

O esforço físico move a fé de muitas pessoas. É assim que centenas de devotos de Nossa Senhora de Nazaré realizam suas promessas como forma de agradecimento por bênçãos alcançadas ou realizar algum pedido especial. Vindos de diferentes localidades, em caravanas, grupos pequenos ou sozinhos, os devotos caminham exaustivamente sob o sol até a Basílica Santuário, em Belém, ponto final da peregrinação, e recebem nesta área assistência e apoio da Casa de Plácido.

Na tarde de sexta-feira (11), a predominância na Casa foi de devotos que vieram de Castanhal, município distante cerca de 75 quilômetros de Belém.

O professor Carlos Alberto Sousa, de 39 anos, veio de lá em um percurso que durou 23 horas até chegar à Casa de Plácido, no bairro de Nazaré. A peregrinação é de longa data na vida do devoto. Desde os 13 anos de idade, Carlos realiza o percurso que começou acompanhando a avó e depois a mãe.

Anualmente, ele realiza o percurso sempre com o mesmo empenho para chegar no final do trajeto a pé. “Vim pedir pela saúde da minha esposa. Todo ano estou aqui nessa época para agradecer, servir e venerar”.

Ser fiel a Nossa Senhora de Nazaré é algo que passa por gerações na família da pedagoga Araceli Santiago, 51 anos, que afirma ser devota desde quando era criança. Há 15 anos ela realiza o percurso de Castanhal até Belém, que neste ano durou mais de 23 horas.

No passado, Araceli se apegou à Virgem quando o filho dela, na época com três anos de idade, teve hérnia inguinal, condição que ocorre quando há o deslocamento de uma porção do intestino e que pode gerar graves complicações. “Meu filho foi curado com a ajuda dela. Nossa Senhora é tudo em nossa vida e minha família sem ela não é nada”.

A diretora escolar Debora Campos, 51 anos, demorou 22 horas caminhando até chegar na Praça Santuário. Apesar do cansaço aparente e com os pés enfaixados devido ao longo caminho percorrido, a diretora estava feliz e emocionada por ter concluído o percurso realizado pela primeira vez de Castanhal até Belém. “É uma emoção inexplicável. É uma mistura de sentimentos que envolvem fé e agradecimento. Todo Círio eu venho prestigiar. Vim como promessa sobre a saúde de um familiar”.

Com 59 anos de idade e esbanjando gratidão, o educador físico Rodolfo Fernando Barbosa mora na capital paraense e foi até Castanhal justamente para retornar caminhando de lá em uma trajetória que se estendeu por 24 horas até chegar em Belém. O devoto tem família católica. A devoção pela Santa começou quando ele realizou o sonho de cursar educação física anos atrás. “Era uma vontade muito forte minha. Pedi a ajuda dela e consegui. Sou grato por tudo”, explicou o devoto exausto enquanto andava com a ajuda de uma muleta improvisada.

Santa Izabel do Pará fica distante de Belém cerca de 46 quilômetros e foi esta extensão que o transportador Jessé Cavalcante, 46 anos, atravessou a pé com um único objetivo: agradecer uma bênção alcançada por meio da Virgem de Nazaré. Após 13 horas caminhando em direção à Basílica Santuário, ele também recebeu atendimento na Casa de Plácido e foi acolhido pelos voluntários. “Todo ano eu venho para o Círio, mas esta foi a primeira vez que fiz esse percurso a pé. Eu estou aqui por ela. A fé é algo que não conseguimos explicar.”