HISTÓRIAS DE FÉ

Círio de Nazaré: Testemunhos de devoção

Em Belém, é difícil encontrar quem não tenha um relato de fé em Nossa Senhora, seja em histórias emocionantes e relatos de promessas pagas

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Entre os elementos que mais emocionam durante o Círio de Nazaré estão os relatos de fé dos devotos de Nossa Senhora. Seja nas manifestações públicas de gratidão evidenciadas nas mais variadas formas de pagamento de promessas, seja nas reações mais contidas, a emoção despertada pela devoção à Virgem de Nazaré encontra motivos únicos na história de cada pessoa.

Devoto de Nossa Senhora de Nazaré desde muito jovem, o Guarda de Nazaré Cláudio Custódio, encontrou na dedicação à Igreja uma maneira de se manter sempre conectado não apenas com Nossa Senhora, mas com a sua própria mãe. “Eu sou muito ligado à Nossa Senhora e eu devo isso à minha mãe. Toda vez que eu estou em missão com a Santinha, eu estou conectado com a minha própria mãe”.

Belém, Pará, Brasil, Cidade. Retranca: RELATOS – FÉ – Cláudio Custódio, Guarda de Nazaré. Gancho: Entre os elementos que mais emocionam durante o Círio de Nazaré estão os relatos de fé dos devotos de Nossa Senhora, histórias de devoção e gratidão dos fiéis. Local: Basilica de Nazaré – Belém. Data: 02/10/2024. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Cláudio lembra que sempre gostou muito de pedalar e foi através de um conhecido do grupo de pedal que ele participava que, há oito anos, ele foi convidado a ser Guarda de Nazaré. Diante da missão que ele segue abraçando até hoje, ele considera que o maior desafio não é apresentado quando ele está de farda, pelo contrário. “Esses oito anos de guarda me transformaram muito como pessoa. Mas eu digo que o mais difícil é quando a gente tira a farda e vai para casa porque é quando a gente mais tem que colocar em prática a espiritualidade que a gente aprende na guarda”, considera. “Ser Guarda de Nazaré e estar mais perto da Santinha me fez uma pessoa melhor, um marido melhor, um pai melhor, um vizinho melhor, um cidadão melhor”.

Também no caso do recepcionista Dionísio Cardoso, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré representa a forte conexão que ele tem com a família. Não é à toa que, hoje, ele busca apresentar à sobrinha, a quem tem como uma filha, a mesma devoção que lhe foi passada de geração em geração na família. Às vésperas do Círio, ele fez questão de levar a pequena Maria Aurora, de cinco meses, para conhecer a casa de Nossa Senhora de Nazaré, acompanhado pela sua mãe Isabel e sua avó Maria, quatro gerações da família. “Eu tenho uma relação de devoção muito grande com Nossa Senhora. Foi algo que passou da minha avó para a minha mãe e da minha mãe para mim e para a minha irmã. É algo que a gente não consegue descrever a emoção. Hoje eu trouxe a minha sobrinha pela primeira vez aqui para apresentar ela a essa devoção porque eu quero passar para ela também. É algo surreal, a gente não sabe falar mas sabe expressar esse sentimento dessa forma”, relatou o devoto que há 10 anos sai na corda da Trasladação. “Sair na corda foi uma promessa que eu fiz, mas sem data de término porque eu sabia que eu iria conseguir parar. Eu vou para pedir também, mas é mais para agradecer”.

Também no que se refere à tradição da corda, a influência da família teve um papel importante. Dionísio lembra que o tio começou a ir na corda e ele, ainda com 20 anos, começou a se interessar em participar da manifestação de fé também. Desde a primeira vez, ele não parou mais. “Mais uma vez foi uma devoção que veio de casa. Eu via o meu tio participando e achava bonita a fé dele e daquelas pessoas e eu quis fazer parte também. Eu fui a primeira vez e nunca mais deixei de ir. É algo muito bonito que a gente tem que passar, agora, para as novas gerações da família que estão chegando”, considera. “A minha irmã (mãe de sua sobrinha) está trabalhando e não podia vir, mas eu falei para ela ficar despreocupada que eu iria trazer a minha sobrinha para apresentar pra Nossa Senhora. Todos os anos, antes do Círio, a família vem para ter esse momento mais próximo com a Santinha”.

No caso da comerciante Caroline Figueiredo Herculano da Silva e da filha Maria Rita Herculano Vasconcelos dos Santos, o as levou a se dirigir até a Basílica Santuário de Nazaré dias antes do Círio 2024 foi o acaso. Muito devotas de Nossa Senhora, mãe e filha estavam na lancha vinda do município de Soure, no Marajó, que no último dia 02 de outubro precisou atracar emergencialmente em Mosqueiro depois de bater em um objeto dentro d’água e ter o casco invadido por água.

Assim que se viram em segurança, em terra firme, mãe e filha se dirigiram diretamente para a Basílica Santuário para agradecer pelo livramento. “A gente veio agradecer porque a gente quase sofreu um naufrágio. Sim. Entrou água no casco da lancha e a gente ia afundar. Eu já estava chorando, com muito medo, e lá dentro a gente pediu esse livramento para Nossa Senhora”, contou a Maria Rita, ainda abalada pelo susto. “A gente é do Marajó e veio só resolver uma situação aqui em Belém e quase aconteceu uma tragédia. Foi um livramento de Nossa Senhora de Nazaré e a gente veio agradecer, agradecer a Deus por estarmos aqui, bem. O Círio deste ano já tem um significado diferente para a gente”.

Por outro motivo, o Círio 2024 também tem um significado especial para o economista Fernando Melo. Nascido em Belém, ele morou fora por 20 anos e o Círio deste ano marca o reencontro com sua cidade natal. “Eu tenho uma relação de devoção muito grande com Nossa Senhora de Nazaré. Eu fiquei 20 anos longe de Belém e, mesmo assim, eu assistia o Círio pela televisão, pela internet, de longe”, recorda. “Esse ano eu voltei para cá e esse é o primeiro Círio que eu vou participar depois e 20 anos. Eu voltei para a casa da Rainha da Amazônia e, graças a Deus, vou passar esse Círio aqui. É como aquela música da Fafá de Belém que diz: só estando aqui para sentir o que é o Círio de Nazaré, com certeza é uma emoção totalmente diferente”.