TRADIÇÃO

Em busca dos ingredientes para fazer um almoço do Círio especial

O movimento em supermercados e feiras de Belém se intensifica nesta reta final para o Círio, refletindo a expectativa de manter viva a tradição do almoço deste domingo

A terapeuta Tamila Braz revela que o planejamento é a chave para garantir um almoço sem contratempos
FOTO:  Even Oliveira
A terapeuta Tamila Braz revela que o planejamento é a chave para garantir um almoço sem contratempos FOTO: Even Oliveira

Even Oliveira

O tradicional almoço do Círio de Nazaré está se aproximando, e com ele a busca pelos ingredientes para compor a mesa. O movimento em supermercados e feiras de Belém começa a se intensificar nesta reta final, refletindo a expectativa de manter viva essa tradição.

A terapeuta Tamila Braz, de 43 anos, revela que o planejamento é a chave para garantir um almoço sem contratempos. Ontem (7), Tamila, ao fazer as compras semanais de casa em um supermercado na avenida José Bonifácio, no bairro Marco, em Belém, aproveitou para observar os preços de frutas e verduras que vão incrementar alguns pratos do almoço do Círio. Mantendo a tradição passada tanto pela avó quanto pela mãe, pratos como maniçoba, vatapá, pato no tucupi, caruru e taça da felicidade, que tem o creme do cupuaçu ou bacuri, não faltam no almoço da terapeuta.

“Acredito que nós, paraenses, temos o hábito de comprar tudo em cima da hora. Há algum tempo eu venho me organizando. Então, comprando antes para poder verificar valores; verificar o que vou precisar para usar no dia, para não ter que sair correndo para o supermercado no dia [do Círio]. A organização é a disciplina, algo que tenho me policiado todos os anos”, compartilha Tamila, que prepara o almoço juntando o esposo, os três filhos, os sogros e os pais.

Para ela, apenas os itens como jambu e tucupi, mais tradicionais, são sempre adquiridos nas feiras, enquanto os produtos em maior volume são comprados no supermercado, optando por uma abordagem mais cautelosa, avaliando melhor as ofertas. “Para mim, esse [momento] é a cereja do bolo, que é a compra de uma fruta específica, uma polpa 100% natural, digamos assim, sem nenhum tipo de conservante, para um creme. Esses são ingredientes específicos que a gente deixa para comprar [por último]”, acrescenta.

A aposentada Maria de Lurdes, 80 anos, que também mantém a tradição de fazer o almoço, comenta que os preços não estão favoráveis, mas isso não impede de manter os costumes e ainda fazer uma renda extra com a venda de maniçoba para o almoço do Círio de outras famílias. “Está muito caro, mas não tem jeito. Ano passado, comprei o charque mais barato, mas este ano, está difícil encontrar o que gosto de usar por menos de R$40 o quilo. A minha maniçoba é light, as pessoas compram porque conhecem o meu jeito de fazer, sem muita gordura”.

Nas feiras, como a da 25, no bairro do Marco, o cenário é semelhante. Moradores do bairro, Lúcia Damasceno, de 74 anos, e Eloi Damasceno, 70, que há 40 anos mantêm a tradição de cozinhar juntos para o Círio, já iniciaram as compras para os pratos como vatapá e tacacá. “A gente não deixa para última hora. Já começamos a preparar as coisas, congelar o camarão, que está por volta de R$75 a R$105 o quilo das opções. O freezer já está cheio”, diz Lúcia. O casal destaca que essa celebração é um momento especial para reunir cerca de 15 familiares que vêm de diferentes estados do país e até do exterior.

“A gente sabe que, tradicionalmente, a gente tem a maniçoba e o vatapá, mas além desses pratos típicos, às vezes eu faço camarão ao molho branco”, diz Rosemeire Nunes, 55, feirante. Ela mantém a tradição de preparar o almoço do Círio em sua casa desde que casou, há mais de três décadas. Para Rosemeire, o planejamento do almoço começa pela maniçoba, que precisa de mais dias de preparo para “apurar” o sabor e revela que não economiza nos ingredientes. “Vai de tudo um pouco. Vai porco, carne [vermelha], como o peito, vai toucinho, calabresa, entre outros; agora, o problema é que está um pouquinho caro”, diz.

Rosemeire, além de trabalhar na feira da Pedreira com a venda de farinha de mandioca, aproveita para averiguar os produtos e preços para ir adiantando as compras dos itens. “Alguns produtos tiveram um aumento considerável, principalmente o tucupi. Ali na frente já vi de R$30; mas verificando direitinho, aqui pelo meio, achei de R$15”, observou. E como vendedora, ela garante que a farinha não pode faltar para acompanhar o prato queridinho dos paraenses, que é a maniçoba. “A farinha, lá em casa, é presença garantida. Eu até vou fazer hoje uma de presunto com charque”.