SAÚDE

Pesquisa aponta que 94% dos brasileiros entendem que depressão é doença

Estima-se que 300 milhões de pessoas vivam com depressão no mundo. No entanto, a doença ainda é cercada de estigma e desinformação.

Estima-se que 300 milhões de pessoas vivam com depressão no mundo. No entanto, a doença ainda é cercada de estigma e desinformação. Foto: Freepik
Estima-se que 300 milhões de pessoas vivam com depressão no mundo. No entanto, a doença ainda é cercada de estigma e desinformação. Foto: Freepik

Estima-se que 300 milhões de pessoas vivam com depressão no mundo. No entanto, a doença ainda é cercada de estigma e desinformação. Ou era? Uma pesquisa realizada pela plataforma Hibou mostrou que 94% dos brasileiros já entendem que a depressão é uma doença.

– As pessoas perceberam que não é frescura, não é apenas se mexer, se levantar e fazer alguma coisa. Elas começaram a entender que a depressão paralisa as pessoas. Esse número, sete anos atrás, estava na faixa dos 80%. Os brasileiros estão prestando atenção, se informando, sabem os gatilhos da depressão e entendem que essas pessoas precisam de ajuda – explica Ligia Mello, diretora de estratégia da empresa de pesquisas Hibou Insights, um instituto especializado em comportamento humano que oferece serviços de pesquisas de mercado, análises mercadológicas, insights e planejamento estratégico.

Apenas 5% ainda acreditam que a doença é um estado de espírito ou humor e 6% consideram que é sinônimo de fraqueza.

– A pandemia ajudou muito as pessoas a entenderem a vulnerabilidade e a finitude da vida. Antes o brasileiro achava que só se morria por acidente de carro, bala perdida, assalto, ou idade avançada, e percebemos que não é bem assim. O principal é continuar falando, mostrando que essa doença está próxima e latente na maioria das pessoas para cada vez mais desmistificar essa situação – avalia Mello.

A pesquisa também revelou os principais motivos que levaram as pessoas a um quadro depressivo: a dificuldade financeira ou de ascensão profissional lidera, com quase 70%; seguida por falta de perspectiva econômica e desemprego (60%).

O excesso de trabalho e estresse, além da falta de perspectiva de vida (ambos com 53%), coincidentemente são as mesmas motivações que levam as pessoas a tentar tirar a própria vida, segundo a pesquisa.

Em relação a 2023, por exemplo, houve um aumento de 8% no número de pessoas que responderam que o motivo principal que levou a pensarem em suicídio foi não corresponder às expectativas da família/amigos. E 6% a mais responderam problemas com dívidas.

– Vinte e oito por cento das pessoas afirmaram que não se sentem correspondentes à expectativa da família ou dos amigos. Os jovens, principalmente, estão aflitos em cumprir a expectativa que os outros criaram. Acredito que isso é um pouco do excesso de esperança que o brasileiro tem. Aquele lema de não desistir nunca. Sempre acreditamos que tudo vai dar certo no final, mas não é bem assim. Depois vêm a frustração, a tristeza extrema por não ter conseguido alcançar aquele objetivo, e o quadro depressivo – afirma Mello.

A pesquisa também mostrou que houve aumento entre os brasileiros que perceberam sinais em pessoas que não estavam bem. Cerca de seis em cada dez já identificaram sintomas depressivos nos amigos.

Mais de 80% aconselharam essas pessoas a procurarem ajuda, com 90% das pessoas afirmando que psicólogos e psiquiatras eram os melhores caminhos para um tratamento.

– A psiquiatria no passado não era uma ciência como a vemos hoje. Ela era extremamente estigmatizada. As pessoas acreditavam, e muito por conta de filmes, novelas de antigamente, peças de teatro, que era coisa de “louco”. O foco da psiquiatria hoje é reintegrar o indivíduo à sociedade o mais rapidamente e assertivamente. Antes, tinha um isolacionismo e apartava esse paciente da sociedade – explica o psiquiatra Arthur Danila, coordenador do Programa de mudança de hábito e estilo de vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Entretanto, segundo o médico, a maior parte das pessoas ainda sofre calada, sozinha e sem saber pedir ajuda por conta do medo do julgamento social. E isso também transparece nos dados da nova pesquisa, visto que, 4 em cada 10 pessoas não recorreram à ajuda especializada em momentos de crises depressivas ou pensamentos suicidas.

– Pedir ajuda é um ato de extrema coragem. Mostra maturidade e autoconhecimento. É mais fácil você enxergar o problema no outro e oferecer ajudar do que aceitar e perceber que você mesmo precisa. O ser humano tem essa crença de que conseguirá resolver seus problemas sozinho.

Foto: Divulgação

A pesquisa também mostrou que as pessoas estão se sentindo mais cansadas este ano (84%), estressadas (80%) e esquecidas (81%). Segundo Danila, isso tem a ver com a ansiedade.

De acordo com um mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Para se ter uma ideia, aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica.

– Em momentos de inseguranças e incertezas, as pessoas tendem a ficar mais ansiosas e apreensivas. Na tentativa de ter controle da situação e resolver todos os problemas de suas esferas sociais, podem ficar agressivas. Com isso, tendem a gastar muita energia, não conseguem focar sua atenção, não resolvem nenhum problema e acabam se queixando de que esqueceram das coisas – explica o psiquiatra.

É importante que o paciente com sintomas de depressão busque ajuda imediatamente porque, se não tratada, a doença pode ser grave. Além disso, um médico ou psicólogo poderá realizar o devido diagnóstico e diferenciar um desânimo comum do quadro que interfere na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida de forma geral.

*Os sintomas observados por alguém próximo

  • 33% ficou mais silencioso que o normal
  • 30% Desinteresse de forma geral
  • 29% Se afastar de interações sociais
  • 17% Dormia muito
  • 11% Postou sobre coisas relacionadas ao momento
  • 11% Buscou se automedicar para se sentir melhor
  • 11% Ficou sem tomar banho por vários dias
  • 9% Conversas repetidas sobre o tema
  • 6% Falou, buscou conversar com alguém
  • 6% Ficou mais eufórica que o normal

Texto de: Eduardo F. Filho (AG)