UNIÃO

Círio de Nazaré: Arte em gesso celebra amor entra filha e pais

O responsável pela arte é Lucas Freitas.

 Fotos: Antônio Melo
O responsável pela arte é Lucas Freitas. Fotos: Antônio Melo

Se ajoelhar, cruzar as mãos e olhar para o céu. Os gestos descrevem o agradecimento de muitos devotos a Nossa Senhora de Nazaré. E para eternizar esse momento, em uma residência localizada no bairro Castanheira, em Belém, a fé e a arte se entrelaçam. Isso porque a administradora Carmen Machado moldou as mãos dos seus pais e as suas em gesso.

“Nos últimos anos passamos por momentos difíceis na família. O meu pai teve um AVC e, em 2023, perdeu grande parte da mobilidade. Hoje somos somente minha mãe e eu para cuidar dele, então venho tendo que renovar a minha fé diariamente, buscando forças da mãe que está no céu. E a santa atendeu a esse meu clamor através das inúmeras memórias que já tive com eles ao longo da vida, e garantiu que o nosso amor fosse eternizado”, contou Carmen Machado.

A arte possui os formatos e traços das mãos dos pais Terezinha Machado e Oswaldino Machado, e Carmen Machado, filha do casal e idealizadora da homenagem. Para complementar o molde das mãos, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi incluída na parte da frente.

“Esse pedestal representa a união de nós três, no cuidado diário. Mas também é uma forma de devoção, agradecimento e amor por Maria. O catolicismo foi algo passado de geração para geração, criando uma memória afetiva que dura até hoje. Estamos sempre de mãos dadas com a Santíssima através da oração do terço, as nossas mãos pedindo as bênçãos de Nossa Senhora de Nazaré pela saúde do meu pai. Então, não existia outro santo que eu pudesse colocar, senão Nossa Senhora”, afirmou a administradora.

A conclusão da obra foi um verdadeiro desafio. De acordo com Carmen Machado, o seu pai teve que ser internado às pressas dias antes do trabalho ser iniciado, mas com a perseverança do artista, o trabalho foi concluído. As mãos em gesso, delicadamente moldadas, agora ocupam um lugar de destaque na sala da família, servindo como um constante lembrete do amor e dos laços que os unem.

Foto: Antonio Melo

O responsável pela arte, Lucas Freitas, se emocionou com o pedido da confecção da peça. “Já fazíamos moldes em tamanho real, mas só havíamos feito de recém-nascidos, crianças e famílias, nunca com esse histórico tão forte de fé. Foi emocionante”, disse. A escultura é feita com técnica indolor e antialérgica e as peças saem em tamanho real, preservando todas as características da área do corpo escolhida.

A empresa “Moldes Memoráveis” é gerenciada pelo casal Camila Miranda, enfermeira, e Lucas Freitas, funcionário público. Os dois também são artesãos e estão há 3 anos na capital “personalizando lembranças”, como dizem.

A mão moldada em gesso é um tributo à memória e conexão familiar. E, como de se esperar, Terezinha Machado, de 83 anos, e Oswaldino Machado, de 95 anos, os pais de Carmen Machado, se emocionaram com a proposta da filha. “Eu não sabia de nada. Foi uma surpresa quando ela me pediu para fazer isso, me senti muito honrada. Depois eu só via as fotos e os vídeos chegando, um mais bonito do que o outro”, relatou Terezinha.

E compartilha que a obra representa um elo eterno, uma forma de celebrar o amor que os une. Pois foi na simplicidade do gesto que encontraram uma profunda lição sobre a importância de valorizar e eternizar os momentos que realmente importam, algo que compartilha há 57 anos com o Oswaldino e pretende levar adiante.

“A fé tem relação com confiança e a minha cresce a cada dia. As mãos são símbolos do nosso trabalho e do nosso carinho. Essa obra é uma forma de deixar a história da nossa família registrada. É um gesto lindo. Sempre nos esforçamos para criar um lar cheio de amor e agora temos uma lembrança física disso. Vou olhar para essa mão e lembrar de todos os momentos que vivemos juntos, eu amei cada detalhe, especialmente os dedos enrugados”, concluiu.