Nem a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), nem o soco desferido por um assessor do ex-coach no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB) foram capazes de desfazer o cenário de equilíbrio na eleição de São Paulo. Mesmo a rejeição aos candidatos, que vinha escalando desde o início do mês, agora dá sinais de estabilização – ainda que em um patamar elevado.
Pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Datafolha mostra que o atual prefeito e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) seguem disputando palmo a palmo a liderança, ao mesmo tempo em que indica resiliência de Marçal, personagem central dos dois episódios de violência, na perseguição à dupla.
Nunes se manteve com os mesmos 27% de intenções de voto de uma semana atrás, enquanto Boulos variou um ponto para baixo e foi a 25%. O psolista está tecnicamente empatado com o candidato à reeleição, e empata também, desta vez no limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, com Marçal, que tem 21% (ante 19% de sete dias atrás).
O segundo pelotão é encabeçado numericamente por Tabata Amaral (PSB), que variou de 8% para 9%. Datena se manteve com os mesmos 6% das duas últimas semanas, e Marina Helena, do Novo, tem 2%. Brancos e nulos reúnem 6% dos eleitores, e outros 3% se dizem indecisos.
A pesquisa foi feita de terça a quinta-feira e é a primeira a captar as reações ao último debate entre os candidatos, realizado na segunda pelo Grupo Flow. Foi nessa data que, nove dias após ter sido agredido por Datena, Marçal acabou expulso por descumprir as regras do programa e viu um de seus assessores ir para a delegacia por ter dado um soco no marqueteiro Duda Lima, da campanha de Nunes.
A oscilação positiva do candidato do PRTB no Datafolha é acompanhada por amostras de fidelidade daqueles que aderiram à sua campanha, embora o conjunto das últimas pesquisas indique que a postura agressiva de Marçal não tem ajudado o ex-coach a atrair novos eleitores.
Aliados avaliam que o episódio do soco não afetou a campanha, já que não envolveu Marçal diretamente, como no caso da cadeirada. O entorno do candidato confia que há um “voto envergonhado” que hoje é creditado a Nunes ou registrado como indecisão e que em frente às urnas se converterá em apoio ao ex-coach.
Marçal é o nome mais rejeitado em São Paulo, onde 48% dizem não votar “de jeito nenhum” no candidato do PRTB, taxa que era de 47% na semana passada. Boulos (38% de rejeição) e Nunes (21%) se mantiveram com os mesmos percentuais de sete dias atrás.
O fato de a rejeição a Nunes ser menos aguda que a manifestada pelos eleitores aos seus principais adversários ajuda a explicar os resultados das simulações de segundo turno. O prefeito venceria Boulos e Marçal em confrontos diretos, enquanto o psolista superaria o ex-coach.
O candidato à reeleição vem se segurando em meio à escalada dos ataques de seus adversários e é quem mais se beneficia da estagnação de Marçal, com quem disputa o eleitorado de direita. Ambos hoje empatam entre aqueles que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, mas o candidato do PRTB é mais abraçado pelos eleitores que de fato se declaram como bolsonaristas, grupo que corresponde a cerca de um quinto dos paulistanos aptos a votar. Nesse segmento, Marçal avançou de 41% para 48%, superando os 39% que preferem Nunes.
– O importante é que eu tenho uma baixa rejeição. Quando a gente tem baixa rejeição, você sempre tem espaço para crescer. Com alta rejeição, que é o caso dele (Marçal), é que você não tem possibilidade de crescimento – avaliou Nunes ontem, em evento na Faria Lima.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos principais cabos eleitorais da campanha de Nunes, diz que a rejeição impõe um “teto baixo” para Marçal, e que “está cada vez mais claro quem vai estar no segundo turno”:
– A gente tem os votos já se cristalizando. O canal para (Marçal) caminhar é muito pequeno. E começa a se configurar de fato quem vai para o segundo turno. Está cada vez mais claro. A gente tem uma tranquilidade muito grande de que o Ricardo é aquele que vence o Boulos, é aquele que vence o outro candidato.
A “cristalização” dos votos ainda não é realidade para cerca de um terço dos paulistanos. São 32% os que admitem a possibilidade de mudar de ideia até o dia da eleição. A taxa geral é exatamente a mesma verificada entre os eleitores de Nunes, enquanto 28% dos apoiadores de Marçal admitem que ainda podem mudar de ideia. Os eleitores de Boulos se declaram mais irredutíveis, com só 21% declarando ser possível trocar de opção até a hora do voto.
A hesitação é mais comum entre os eleitores de Tabata (47%) e Datena (56%), o que dá a esses grupos o potencial de desequilibrar a balança para o lado de um dos três nomes que hoje estão mais bem colocados na disputa por um lugar na votação de 27 de outubro. Nunes é o nome mais citado como segunda opção de voto (para 24%), seguido por Boulos (16%).
A campanha do candidato do PSOL ainda não o viu extrair tudo o que pode de sua relação com o presidente Lula. São 48% dos eleitores que votaram no petista em 2022 os que declaram apoio ao deputado para a prefeitura, taxa que não se moveu em duas semanas. Num cenário de disputa entre Boulos e Nunes no segundo turno, cerca de um terço dos lulistas (30%) preferem o prefeito ao deputado federal.
Boulos precisou viajar a Brasília algumas semanas atrás para gravar propaganda com o presidente, e teve planos frustrados para este fim de semana, quando pretendia caminhar ao lado de Lula em bairros periféricos das zonas Leste e Sul. O presidente, recém-chegado de uma viagem a Nova York, cancelou a agenda.
– Eleição é igual a jogo do Corinthians, só se define aos 48 do segundo tempo. Ninguém canta vitória antes da hora, não pode ser assim – disse ontem o candidato, durante carreata na Zona Leste.
A pesquisa foi contratada pelo jornal “Folha de S.Paulo” e está registrada sob o código SP-06090/2024.
Texto de: Nicolas Iory. Colaboraram Samuel Lima, Hyndara Freitas e Matheus de Souza (AG)