Investimentos na Central de Monitoramento Eletrônico da Seap diminuem custos no sistema penal

Medida também ajuda na reinserção social dos custodiados

Investimentos na Central de Monitoramento Eletrônico da Seap diminuem custos no sistema penal

A Central Integrada de Monitoramento Eletrônico (Cime), da Secretaria de Administração Penitenciária do Pará (Seap), desempenha um papel estratégico dentro do sistema penal estadual. A Central é responsável pelo monitoramento de cerca de quatro mil pessoas privadas de liberdade, e sob monitoramento de tornozeleiras eletrônicas.

A Seap explica que o monitoramento eletrônico surgiu como medida alternativa à prisão, com a aprovação da Lei nº 12.258 de 2010. O procedimento é autorizado pela Justiça para casos de saída temporária de custodiados do sistema penal que cumprem pena no regime semiaberto ou para casos em regime domiciliar. A Lei estabelece os cuidados que o apenado deve ter com os equipamentos, e os deveres a serem cumpridos. Um dos objetivos do monitoramento é evitar a superlotação das unidades penais.

Maior reinserção social e menor custo para o sistema penal

O monitoramento, destaca a Seap, é  considerado “uma alternativa mais humanizada que permite maior reinserção social da pessoa privada de liberdade, além disso, o custo para manter uma pessoa monitorada é oito vezes menor que manter uma pessoa presa em uma unidade penal. 

No Pará, o equipamento começou a ser utilizado a partir de 2014 com a criação do então denominado Núcleo Gestor de Monitoramento Eletrônico (NGME), que iniciou suas atividades monitorando apenas 100 PPl’s, hoje são cerca de 4 mil custodiados sob monitoramento.

A CIME também é responsável pelo recolhimento de assinaturas de outras 2.700 pessoas que receberam o benefício do livramento condicional. O livramento condicional consiste na antecipação da liberdade plena ao condenado, de caráter não definitivo, decretada pelo judiciário após o cumprimento de parte da pena, concedida pelo juízo das execuções criminais, quando preenchidos os requisitos legais de ordem objetiva e subjetiva, ficando o sentenciado sujeito ao cumprimento de certas obrigações.

A cada três meses, quem recebe esse benefício previsto em Lei, precisa se apresentar e assinar a documentação necessária durante o período da custódia até a liberdade definitiva. Dessa forma, deve comparecer à CIME, que figura como especialista e autorizada em desenvolver ações no âmbito de monitoração eletrônica e é responsável pela vigilância e acompanhamento de quase 7 mil pessoas monitoradas.

Investimentos

O governo do Estado investe fortemente na estrutura da CIME. Entre o ano de 2019, quando a Seap foi criada, até junho de 2024, o governo estadual investiu mais de 24 milhões de reais em tecnologia, equipamentos e na formação dos servidores. Investimentos que asseguram melhores condições de trabalho para o policial penal e ajudam nas ações da política de desencarceramento no Pará.

Para o diretor da Central, Tenente-coronel PM Erik Taylor Felix da Silva, a Cime é a unidade penal com a maior população de fiscalizados do sistema penitenciário do Estado. Ele completa afirmando que a vigilância sobre as pessoas monitoradas é constante, e ocorre 24 horas por dia.

O Tenente-coronel Erik explica que o sistema de fiscalização funciona através de georreferenciamento (GPS) que utiliza sinal de telefonia celular.

O sistema atualiza a localização do monitorado a cada 30 segundos, desde que a tornozeleira esteja carregada, e em rede de internet. São as redes de 3G ou 4G que permitem o funcionamento do sistema de localização via satélite, permitindo o acesso referente ao rastreamento de trânsito do monitorado, contendo o mapeamento da área percorrida junto ao sistema de monitoramento eletrônico.

O diretor destaca ainda que a medida de monitoramento substitutiva do encarceramento permite que o sistema promova a efetiva reinserção social, e reduza a lotação intramuros de Pessoas Privadas de Liberdade.

“São doutrinas e regulamentos de instituições do Poder Executivo e do Poder Judiciário nacional que disciplinam as regras e etapas a serem realizadas pelas centrais de monitoramento das unidades federativas, então a responsabilidade é imensa, mas o trabalho é gratificante quando cada integrante entende sua importância nessa engrenagem funcional, é melhor quando vemos a colaboração recíproca e comprometimento dos servidores, o resultado é o melhor possível para a sociedade”, garante o diretor.

Estrutura

O Tenente Erik conta que a sede do Cime, no bairro de Batista Campos, em Belém, tem atualmente 97 servidores, entre assistentes administrativos, agentes penais, motoristas, gerentes, auxiliares, coordenadores e policiais penais que ingressaram no quadro estadual a partir de 2019.

Esse efetivo está distribuído em quatro pontos da região metropolitana: na Cime sede; no Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop); no Cime Frei Gil e no Cime Santa Izabel.

Há ainda os Núcleos da Cime no interior em municípios como Marabá, Santarém, Altamira e Paragominas. “O efetivo está bem distribuído, foram realizadas instruções, e estamos em constante alinhamento das atribuições, e tudo isso otimizou o trabalho”, afirma o diretor.

O Tenente-coronel Erik informou que, este ano, o governo do Pará já entregou à Central, notebooks, tabletes, telefones celulares, computadores de mesa e impressoras, além de equipamentos e sistema de monitoramento. A Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) também doou no mês de julho cerca de 380 câmeras através de convênio com a Seap.

A Seap informa que o trabalho conjunto com o Grupamento de Busca e Recaptura (GBR) é fundamental para eficiência do monitoramento eletrônico. A atuação da Cime se completa com o apoio do Grupamento, uma força da Seap especializada na busca e recaptura de foragidos e no cumprimento de mandados de prisão.

O diretor da Cime explica, ainda, que o dispositivo emite constantes sinais luminosos ou vibratórios para os monitorados através da tornozeleira eletrônica, e caso o fiscalizado não corresponda ao chamado da Central, é feita a tentativa de contatá-lo por ligação telefônica. Se isso não ocorrer, tenta-se o contato presencial.

Simultaneamente, a CIME envia um ofício de violações para o juízo competente e instaura-se na unidade penal a ocorrência de violação para apuração da suposta falta. Cabe ao sistema judiciário decidir sobre a medida a ser aplicada, caso se comprove a irregularidade, o custodiado pode receber uma repreensão ou mesmo a regressão do regime, com a expedição de mandado de prisão.

Nesse contexto, aciona-se também o GBR, que recebe da Central o levantamento de informações sobre localização e violações do monitorado e repassa ao Grupamento para o desenvolvimento das ações necessárias. 

Aprovação 

O sistema de monitoramento tem a aprovação dos próprios custodiados que recebem da Justiça a determinação do uso da tornozeleira eletrônica no cumprimento do restante da pena. J. R., de 41 anos, ficou seis meses sob monitoramento e diz que o sistema é melhor do que o regime fechado. Ele trabalha na área da construção civil e acrescenta que ficar com a família, poder sair e trabalhar, garantir seu sustento, também são fatores que o monitoramento eletrônico permite.

“A vantagem é que a gente pode estar na rua, apesar de estar monitorado, mas a gente está na rua, trabalhando. É um privilégio porque você está na liberdade. Você não está encarcerado, não está no privado. Você está em liberdade, isso é muito importante. O acolhimento da família, a gente se reintegrando na sociedade”, conclui.