CINEMA

Rebel Ridge: Feijão com arroz brucutu

Pequeno filme de ação da Netflix se destaca no streaming por trama simples, ação desenfreada e elenco que lembra cults dos anos 80

Don Johnson e Aaron Pierre: “Amigo, você é grande mas não é dois. Foto: Divulgação
Don Johnson e Aaron Pierre: “Amigo, você é grande mas não é dois. Foto: Divulgação

A Netflix, ainda movida pelos algoritmos, continua sua estratégia (até então de sucesso, infelizmente) de despejar centenas de conteúdos mensalmente na sua plataforma, diluindo expectativas e produzindo em escala industrial, o que torna difícil encontrar algo minimamente decente para se assistir no maior streaming do mundo. Felizmente, de vez em quando, a empresa acerta.

É o caso de “Rebel Ridge” (2024), um filme pequeno de ação que está fazendo sucesso na plataforma, por sua premissa simples, direta e bem trabalhada, contando com um diretor competente por trás. Não tem nada de original na história de um ex-fuzileiro naval americano que se vê no meio de um esquema de corrupção e violência envolvendo autoridades. Como se vê, é algo já batido no cinemão americano (“Rambo”, “Reacher”, etc.).

O que se destaca na nova produção é entender isso e fazer o feijão com arroz com algum tempero, sem perder tempo com firulas ou falsas complexidades. Desde os primeiros minutos, você já entende quem são os personagens e o que deve ocorrer. O diretor Jeremy Saulnier (do ótimo “Sala Verde”) investe, então, nos conflitos e atitudes do personagem principal, Terry Richmond (Aaron Pierre, que consegue impor sua presença em cena pelo vozeirão e tamanho), que é abordado e roubado violentamente pela polícia em uma pequena cidade americana e corre contra o tempo para recuperar o dinheiro e salvar o primo da prisão – o valor roubado era para pagamento de fiança.

Aos poucos, vamos entendendo as características e motivações do personagem, importante para que o espectador possa se importar com o seu destino em meio a caçada que lhe é imposta. Curioso ainda que o roteiro, também de Saulnier, consegue inserir conceitos como o fato da burocracia excessiva favorecer os corruptos, sem tornar a experiência maçante.

Outra decisão acertada do diretor foi investir em um elenco quase desconhecido. Pierre tem poucas produções no currículo, mesmo sendo o protagonista, e os dois únicos nomes conhecidos são AnnaSophia Robb (“A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Ponte para Terabítia”) e Don Johnson (“Miami Vice”), ótimo como um delegado crápula, mas covarde.

“Rebel Ridge” é a prova que os filmes de ação não precisam ser superproduções ricas e cheias de firulas para dar certo. Mas investir em uma boa história e bom ritmo, como as produções dos anos 1980, que mesmo cheias de defeitos, divertiam dentro da sua simplicidade. O público do final de semana agradece.