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Márcio Fernandes garante Paysandu "jogando para cima"

Tylon Maués

Num caso raro no futebol brasileiro, a comissão técnica do Paysandu ficou no cargo mesmo não chegando ao principal objetivo do ano, o acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro. Mesmo assim, o técnico Márcio Fernandes teve o contrato renovado e o elenco já foi reformulado. Há a óbvia confiança no trabalho por parte da diretoria do clube. Há também a aposta de que o trabalho pode levar o clube onde ele espera estar.

Em 2022, o Paysandu chegou à final do Campeonato Paraense e foi campeão da Copa Verde pela terceira vez, o que garantiu uma quota substancial com a classificação imediata para a terceira fase da Copa do Brasil deste ano. Mas o fracasso na fase decisiva da Série C é uma lembrança dolorosa para a Fiel, ainda mais pela campanha até então.

O Papão nadou de braçadas durante a primeira fase da Terceirona, liderando e se classificando sem sustos, tendo a Curuzu como seu grande trunfo. Mas a derrota em casa para o Floresta-CE, na última rodada da primeira fase, parece ter sido um aviso do que estaria adiante. Não é que o time simplesmente tenha caído de produção, ele travou nos momentos decisivos e foi presa fácil aos adversários.

Na primeira entrevista que deu após a reapresentação em 2023, Fernandes lamentou esse apagão que pode ter sido também mental. Na ocasião, ele não descartou a presença de outros profissionais trabalhando na comissão técnica, como um psicólogo que converse regularmente com os jogadores. “Cometemos alguns erros que não foram normais durante o ano todo. Se fosse algo que já tivéssemos presenciado antes, estaríamos melhores nesse quesito”, comentou o treinador, que aposta no elenco novo e num trabalho melhor ainda. “Agora é um grupo novo, vamos ficar mais atentos, talvez trazer um profissional da área para fazer um time mais sólido e ter mais equilíbrio”.

APRENDIZADO – Fernandes reforçou a comissão técnica e vem montando um elenco com experiência internacional, inclusive. São três jogadores estrangeiros – um venezuelano, um colombiano e um paraguaio – e houve uma diminuição na média de idade na Curuzu. O elenco atual tem uma média que não chega a 28 anos.

Para o treinador, o aprendizado tem que ser principalmente para os momentos decisivos de um campeonato. “Não podemos errar como erramos. Erramos muito e deixamos de conseguir o acesso”, disse ele no início do ano. Fernandes vem repetindo sempre sobre a necessidade de ser mais letal, transformar as chances criadas em gols. E o Paysandu criou muito, desperdiçando mais ainda.

Para o ataque, o Paysandu contratou Alex Matos, Bruno Alves, Mário Sérgio, Stéfano e Vicente, que se juntaram a Dalberto, Dioguinho e Roger, garoto da base promovido ao elenco principal.

A permanência por mais um ano foi classificada por Fernandes como a certeza da direção nos rumos traçados pelo treinador. “Às vezes, quando se contrata, se faz por um modismo. O cara foi bem ali e tudo mais, mas não condiz com o que a diretoria está pensando. Nós viemos para cá e isso mostra que a diretoria tinha convicção do que estava contratando”.

P – O Paysandu chega mais forte em 2023 por ter uma base maior que no ano passado e pelos ensinamentos da reta final da Série C?

R – Já comentei sobre isso em outras oportunidades. Não ficamos com uma base tão grande assim. Do time titular foram apenas quatro titulares, Thiago Coelho, Genilson, Naylhor e João Vieira. O elenco foi remontado mais uma vez e espero que esse entrosamento chegue o mais rápido possível. Mas entendo que precisamos de tempo para isso. Pode acontecer rápido, mas isso geralmente demanda tempo.

P – O que já deu para notar entre as diferenças do elenco do ano passado e o atual? É mais experiente, é mais técnico, é mais forte?

R – Ouvi alguns comentários que nosso time com o elenco que está sendo montado está ficando velho. Mas, hoje, o elenco tem uma média de idade de 28 anos, então isso não é verdade. Ano passado tínhamos jogadores experientes e esse ano também, assim como muitos atletas jovens. Não vejo isso como um problema.

P – Pessoalmente, revisitando o final da Série C, você acha que faltou algo da parte da comissão técnica, alguma mudança ou cobrança a mais que poderia ter sido feita?

R – Quando o resultado não vem e o objetivo maior de uma temporada não é alcançado, como o que aconteceu conosco, isso mostra que todos os setores devem melhorar. Faltou um pouco a mais de todos, o que infelizmente é normal no futebol. Temos que melhorar em todos os quesitos para que a equipe seja mais forte ainda tecnicamente, fisicamente e mentalmente para chegarmos aos nossos objetivos.

P – A torcida teve uma boa identificação com teu trabalho, em especial pelo fato do time sempre buscar o jogo. Ela pode esperar essa mesma característica com o elenco atual?

R – Esse é o perfil do meu trabalho, sempre foi assim. Sempre busquei um futebol ofensivo nos outros clubes por onde passei, com uma equipe que gosta de jogar com a posse de bola e vai para frente buscando sempre vencer. Isso não vai mudar. Os jogadores que estão chegando é para compor um time nesse perfil ofensivo. Vamos continuar jogando para cima.

P – Desde sua fundação, o Paysandu nunca teve um elenco com tantos estrangeiros. O que essa cultura diferente traz de benefícios ao time?

R – Em se tratando de jogadores estrangeiros, o que a gente vê muito no futebol de outros países da América do Sul é muita garra e entrega em campo. Acho que isso agrega demais ao nosso futebol, à nossa maneira de jogar. A torcida do Paysandu gosta disso, de um time aguerrido e com garra que busca sempre a vitória. Quem chegou com certeza vai nos ajudar muito.

P – Você vai para a segunda temporada no Paysandu, além de ter sido jogador do clube. Qual a importância do clube em sua vida hoje em dia?

R – Colocando em uma palavra tudo o que o Paysandu significa para mim é “gratidão”.