As colisões no trânsito foram as principais causas de atendimento entre janeiro e agosto deste ano no pronto atendimento do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), em Ananindeua, que é referência em traumatologia na Região Metropolitana de Belém (RMB). Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), que lista ainda os acidentes com motos em segundo lugar no ranking, e os atropelamentos em terceiro.
Para além da gravidade dos casos atendidos, que costuma ser muita, a ponto de haver vários óbitos consequentes, o que também preocupa quem atua no atendimento de vítimas é a reabilitação daqueles que conseguem superar todo o tratamento hospitalar – e que costuma ser tão ou até mais importante que os períodos de internação.
“Às vezes, sair do hospital é só o início do processo. Na maioria dos casos, a cirurgia, por exemplo, é 50% do tratamento, mas existem situações em que a cirurgia é 30%, e a reabilitação chega a 70%”, justifica o médico ortopedista Eric Teixeira, que trabalha no HMUE.
A Superintendência de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) ainda está elaborando os dados de 2024 do Relatório Estatístico de Sinistros de Trânsito em Belém, produzido pelo órgão a partir de dados do Departamento de Trânsito do Pará (Detran), mas os dados do ano passado, somadas às informações da Sespa, indicam que o cenário não é de melhora. De janeiro a agosto de 2023 foram registrados 3.541 sinistros de trânsito, resultando em 2.347 feridos e 60 óbitos.
De acordo com o mesmo relatório, colisão entre veículos também foi o tipo de sinistro com maior ocorrência nos primeiros oito meses do anos passado, e a predominância de vítimas dos sinistros, nesse período, foram motociclistas: 1.785 e feridos e 29 mortos.
O profissional da Ortopedia avalia que há dificuldades nas redes municipais de saúde para acesso à fisioterapia e outros atendimentos reabilitatórios, e por vezes também um desinteresse do próprio paciente, que tem dificuldade de assimilar a importância de dar continuidade ao tratamento.
As consequências disso podem mudar drasticamente a qualidade de vida daquele paciente, já que podem resultar em dores crônicas, ou seja, que não tem cura e duram para o resto da vida, rigidez articular e quadros de artrose precoce. “Primeira coisa é, depois da alta, não faltar às consultas. Temos uma taxa considerável de pacientes que não retornam na consulta pós-operatório. É preciso procurar fazer a fisioterapia da forma que foi prescrita e se dedicar mesmo ao tratamento, fazer curativos adequados, praticar a mobilidade do membro conforme orientação médica, porque o paciente sai de alta com as orientações, e tem que seguir”, insiste o ortopedista.
Prevenção é mais barato e garante vidas na Saúde e também no trânsito
O médico entende que a redução de tantas ocorrências de sinistros também passa por uma mudança de conscientização de motoristas e pedestres. “É uma rede entrelaçada, a Medicina, quando trabalhada de forma preventiva, se torna bem mais barata e eficaz. Trânsito é a mesma coisa. Se é trabalhada a prevenção, tem-se menos acidentes, menores taxas de óbito, e aqui chegam muitos em condições graves, que acabam não resistindo. Curitiba (PR), por exemplo, modelo, um dos melhores trânsitos do Brasil, tem uma taxa bem menor do que a nossa. Fraturas expostas lá são eventualidades. Para nós, é uma rotina”, conclui Eric.