A Arco Educação, um dos maiores grupos brasileiros de sistemas de ensino, dono das plataformas SAS, COC e Positivo, fez uma parceria com a OpenAI, norte-americana criadora do ChatGPT, para lançar uma ferramenta de inteligência artificial que adapta conteúdos escolares para alunos com deficiência e transtornos de aprendizado.
A parceria entre as empresas, que será anunciada oficialmente no dia 16, também inclui uma ferramenta para que o professor use inteligência artificial (IA) para corrigir respostas de questões dissertativas e para elaborar planos de aula personalizados.
As informações foram passadas à reportagem por Ari de Sá Cavalcante Neto, fundador e CEO da Arco Educação, cujos sistemas de ensino estão presentes em 10 mil escolas no Brasil, atingindo cerca de 3 milhões de estudantes.
As plataformas do grupo terão acesso às funcionalidades de IA a partir de 2025 uma delas, a Geekie, já começou a utilizar a correção de questões dissertativas.
As ferramentas foram desenvolvidas a partir de uma pesquisa realizada pela Arco com professores. A principal demanda apresentada pelos entrevistados, segundo a empresa, foi a adaptação de conteúdos para alunos com deficiências e transtornos de aprendizagem são 6 milhões no Brasil, 12,8% do total, de acordo com um estudo da Equidade.info, iniciativa ligada à Escola de Educação da Universidade de Stanford.
A adaptação por IA poderá ser utilizada para estudantes com ou sem um diagnóstico formal e um laudo médico, mas que tenham dificuldades observadas pelo professor.
Para que a IA adapte o conteúdo, o professor ou algum profissional especializado designado pela escola, deverá incluir na plataforma uma anamnese do aluno. É um questionário com 23 perguntas, entre elas se o estudante possui diagnóstico e qual é, se acompanha os conteúdos de sua série, se tem compreensão de leitura etc.
Além disso, pode-se incluir na plataforma o chamado documento PEI (Plano Educacional Individualizado), que faz parte do protocolo da educação inclusiva, no qual o professor descreve mais detalhadamente o estudante, suas habilidades e dificuldades e define diretrizes para a adaptação pedagógica de que ele precisa.
O professor, então, seleciona o conteúdo a ser adaptado. Em um exemplo mostrado para a Folha, o sistema de IA adaptou uma questão de biologia do Enem para um aluno com Transtorno do Espectro Autista nível 2 (moderado, que necessita de suporte frequente). A pergunta original tinha um enunciado com 12 linhas e cinco alternativas para a resposta. Na adaptada, se reduziu a três linhas e três alternativas.
O objetivo, que era responder por que as mudanças pelas quais os crustáceos passam em seu desenvolvimento são positivas para a espécie, se manteve com a adaptação.
“Na versão adaptada, ainda estamos falando de biologia, de crustáceos, mas a questão está mais simples. O aluno não fica excluído do tema da aula, ele participa da discussão”, disse Mariana Penido, engenheira responsável pelo projeto, que teve a participação de profissionais especializados em educação inclusiva.
“O professor pode baixar essa adaptação e editar, fazer ajustes. É um começo para que ele economize tempo, mas a adaptação passa por sua análise e senso crítico.”
FERRAMENTA É PONTO DE PARTIDA, MAS PRECISA DE CONTROLE
Consultada pela Folha, Lilian Feingold Conceição, psicóloga e orientadora educacional que se especializou em inclusão, afirmou que a IA pode ser “extremamente valiosa” na educação inclusiva, especialmente considerando a falta de uma formação adequada dos professores nessa área. Mas há um outro lado, ela pondera: “Há o risco de alienar o professor e a equipe escolar dessa tarefa, que é pedagógica”, afirma.
Segundo ela, a ferramenta não pode atropelar o professor, mas ajudá-lo. “E os professores precisam receber formação em educação inclusiva, até para saber como alimentar a IA, de forma que ela traga soluções cada vez melhores”, diz a psicóloga, que ressalta: “É preciso ter um controle social para que isso seja usado corretamente. Sendo assim, pode ser um bom jeito de os professores saberem por onde começar”.
Depois da adaptação para alunos com deficiência, a segunda demanda dos professores consultados para o projeto de IA da Arco foi a correção de respostas a questões dissertativas. A terceira foi o desenvolvimento de planos de aula personalizados.
Em todos os casos, o uso da IA é opcional, explica o CEO da Arco, e precisa ser validado ou não pelo professor. “Vemos a tecnologia como uma forma de potencializar o professor, não de substituí-lo”, afirma Sá Cavalcante Neto.
Na versão aberta do ChatGPT, há maneiras de fazer essas operações, mas a ideia, de acordo com o empresário, é que, dentro da plataforma, o acesso fica mais fácil para o professor, uma vez que a IA já terá acesso a uma série de dados sobre o conteúdo de cada série e sobre o desempenho das turmas e dos alunos. A Arco também defende que, dentro de uma plataforma, há mais segurança de dados do que na versão aberta.
Todas as escolas que utilizam as plataformas da Arco são particulares. A empresa não tem contratos ou parcerias com redes públicas de ensino.