Um jogador personifica em especial a pobreza técnica da Seleção Brasileira. Danilo, lateral-direito titular, é um retrato das carências de um time que na maioria das vezes se comporta como bando. Foi assim, por exemplo, no jogo de anteontem contra o Paraguai, em Assunção.
Em várias ocasiões, o Brasil se portava como um time menor, acuado e trêmulo. Nem se pode dizer que foi uma surpresa, pois é situação que já se repete há algum tempo, em edições de Copa América e das Eliminatórias. Desta vez, porém, a coisa adquire contornos muito mais sérios.
O Brasil de Danilo briga com a bola. Cada lance põe por terra miseravelmente aquela lenda que sempre cultivamos de que este é o país do futebol. Se um sujeito distraído entrar no estádio para ver a Seleção jogar, jamais vai acreditar que é detentora de cinco Copas do Mundo.
Todos os movimentos apontam para uma equipe limitada, de baixos recursos e quase nenhuma iniciativa ofensiva. O Brasil tem Danilo como capitão Danilo, um lateral que não apoia o ataque e raramente cruza bola na área adversária.
Somente em times muito depauperados tecnicamente seria possível ver um lateral como Danilo em posição tão destacada – e inútil. Nos torneios disputados no Brasil é possível achar pelo menos uma meia dúzia de alas bem mais capazes de explorar os lados do campo.
Nesse ponto entramos naquele que é o debate principal deste momento soturno do futebol brasileiro: a teimosia da opção obrigatória por jogadores que atuam na Europa, como se fossem todos superiores aos nativos. Não são – e faz tempo já. Os técnicos, a direção da CBF e os empresários preferem pensar diferente. É mais cômodo e lucrativo.
Como os treinadores se recusam a pensar fora do esquadro vigente, a Seleção segue como vitrine para brasileiros que jogam nas principais ligas. Alguns merecidamente lembrados – Vinícius Jr., Rodrygo. A imensa maioria, porém, não merece essa primazia nas escolhas.
Jogadores como Lucas Paquetá, Bruno Guimarães, Gabriel Magalhães e André atuam em times de nível modesto, que praticam um futebol quase sempre encolhido e defensivo. O único titular da Seleção que defende um time inglês de ponta é o goleiro Alisson, do Liverpool.
A insistência com jogadores desse perfil faz crescer o coro por mais oportunidades para atletas que jogam no Brasil. O argumento é forte: aqui pelo menos há competitividade e um grau de dificuldade maior. Em campo, os “estrangeiros” atuam mal e reforçam as críticas.
É pouco provável que esse critério seja alterado até a Copa do Mundo, mas a discussão está posta e ganha cada vez mais terreno. Não é, porém, o único grande problema a ser resolvido na Seleção Brasileira.
A figura do técnico incomoda e divide. Dorival é visivelmente um técnico-tampão, daqueles que chegam quando não há melhor alternativa. Está no mesmo nível de Emerson Leão, Sebastião Lazaroni, Carlos Alberto Silva e Fernando Diniz, um exemplo mais recente.
Os 11 jogos sob o comando de Dorival expõem erros terríveis na escolha de jogadores e falhas inaceitáveis na montagem do sistema tático.
Não há risco de o Brasil ficar fora da Copa, mesmo com o futebol medíocre de hoje, mas é improvável que vá além das quartas de final do torneio – limite auto imposto à Seleção nas últimas duas edições. A conferir.
Joel: aposta real ou apenas cartucho desperdiçado?
O atacante camaronês Joel, de 30 anos, foi apresentado pelo clube dois dias antes da demissão do técnico Hélio dos Anjos. Mesmo sem as condições ideais para jogar, acabou entrando nos minutos finais da partida com o Amazonas, na Curuzu, participando de duas jogadas apenas.
Foi claramente uma opção desesperada em jogo que podia complicar ainda mais as coisas, como de fato complicou. Entrou no lugar de Nicolas, que fazia uma atuação discreta. Essa substituição pode se tornar frequente quando Joel estiver fisicamente pronto.
Joel é centroavante de ofício. Foi assim que despontou no futebol brasileiro com as camisas de Coritiba, Botafogo e Avaí, principalmente. Seu último clube foi o Hà Nôi, do Vietnã, onde atuou até julho e marcou 11 gols em 28 jogos nas últimas temporadas.
A contratação de Joel deixou a impressão de uma ação desesperada por um atacante de área, depois que o PSC ficou repentinamente sem um camisa 9 para chamar de seu. O grande ponto de interrogação é se o camaronês é ainda um jogador decisivo e à altura das exigências da Série B.
Sob o comando de Márcio Fernandes, Joel terá certamente a oportunidade de provar utilidade e de brigar por um lugar no ataque.
Dívidas astronômicas não inibem contratação milionária
Em tempos de aquecidas resenhas em torno do fair play financeiro no futebol brasileiro, provocadas pelos vertiginosos investimentos da SAF Botafogo, desperta espanto geral a ousada contratação do astro Memphis Depay pelo Corinthians, anunciada e concretizada em tempo recorde.
Com direito a um ritual de apresentação digno dos grandes astros, com desembarque em grande estilo, o Corinthians montou uma cerimônia de gala de entronização do atacante holandês para os milhares de torcedores presentes ao jogo com o Juventude pela Copa do Brasil, ontem à noite.
Pouco se discutiu se Depay será um reforço de fato para o time, que patina nas últimas posições da Série A. Entre a surpresa pela audácia e as muitas dúvidas quanto à sustentação financeira para bancar a transação, boa parte da mídia esportiva preferiu não se indispor com a massa corintiana.
A essa altura, pouco vai importar se o endividado Corinthians vai conseguir pagar os salários astronômicos de Depay – custo mensal calculado em R$ 3 milhões. Por enquanto, a badalação é toda em cima do candidato a ídolo.
A ausência de críticas contundentes só confirma que a tal preocupação com fair play financeiro é pura potoca, mero esperneio diante da ascensão do Botafogo.