As queimadas que vêm sendo registradas em diversas cidades brasileiras, no Pará inclusive, não estão apenas prejudicando plantações, a sobrevivência de animais e até cronogramas de voos comerciais. Pneumologistas já alertam para a possibilidade de danos à saúde a curto, médio e longo prazo, principalmente para quem já possui comorbidades ligadas ao sistema respiratório.
A médica Marília Pinheiro atenta para o fato de que em São Paulo, por exemplo, a fumaça já alcança mais de seis mil fazendas em mais de 300 municípios. A capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, está com ar dez vezes mais poluído do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda. E Belém, segundo ela, não está longe desta realidade, visto que tem amanhecido com o céu encoberto por fumaça há alguns dias.
“Uma exposição grande a esse tipo de fumaça, dessas queimadas, afeta tanto a saúde do indivíduo saudável como das pessoas que já têm comorbidades, como os pneumopatas, as pessoas que possuem asma, que possuem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), os cardiopatas, quem tem insuficiência coronariana, quem tem insuficiência cardíaca, quem já infartou. E também os grupos etários, sendo os mais atingidos os idosos e as crianças”, detalha a pneumologista.
Marília explica que o grande problema dessa fumaça não são apenas os gases que se encontram nela – dióxido de carbono, monóxido de carbono -, mas principalmente o material particulado. Quanto mais finas forem essas partículas, mais facilmente a pessoa inala, e isso desencadeia no organismo um processo inflamatório intenso. Daí o risco maior de infarto, derrame, de exacerbação de doenças pulmonares prévias, de infecções.
“A fumaça desses incêndios tem a característica desse particulado ser muito fino, então ele penetra muito, chegando lá nos alvéolos, chegando na circulação, então esses grupos de riscos, além das crianças e idosos, gestantes também, estão em maior risco, assim como quem trabalha ao ar livre, exposto o tempo todo”, confirma.
A curto prazo, os efeitos dessa exposição se manifestam em forma de irritação dos olhos, conjuntivite, nas áreas superiores pode aparecer uma faringite, laringite, inflamação pulmonar como bronquites, crises de asma, DPOC para quem já tem, e também aumentam os riscos de infecções respiratórias.
“Além de descompensar também a insuficiência cardíaca, arritmia, ter maior chance de infarto agudo do miocárdio. Logicamente há um aumento de internações nessas pessoas que já têm comorbidade. Existem vários trabalhos mostrando que as pessoas que têm cardiopatia, pneumopatia, elas, em momentos quando está mais poluído, internam mais e o risco de óbito também aumenta”, alerta a médica.
É possível amenizar os efeitos das queimadas mantendo os imóveis de portas de janelas fechadas, mas ao mesmo tempo garantindo que haja uma climatização adequada a fim de que não se alcance uma temperatura muito alta. E para isto, são recomendados aparelhos de refrigeração e circulação de ar, que devem ter os filtros higienizados com mais frequência.
“Grande problema são pessoas que não tem esses equipamentos e aí então, nessas famílias de baixa renda que não têm esses dispositivos, eles vão ter que, de tempos em tempos, abrir janela e porta para poder melhorar, diminuir um pouco essa temperatura que está muito alta dentro de casa, mas se expondo a esses poluentes”, lamenta.
Exercícios físicos de intensidade a partir de moderada em ambiente aberto onde há cheiro de queimado também devem ser evitados, insiste Marília Pinheiro.
“Esse tipo de atividade provoca hiperventilação e a pessoa respira mais fundo, então pode inalar muito mais e aumenta o risco inclusive de, por exemplo, um infarto durante a prática do exercício”, orienta. Para quem precisa estar nesses locais por questões de trabalho ou por outro tipo de obrigatoriedade, não pode abrir mão de máscaras eficientes, como a N95 e a PPF2. Se for sair de carro, o recomendado também é manter os vidros fechados e o ar condicionado no modo de recirculação. A hidratação em dia também conta muito.
“Quem vai procurar ajuda médica, inicialmente, são os pneumopatas prévios, cardiopatas que vão ter exacerbação de suas doenças de base, também quem tiver muita tosse e dificuldade para respirar é importante buscar avaliação, mesmo não tendo nenhuma condição prévia ou crônica. A exposição a longo prazo pode acarretar DPOC, mesmo em quem não fuma, porque a poluição é causa, bem como de outras doenças em outros sistemas do corpo humano”, conclui a pneumologista.