Eduardo Gonçalves/Agência Globo
Ao tomar posse nesta terça-feira, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, anunciou que já constituiu um grupo de trabalho para analisar a revisão dos casos de sigilos de cem anos impostos pelo governo Bolsonaro. Essa foi uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele afirmou que o governo Bolsonaro fez uso “indiscriminado e indevido” dos sigilos sob o “falso pretexto da segurança nacional”. E que o lema de sua gestão será adotar a transparência como “regra” e o sigilo como “exceção”.
“A partir de hoje, a Lei de Acesso à Informação voltará a ser cumprida. O Portal da Transparência voltará a desempenhar o seu papel. Não há democracia sem um Estado transparente, aberto ao diálogo e ao controle social, onde o sigilo não é a regra”, disse.
Nos últimos quatro anos, o governo Bolsonaro colocou em sigilo documentos como os nomes das pessoas que visitaram a primeira-dama Michelle Bolsonaro no Palácio da Alvorada, as entradas dos filhos do presidente no Palácio do Planalto, o processo instaurado pela Receita Federal sobre o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das rachadinhas e telegramas diplomáticos relacionados à prisão do ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, no Paraguai.
O ministro também disse que irá reexaminar uma nota técnica da CGU que previa punição para servidores pela divulgação de opinião ou crítica sobre assuntos internos do órgão no qual trabalha.
“Não há democracia em um Estado em que há mordaça de servidores. Por isso, anuncio que seja reexaminado no prazo de 30 dias a nota técnica”, afirmou
Sem dar detalhes, ele citou que os dados apresentados pelo governo anterior não eram “confiáveis” e defendeu “transparência e participação” nas instituições. Carvalho ainda afirmou que Lula lhe pediu pessoalmente para priorizar na CGU “o combate à corrupção”.
Promessa de campanha de Lula, a derrubada dos sigilos de cem anos impostos pelo governo Bolsonaro esbarra na Lei Geral de Proteção de Dados. A chamada LGPD, que vigora desde 2020, veda a divulgação de determinadas informações pessoais de cidadãos. Técnicos que auxiliam o petista concluíram que não é possível fazer um “revogaço” e que será preciso analisar caso a caso.
Um caminho seria a divulgação parcial dos documentos, mantendo ocultas determinadas informações, com tarjas. A palavra final fica a cargo da CGU, responsável por garantir os instrumentos de transparência no Executivo federal.
A gestão Bolsonaro costumava usar um artigo da Lei de Acesso à Informação (LAI) para classificar dados como sigilosos. A legislação prevê que uma informação considerada de caráter pessoal, relativa à “vida privada” de alguém, deve ser resguardada por cem anos. Estabelece ainda que informações sensíveis à segurança nacional podem ser mantidas em sigilo por 25 anos.
O novo governo avalia, no entanto, que os critérios usados para amparar essas decisões de Bolsonaro são subjetivos. Eles entendem que grande parte das informações vedadas é de interesse público e, por isso, deveria ser aberta à consulta.