Pará

Não tem calor que faça o paraense abrir mão dessas delícias

Mesmo sob o calor intenso, que muitas vezes ultrapassa os 30 graus e sensação térmica acima disso, o belenense não renuncia ao prazer de saborear as tradicionais comidas típicas da região.

Michel Lago conta que o tacacá virou um hábito semanal. Rafaela (abaixo, à esq.) diz que a iguaria é uma forma de manter viva nossa cultura. Para Aldecy (abaixo, à dir.) nossa culinária é insubstituível
Foto: Antônio Melo
Michel Lago conta que o tacacá virou um hábito semanal. Rafaela (abaixo, à esq.) diz que a iguaria é uma forma de manter viva nossa cultura. Para Aldecy (abaixo, à dir.) nossa culinária é insubstituível Foto: Antônio Melo

Mesmo sob o calor intenso, que muitas vezes ultrapassa os 30 graus e sensação térmica acima disso, o belenense não renuncia ao prazer de saborear as tradicionais comidas típicas da região. Seja no final da tarde, na calçada de uma movimentada avenida ou na sombra de uma árvore, pratos como o tacacá, a maniçoba e o vatapá continuam sendo os favoritos tanto dos moradores locais quanto de turistas. Desafiando o clima quente da cidade, os pontos de comidas seguem movimentados, provando que o calor amazônico é mais um tempero do que um obstáculo para os apreciadores dessas delícias.

O tacacá, servido em uma cuia, combina o sabor forte do tucupi, a goma de mandioca e do jambu, tornando-se um caldo que, paradoxalmente, parece aliviar o calor em vez de intensificá-lo. A maniçoba também tem sua clientela fiel, mas o tacacá é campeão. E, surpreendentemente, conforme Geandra dos Santos, 39 anos, atendente há 20 anos do tradicional Tacacá do Renato, localizado na travessa Pirajá com a avenida Duque de Caxias, no bairro do Marco, a melhor época de venda do alimento é justamente o verão.

“Aqui o movimento não para, nem mesmo nos dias mais quentes. A gente já se acostumou a servir tacacá debaixo do sol escaldante. Começamos a atender às 16h e vamos até às 22h, todos os dias e, em média, são mais de 25 cuias de tacacá e, em seguida, a maniçoba”, relata Geandra, complementando que, aos finais de semana, a venda chega a triplicar.

A relação dos paraenses com essas iguarias transcende a simples alimentação; é uma conexão profunda com a cultura e a tradição. Entre os consumidores, o sentimento é de que esses pratos fazem parte do cotidiano, quase como um ritual diário. Michael Lago, 40, diz que a busca pelo tacacá já virou um hábito semanal. “Para mim, é como o açaí. O tacacá virou um costume no final da tarde, uma tradição que envolve toda a família. Mesmo com o calor, não abro mão. A culinária paraense é motivo de orgulho”, expressa Michael, que frequenta o Tacacá do Renato por ser o mais próximo de sua casa.

“No verão, o movimento é maior. Vender tacacá em Belém é mais intenso nos dias quentes. Em média, saem uns 20 a 25 tacacás por dia, e a maniçoba também tem boa saída, principalmente aos domingos”, explica. “Temos clientes assíduos diariamente que vem, se juntam, comem, conversam. É um momento de relaxar e esquecer o calor”, acrescenta.

Insubstituível

No Tacacá da Flávia, localizado na av. Rômulo Maiorana com a travessa Mauriti, também no Marco, Plácido Pereira, 40, gerente do local, reforça a preferência calorosa dos clientes e compartilha que, além de ser um símbolo de identidade cultural, as comidas típicas também desempenham um papel social importante. É nos pontos de venda que muitas pessoas se encontram, trocam histórias e fortalecem laços.

Aldecy Silva, 56. Foto: Antônio Melo – Diário do Pará

O técnico em informática Aldecy Silva, 56, que frequenta desde a infância o Tacacá da Vileta, localizado na av. Duque de Caxias, não tem dúvidas sobre a popularidade desses pratos típicos. Durante a tarde do domingo (1), ele aproveitou para degustar a maniçoba, acompanhada de arroz, jambu e camarão. “Acho que o sabor das nossas comidas é insubstituível. Amo a maniçoba e vou atrás sempre; e gosto acompanhada de outra delícia que não pode faltar, que é o suco de cupuaçu”, revela.

Ainda no Tacacá da Vileta, a atendente Dayse Coelho, 30, destaca que desde itens como tacaranguejo – uma variação do tacacá, só que com a mistura do camarão e patas de caranguejo –, vatacaranguejo, arroz com galinha, arroz paraense, empada e pastel com recheios típicos, “a procura é constante por vatapá e maniçoba”, resultando nas vendas, em média, de 70 a 80 pratos de cada por dia. “E o final da tarde é o horário de pico para os amantes do tacacá ou tacaranguejo, resultando em uma venda de 100 a 120 cuias. As pessoas saem do trabalho e passam por aqui tanto para tomar na hora quanto para levar para casa”, afirma.

Rafaela Santos, 38. Foto: Antônio Melo – Diário do Pará

Para Rafaela Santos, 38, enfermeira que mora nas proximidades, essa tradição é um gosto adquirido e compartilhado culturalmente. Ela, que quando não consegue sentar e apreciar o fim de tarde, não deixa de pedir o alimento ‘para levar’. “Sempre que posso, venho aqui. Se tiver fechado, vou em outros pontos. De todos os pratos paraenses, o tacacá é o meu preferido. É uma forma de manter viva nossa cultura, e sempre fiz isso, mesmo após ter vivido fora do Pará”, comenta.