GERSON NOGUEIRA

O drama dos times sem-torcida

Não é fácil jogar futebol sem ter por trás o apoio de uma legião de torcedores.

Gabriel Goto
Gabriel Goto

Não é fácil jogar futebol sem ter por trás o apoio de uma legião de torcedores. Clubes emergentes e controlados por empresas costumam se deparar com esse dilema ao longo do tempo. Alguns até conseguem contrariar a lógica e alcançar sucesso, mas é inegável que os bem-amados costumam levar vantagem em momentos decisivos.  

Um exemplo dramático disso é a notícia de que o São Bernardo está anunciando uma promoção inusitada: gratuidade de ingressos para o jogo com o Remo, na próxima segunda-feira (9) à noite, válido pelo quadrangular final da Série C.

O torcedor do time paulista poderá passar na sede do clube e pegar suas entradas, sem pagar nada por isso. Até os torcedores visitantes serão beneficiados, pagando um valor quase simbólico (R$ 5,00 e R$ 10,00) pelos ingressos no estádio Maião, em São Bernardo do Campo.

Resta confirmar se a ideia do São Bernardo tem amparo legal, pois a distribuição gratuita de ingressos pode estar sujeita a taxação de impostos. Nos torneios da Conmebol é expressamente proibido dar ingresso de graça. Muquirana, a entidade estabelece no Manual de Clubes que “em nenhum caso poderá ser estabelecido que o ingresso das partidas seja gratuito”.

De qualquer maneira, a simples disposição de dar ingresso para atrair torcedor é a admissão da falta que faz o incentivo que vem das arquibancadas. Depois de ver o espetáculo dos 44 mil torcedores do Leão, sábado, no estádio Mangueirão, a direção do São Bernardo deve ter decidido apostar na medida extrema.

O risco é acabar contribuindo para que o Remo ganhe uma torcida mais expressiva nas arquibancadas. Com preços tão convidativos, paraenses que vivem nas proximidades de São Bernardo certamente irão se sentir mais impelidos a comparecer para apoiar o Leão.

Rodrigo Alves, um acerto inesperado no Leão

Quando desembarcou em Belém para disputar as últimas rodadas da fase de classificação da Série C, no final de julho, Rodrigo Alves não foi celebrado como grande reforço. Apesar do histórico razoável de atuações no futebol do Paraná (defendeu o Cascavel na Série D), parecia ser mais uma daquelas contratações para compor elenco.

Era improvável até que fosse utilizado como titular. No entanto, foi lançado contra o CSA e mostrou boa movimentação, disciplina tática e presença de área. Na rodada seguinte, foi o melhor do ataque contra o Figueirense. Na sequência, entendeu-se muitíssimo bem com Pedro Vítor no jogo com o Confiança, em Sergipe.

Essas credenciais mudaram a percepção da torcida e da própria comissão técnica azulina. Para o decisivo confronto com o Londrina, ele entrou na etapa final e foi fundamental para a construção do placar. Cobrando falta com perfeição, marcou o terceiro gol do Remo na partida.  

Teve boa participação contra o São José no jogo da classificação, em Porto Alegre, e ganhou a titularidade para a estreia no quadrangular diante do Botafogo-PB. Escolha muito feliz do técnico Rodrigo Santana. Rodrigo foi peça de destaque ao longo do primeiro tempo, levando constante perigo em arrancadas pela esquerda.

Contribuiu diretamente para o primeiro gol, avançando até às proximidades da área e cruzando na medida para a finalização de Pedro Vítor. A jogada abriu caminho para a vitória sobre o time paraibano.

Com o desempenho ofensivo e a participação no trabalho de marcação pelo lado esquerdo, Rodrigo é figurinha carimbada para entrar de cara na segunda missão remista no quadrangular, na segunda-feira (9), contra o São Bernardo. Com total merecimento.

O olhar de Esli e a oportuna operação “desarma treta”

– Foto: Jorge Luis Totti/PSC

Justiça se faça, o menos culpado de todo o desassossego vivido pelo PSC nas últimas semanas é o atacante Esli García. Muito pelo contrário. A ele só se deve atribuir o lado bom da situação, pois cumpriu magistralmente seu papel como atleta do clube. Mesmo com poucos minutos em campo, é o artilheiro do time na Série B, com 6 gols.

É provável que, se tivesse merecido as mesmas oportunidades que alguns outros, podia ter assinalado mais gols. Talento, iniciativa, habilidade e capacidade de finalização são predicados de Eslí. O que lhe falta é um pouco mais de cartaz junto ao treinador, Hélio dos Anjos, que desde os tempos de Parazão relega o atacante à condição de opção de banco.

Nem mesmo depois do golaço salvador marcado domingo à noite contra o Goiás, no estádio da Serrinha, o artilheiro mereceu comentários elogiosos por parte do técnico. Certamente irritado com o olhar flamejante lançado por Esli após balançar as redes de Tadeu, o comandante repetiu a análise de sempre sobre o atleta.

Segundo ele, Esli é um jogador de lances isolados e sem resistência suficiente para uma partida inteira. Esqueceu apenas de admitir que o venezuelano é o melhor (levando em conta a minutagem e os gols assinalados) atacante e provavelmente o principal jogador do time – embora não seja devidamente reconhecido por isso.

Em entrevista, ontem, Esli foi cirúrgico. Disse que o olhar que todo mundo notou, direcionado à comissão técnica após o gol, foi apenas “um desabafo para mim depois de tantas partidas sem marcar gol”.

Sem dúvida, foi um belo drible na polêmica e a melhor saída para todos. Esli evitou o choque direto com um técnico que nunca o teve como fã e colaborou para debelar mais um foco de crise na Curuzu, às vésperas do importante confronto com o Amazonas.