R$ 100 MILHÕES JÁ PAGOS

Prefeitura de Belém estaria pagando por serviços não realizados por consórcio

O consórcio vencedor da licitação para a gestão de resíduos sólidos em Belém já recebeu quase R$ 100 milhões dos cofres municipais desde abril, descontando os impostos

Prefeitura de Belém estaria pagando por serviços não realizados por consórcio Prefeitura de Belém estaria pagando por serviços não realizados por consórcio Prefeitura de Belém estaria pagando por serviços não realizados por consórcio Prefeitura de Belém estaria pagando por serviços não realizados por consórcio
O consórcio vencedor da licitação para a gestão de resíduos sólidos em Belém já recebeu quase R$ 100 milhões dos cofres municipais desde abril, descontando os impostos. Foto: Antonio Melo
O consórcio vencedor da licitação para a gestão de resíduos sólidos em Belém já recebeu quase R$ 100 milhões dos cofres municipais desde abril, descontando os impostos. Foto: Antonio Melo

Apesar de não estar cumprindo integralmente o que está previsto no contrato (01/2024) vigente com a prefeitura de Belém (PMB) desde abril desde ano, o Consórcio Ciclus Amazônia, responsável pela gestão de resíduos sólidos em Belém vem recebendo integralmente o valor total a que tem direito para coleta e tratamento de resíduos sólidos na capital.

O consórcio vencedor da licitação, composto pelas empresas Terraplena Ltda., CS Brasil e Promulti Engenharia e Infraestrutura e Meio Ambiente Ltda., já recebeu quase R$ 100 milhões dos cofres municipais desde abril, descontando os impostos.

Pelo contrato assinado com a prefeitura de Belém, a empresa receberá R$ 32.668.572,59 por mês por um período de 30 anos, que totalizarão pagamentos na ordem de R$ 11,760 bilhões ao longo das 3 décadas de prestação dos serviços. O contrato assinado entre a prefeitura e Ciclus no último dia 7 de fevereiro, estabelecia a construção de um novo Centro de Tratamento de Resíduos, com capacidade para receber mais de 2.500 toneladas de materiais por dia. Até hoje não se tem notícia se o consórcio iniciou a construção do novo centro de tratamento e tampouco o local.

O Diário fez uma pesquisa no Portal da Transparência e constatou que a Ciclus já recebeu desde o dia 15/04/2024, quando iniciou o contrato com a Prefeitura de Belém até o último dia 31/07, o valor de R$ 98.140.904,70. Em abril o pagamento foi R$ 15.130.061,73, referente ao período de 15 a 30/04/24. Mas a partir de maio passou a receber todo mês R$ 27.670.280,99 (descontados os impostos) do valor contratual mesmo sem cumprir boa parte do que previa o edital de licitação.

Ao invés de cumprir o que estava previsto no edital a Ciclus, logo após iniciar as operações na capital, procurou a Justiça para obrigar a Guamá Tratamento de Resíduos, único aterro sanitário em funcionamento no Estado, a receber todo o lixo de Belém, Ananindeua e Marituba recebendo, sem contrato, valores defasados pela tonelada de lixo, forçando a empresa a operar com prejuízo.

O DIÁRIO ouviu um engenheiro especialista na área de saneamento ambiental. Ele, que preferiu não se identificar, disse que conhece a fundo o contrato fechado entre a Ciclus e a Prefeitura de Belém. “No aspecto do manejo dos resíduos sólidos urbanos, o consórcio não realiza o chamado transbordo do material, processo pelo qual os caminhões compactadores de lixo levam os resíduos para centrais transitórias de armazenamento, de onde são transportados através de carretas próprias até o aterro sanitário como destino final”, detalha.

Outro item que também não vem sendo comprido pela Ciclus no contrato, diz o especialista, são os chamados “Ecopontos”, locais com equipamentos específicos para que a população possa levar seu lixo e depositá-lo separadamente (vidro, papel, plástico, alumínio e aço/ferro), de forma ambientalmente correta, facilitando o trabalho de reciclagem.

Ou seja: o consórcio não implementou serviços essenciais como transporte, transbordo, instalação de ecopontos pela cidade e tampouco faz menção de implementar um novo aterro sanitário para destinação destino final desses resíduos como prevê o contrato.

“Também não temos notícia de qualquer projeto de coleta seletiva. A única coisa que fizeram foi instalar caixas metálicas em alguns poucos pontos da cidade para que a população deposite entulhos que antes eram jogados de maneira aleatória pela cidade. Ou seja, o consórcio recebe por serviços que não presta efetivamente”, conclui o engenheiro.