MEIO AMBIENTE

Mudanças climáticas intensificam seca na Amazônia

Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

A seca na Amazônia é um fenômeno natural que ocorre devido aos déficits de chuva em um determinado período do ano. No Pará, de modo geral, a escassez de chuvas ocorre a partir da última dezena de maio até setembro, tendendo a volume zero de precipitações. As temperaturas elevadas também marcam o período, que chega a registrar 38 graus no sul do estado. Apesar disso, o que temos visto é a intensificação do fenômeno, responsável pela maior queda já registrada dos níveis dos rios amazônicos.

Essa ocorrência está diretamente ligada às mudanças climáticas. O aumento da temperatura global ao longo dos anos faz com que os fenômenos naturais sejam potencializados, como é o caso do El Niño. O evento, que ocorre a cada dois a sete anos, provoca o aquecimento das águas equatoriais do Oceano Pacífico, maior bacia líquida do planeta, e altera a distribuição de umidade e temperatura em várias áreas do globo.

Quando esse aquecimento é considerado atípico, como em 2023-2024, um dos mais fortes já registrados, há uma mudança na estrutura da circulação da atmosfera, inibindo a ocorrência de chuvas na região amazônica. “A consequência na Amazônia é o que temos visto: os rios viraram ruas onde nós não tínhamos navegação e tivemos um problema seríssimo com a questão de transporte de pessoas e grãos que vem do Mato Grosso. Ou seja, são fenômenos que causam impacto não só social, mas também econômico”, explica o meteorologista Sidney Abreu do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet-PA).

CHUVA ESCASSA

A perspectiva é que essas ocorrências sejam ainda mais frequentes nos próximos 25 a 30 anos. Isso porque o planeta está entrando na chamada fase quente da Oscilação Decadal do Pacífico, que faz com que o Oceano Pacífico Norte fique mais quente que normal, impactando nas temperaturas brasileiras, como as longas secas no Norte-Nordeste e a diminuição da intensidade do inverno no Sul. “Isso vai fazer com que na Amazônia a gente tenha, no geral, menos chuva que o normal, vamos ter chuva menos do que a média esperada. Uma outra consequência importante é que nós podemos ter a antecipação de períodos mais secos e um atraso de chegada dos períodos chuvosos. Isso aí faz com que na região sul do Pará, que normalmente não temos muita chuva, nós tenhamos períodos mais longos sem chuva”, explica o especialista.

SITUAÇÃO NO PARÁ

A região sul do Pará tem sido a mais afetada pela falta de chuvas no Norte do Brasil. Historicamente, a parte debaixo do estado tem baixo índice de precipitação, intensificada nos meses de maio a setembro, quando as temperaturas são mais altas, podendo chegar a barreira dos 40,6 graus. Por isso, todos os municípios localizados nessa região, como Conceição do Araguaia, Xinguara e Rio Maria, têm o menor registro de volume de chuvas nesse período do ano.

“Conceição do Araguaia ficou exatamente 88 dias sem chuva e caiu uma chuva de 11 milímetros no dia 15, devido um sistema de alta pressão atuando sobre todo o Brasil, em que grande parte do país estava sob uma massa de ar quente e seca e a faixa sul do Pará também. Esse bloqueio estava inibindo as chuvas no país, mas deu uma enfraquecida e tivemos uma instabilidade que atravessou e chegou até a região de Conceição do Araguaia no sul do Pará”, relatou o Sidney Abreu, meteorologista do Inmet-PA.

A situação é diferente na porção norte do estado, onde estão localizados a Região Metropolitana de Belém, Ilha do Marajó e os municípios do nordeste paraense. Mesmo durante o período mais quente, que vai de maio a novembro, a faixa norte registra chuvas regulares, porém mais breves durante a tarde. O período mais chuvoso deve se estabelecer a partir do dia 20 de dezembro nessas localidades.

“Até lá, a característica do tempo na faixa mais ao norte do estado vai ser de poucas nuvens no início da manhã e, por vezes, até o céu de brigadeiro, aquele céu azul e sem nuvens nenhum. A nebulosidade vai aumentando ao longo do dia, quando temos tardes com chuvas na forma de pancadas isoladas em algumas partes da cidade. As temperaturas são elevadas, podendo ultrapassar os 35 graus Celsius, a máxima do dia, que acontece em torno das três da tarde, e a mínima em torno de 23 e 24, que acontece no início da manhã, por volta das seis horas”, pontua o especialista em clima e tempo.

Contudo, o mês de julho deste ano ficou 19 dias seguidos sem chuva em Belém, devido a um bloqueio em toda a faixa litorânea do estado. Isso porque o Oceano Atlântico Norte estava mais aquecido que o normal em relação ao Atlântico Sul. Isso impediu que os ventos de nordeste trouxessem a umidade do oceano.