Se na semana passada, listei o que achei de pior em 2022, dessa vez trago alguns grandes filmes, que se destacaram, para mim, por inúmeros motivos, por meio da sua sensibilidade temática, construção estética ou subversão de gênero. É uma variedade que só o bom cinema pode oferecer para o público disposto a embarcar de coração aberto. Bons filmes para
nós em 2023!
l Drive My Car Ryusuke Hamaguchi ganha nossos corações ao abordar metáforas visuais sobre caminhos que se cruzam e se completam em um microcosmo sobre mortalidade e – porque não? – otimismo.
l Não, Não Olhe Jordan Peele consegue, mais uma vez, subverter as perspectivas de gênero e criar uma atmosfera de tensão sobre a espetacularização do absurdo, em uma ficção científica chocante, mas também hipnotizante.
l Aftersun
O longa de Charlotte Wells é o melhor alternativo do Ano ao abordar com sensibilidade estética a relação agridoce, mas distante, entre pai e filha. Wells foge das soluções fáceis e foca em pequenos gestos cotidianos para fechar um ciclo pessoal.
l Licorice Pizza
Uma crônica de amor e crescimento por vezes surreal de Paul Thomas Anderson, em uma Hollywood desprovida de glamour, mas cheia de cores e camadas. Com um elenco apaixonante e
uma trilha essencial.
l Pureza
O filme de Renato Barbieri traz Dira Paes brilhando, como sempre, ao abordar uma mãe que busca o filho que teria sido feito escravo em uma fazenda. Baseado em uma história real sobre luta social e maternidade.
l Argentina, 1985
O país vizinho continua exorcizando a própria história ao mostrar as primeiras condenações de militares por atrocidades na Ditadura argentina. Com uma montagem acelerada e uma performance sobrenatural de Ricardo Darin, vale como documento histórico e exemplo político.
l Athena
Romain Gavras cria uma ópera de destruição e sofrimento sobre os conflitos em um conjunto habitacional após a morte de um garoto pela polícia.
Mesmo com alguns problemas de ritmo pelo caminho, é tecnicamente irretocável e tem um plano sequência inicial brilhante.
l Dr. Estranho no Multiverso da Loucura
Um grande acerto da Marvel foi dar milhões de dólares nas mãos de Sam Raimi para ele voltar para trás das câmeras. O resultado é um videoclipe caótico, assustador e cheio de cenas icônicas, que espero que tenham o reconhecimento futuro da cultura pop. O roteiro e as conexões com a mitologia do MCU são qualquer coisa,
mas quem se importa?
l Benedetta
Paul Verhoeven provoca o sagrado e o profano em uma história de dúvidas, pecados e culpa, sem meias palavras e em uma estrutura estética tradicional. O holandês continua cínico e afiado. Bom para nós.
l Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Daniel Kwan e Daniel Scheinert são responsáveis pela mensagem que querem passar e não pelo que o público entende. No meio, uma jornada esquisita e potente sobre nosso lugar no mundo e o que fazemos com isso. É cinema moderno, mas de uma inocência primordial.