Pará

"Queria caos", disse paraense preso por terrorismo

Empresário que tentou explodir caminhão em Brasília, e está preso, faz parte do quadro de diversas empresas junto com outros familiares. Foto: Divulgação
Empresário que tentou explodir caminhão em Brasília, e está preso, faz parte do quadro de diversas empresas junto com outros familiares. Foto: Divulgação

Luiza Mello

O bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, paraense de Santarém e empresário de 54 anos, está preso preventivamente pela Polícia Civil do Distrito Federal, após tentar explodir um caminhão-tanque com 63 mil litros de querosene para aviação no Aeroporto Internacional de Brasília.

Em depoimento ao qual o DIÁRIO teve acesso, ele disse que o ato de terrorismo foi planejado por ele junto com outros manifestantes que estão acampados no quartel-general do Exército na capital. Segundo o depoimento, outros atos estavam planejados com o objetivo de “dar início ao caos” o que levaria à “decretação do estádio de sítio no país” que poderia “provocar a intervenção das Forças Armadas” para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que acontece no próximo domingo, 1º de janeiro.

O autor da mais grave tentativa terrorista no Brasil, desde a democratização, revelou ainda que estava em curso o plano de colocar outros explosivos em subestações de energia no DF, entre elas a do aeroporto internacional de Brasília e em Taguatinga, terceira maior cidade do Distrito Federal, com mais de 220 mil habitantes.

A Polícia Civil do Distrito Federal revelou que o terrorista paraense dirigiu desde Santarém, na região do Baixo Amazonas, até Brasília, tendo em sua posse um arsenal de armas e munições que incluem: duas espingardas, um fuzil, dois revólveres, três pistolas, centenas de munições e uniformes camuflados, além de cinco emulsões explosivas. Todo esse material foi apreendido pela Polícia Civil em um apartamento alugado na capital pelo empresário bolsonarista. No depoimento à Polícia Civil, o paraense revelou que os explosivos teriam vindo de pedreiras

e garimpos no Pará.

O delegado-chefe da PCDF, Robson Cândido revelou que, se o material explosivo tivesse entrado na área do Aeroporto Internacional de Brasília, próximo a um avião com 200 pessoas, “seria uma tragédia aqui dentro de Brasília, jamais vista e seria motivo de vários noticiários internacionais’’. “Graças a Deus conseguimos interceptar. Não conseguiram explodi-lo, mas temos informações de que eles tentaram acionar”, disse o delegado, com base em informações da perícia da Polícia Civil. Os peritos da PC identificaram que os terroristas tentaram algumas vezes acionar o explosivo.

George Oliveira foi preso em Brasília e veio de Santarém para participar dos atos antidemocráticos FOTOs: DIVULGAÇÃO

PALAVRAS

George Washington declarou em depoimento que as “palavras” do presidente Jair Bolsonaro (PL) o encorajaram a adquirir o arsenal de armas e que gastou, do próprio bolso, cerca de R$ 160 mil. “O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil” destacou, lembrando as palavras do ainda chefe do Executivo: “Um povo armado jamais será escravizado”.

Ele revelou que, em uma reunião realizada no QG bolsonarista, “uma mulher desconhecida” teria sugerido aos manifestantes golpistas que “fosse instalada uma bomba na subsestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.

O agora presidiário informou ainda que, no dia 12 de dezembro, durante os atos terroristas efetuados por bolsonaristas que estão acamados no QG, ele teria conversado com agentes da segurança pública do Distrito Federal (bombeiros e policiais militares) que deixaram a entender que “estavam todos ao lado de Bolsonaro” e que “uma intervenção seria decretada”.

Segundo o depoente, a decisão de dar início aos atos terroristas aconteceu quando os golpistas acampados perceberam que, após a prisão do cacique Xavante e dos atos da noite de 12 de dezembro, nada havia acontecido. “Ultrapassado quase um mês (sic) e nada aconteceu, eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação do estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

Ao final do depoimento, ele revelou que entregou um controle remoto e quatro acionadores de bombas semelhantes à que foi desativada próxima ao aeroporto, de alto teor destrutivo, para um desconhecido e disse que o material poderia ser acionado entre 50 e 60 metros. A polícia identificou o receptador do material como Alan Diego dos Santos Rodrigues.

A Polícia Civil do Distrito Federal não revelou mais detalhes sobre a investigação, entre eles a apuração sobre esse segundo elemento, identificado apenas como Alan. A PC informou que outras pessoas já foram identificadas e estão sendo investigadas, inclusive o responsável por colocar no caminhão-tanque o artefato entregue pelo terrorista paraense.

BOLSONARO

O presidente Jair Bolsonaro (PL) não se pronunciou sobre a tentativa de explosão de um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília e postou somente uma mensagem de Natal nas redes sociais neste domingo (25). No vídeo, o presidente aparece entregando presentes para crianças e deseja um Natal “em paz, ao daqueles que vocês mais amam”.

A família de George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, afirmou à reportagem da Folha de São Paulo que soube da prisão do homem por meio da mídia, na manhã deste domingo (25). “Estou chocada e assustada. Isso não pode ter acontecido porque ele era uma pessoa pacifista. O meu marido nunca faria algo assim”, disse à reportagem a esposa, Ana Claudia Leite de Queiroz, 50.

Segundo apurou a reportagem, o homem pediu à polícia que a prisão, deflagrada na tarde de sábado (24), não fosse comunicada à família por causa do feriado de Natal.

O filho do casal afirmou que a família foi contra a mudança de George para Brasília, onde ele se reuniu com outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que protestam contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Quando o meu pai avisou que iria participar dessas manifestações, imaginamos que daria errado. Eu sabia que ia dar merda”, afirmou à reportagem. (Com informações da Folhapress)

Em um apartamento, pertencente ao terrorista, a polícia encontrou um arsenal de armas e explosivos FOTO: divulgação