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Documentário de Bruno Cecim faz mergulho na vida e obra do pai Vicente Cecim

Filme tenta traduzir um pouco da hermética obra do escritor paraense FOTO: BRUNO CECIM/DIVULGAÇÃO
Filme tenta traduzir um pouco da hermética obra do escritor paraense FOTO: BRUNO CECIM/DIVULGAÇÃO

TEXTO: WAL SARGES

Uma imersão em Andara, universo criado pelo escritor Vicente Franz Cecim (1946-2021) através de seus livros, levou o filho dele, o fotógrafo Bruno Cecim, à criação de “Vicente Franz Cecim ó Serdespanto – Viagem a Andara”, documentário que será lançado nesta quarta-feira, 14, às 15h, no Cine Líbero Luxardo. O lançamento faz parte das Mostras Paralelas do VIII Festival Internacional de Cinema do Caeté (Ficca) e contará com a presença do documentarista.

“Foi um mergulho que eu fiz nessa viagem a Andara, para que até eu mesmo pudesse entender melhor sobre a vida e a obra dele, e assim, as pessoas que forem assistir, conhecerem mais sobre o meu pai. Acho muito interessante fazer este registro em forma de documentário porque a obra dele é um pouco densa, principalmente os livros, não é tão simples e fácil de ler e entender tudo”, explica Bruno.

Bruno acredita que o filme serve até como um guia para as pessoas saberem um pouco mais e decifrarem melhor esse enigma que Vicente Franz Cecim deixou aos leitores através das viagens de seus personagens por “Andara”, universo criado por ele. “O cinema tem um conjunto de outras artes: música, fotografia, cinema, vídeo. Uma coisa completa que se consegue contar uma história de forma mais elaborada e ilustrativa. Fiquei feliz com o resultado, espero que as pessoas gostem”, completa.

PROCESSO

O filme foi feito em duas etapas. A primeira ocorreu assim que o escritor faleceu, em 2021. “Ele havia descoberto que estava com câncer e, no meio do tratamento, ele pegou covid e infelizmente não resistiu. Ficamos muito abalados, eu e a minha família, porque foi muito rápido e ninguém esperava por isso. Eu era muito ligado a ele, além de pai, era ainda meu guia espiritual, então, pensei em fazer essa homenagem”, relembra.

Na época, algumas pessoas fizeram postagens nas redes sociais, inclusive Bruno. “Vi que duas, que participaram deste filme, tinham publicado um post, recitando um trecho do livro dele, então, me veio a ideia de fazer um filme assim: de pessoas recitando o livro dele e eu também faço o mesmo em um trecho”, detalha. Depois, o fotógrafo passou a pedir que as pessoas enviassem esse material, que foi além de pessoas declamando. “Elas falaram algumas outras coisas e na hora me deu a ideia de fazer um documentário”, recorda.

No primeiro vídeo, lá no início, Bruno conta que percebeu que tinham dois materiais distintos dentro desse conjunto de depoimentos. “Um seria mais dentro da linha de vídeo-homenagem, que foi o que eu fiz com ele. E outros ficaram para outra etapa, que é o filme que estamos lançando agora, um média-metragem com 50 minutos”. Neste, ainda entraram depois críticos, jornalistas, escritores, entre outras pessoas que conhecem a obra de Vicente Franz Cecim, como os atores Cacá Carvalho e Gildo Pinheiro.

Bruno usou imagens posadas do pai, feitas por ele, e outras de seu trabalho enquanto fotógrafo. “São imagens que retratam a Amazônia, porque meu olhar foi muito influenciado por tudo o que eu vivi e aprendi com ele”. Há vídeos de arquivo, como uma entrevista do escritor em Portugal, e ainda, um trecho do “Manifesto Curau”, que ele fez em um levante sobre a Amazônia. “O papai tinha um pouco disso, era voltado para a questão ambiental e a Amazônia, além de escritor”.

O documentário conta ainda com vídeos criados pelo próprio Vicente Franz Cecim, que ele nomeou “KinemAndara”; alguns filmes, que ele deu o nome de “CinemAndara”; e até algumas músicas que ele próprio criou, como trilha sonora, e chamava de “MusicAndara”. “Então, o filme está muito a cara dele”, conclui Bruno.

HOMENAGEM

O projeto tem um grande significado para o fotógrafo. “Ainda é um pouco recente isso tudo. Mas acredito que o filme me ajudou a passar por esse luto que foi tão difícil, que é a perda de um pai, ainda mais ele, que foi um ser tão especial, um ser humano evoluído. Eu e meus irmãos brincávamos que ele não era uma pessoa normal, mas uma entidade”, enaltece.

Ele ainda destaca o processo de edição do documentário como um processo de criação também e acredita na presença espiritual do pai naquele momento. “Não me sinto nem o diretor, mas o coautor do filme, porque o diretor mesmo é ele, porque eu pensava em fazer uma coisa e a coisa encaixava certinho, como foi com a trilha, as imagens escolhidas”, diz.

Agora, a intenção é que o filme chegue a um público que gosta de cinema, de arte, e ainda, nas escolas. “A gente trabalha essas questões, no meio acadêmico, buscando autores conhecidos e amados, como Jorge Amado, os clássicos literários e às vezes deixamos de falar de autores tão importantes… O Pará tem grandes autores que falaram e expuseram a nossa terra de forma criativa, poética e original. Acho que isso também deveria ser divulgado. Ele foi um artista muito importante, com uma obra vasta e original”, considera.

Tal como o pai, Bruno diz que se sente um contador de histórias, “mas do meu modo, com imagens e palavras”, acrescenta. “Não escrevo, mas gosto dessa parte do audiovisual e foi a contribuição que eu pude dar a ele”.

PRESTIGIE

Lançamento do documentário “Vicente Franz Cecim ó Serdespanto – Viagem a Andara”, de Bruno Cecim

Quando: Hoje, 14, às 15h

Onde: Cine Líbero Luxardo (Av. Gentil Bittencourt, 650, térreo – Nazaré)

Quanto: Gratuito