Guardiola não será o sucessor de Tite na seleção brasileira. Essa é uma convicção que a CBF já possui. Não apenas porque o catalão renovou seu contrato com o Manchester City em novembro, nem por causa de seu salário.
Antes da assinatura do novo acordo, Pep recebia o equivalente a R$ 13 milhões por mês. Treinadores na América do Sul recebem isso por ano. Quer dizer que se poderia prometer a Pep o 13º salário. Só o 13º.
O martelo só será batido pelo presidente da confederação, Ednaldo Rodrigues, em janeiro, possivelmente depois da escolha do novo diretor de seleções.
À parte não ser o novo técnico, Guardiola precisa vir ao Brasil. Se já deu palestras em Buenos Aires mais de uma vez, por que não o trazer ao Rio de Janeiro para falar sobre futebol, como a CBF já fez com Fabio Capello e Marcelo Bielsa?
Sobre a sucessão de Tite, há resistências a nomes como o de Jorge Jesus. Os comentários são sobre as críticas que dirigentes da CBF ouvem, dentro do Flamengo, à maneira centralizadora de trabalhar e ao modo como rompeu o acordo na Gávea.
Jesus seria uma decisão mais populista do que popular, porque não daria estruturação ao trabalho de médio prazo. Portugal não pensa em Jorge Jesus para a eventual sucessão de Fernando Santos por esse motivo. Querem um modelo mais ao estilo Luís Castro, de construção sólida de trabalho.
Antes da Copa, na CBF, também se falava sobre a dificuldade de relacionamento com Abel Ferreira. O cheiro é de que não se avançará na ideia de um treinador estrangeiro. É cedo para ter certeza disso, mas as pistas levam a esse raciocínio.
Não se cogita alguém que fale outro idioma sem ser o português ou espanhol. Independentemente de se contratar um estrangeiro ou brasileiro, é necessário melhorar o nível dos que vivem aqui. Mais cursos, mais palestras, mais universidades, mais capacidade de fazer o que Portugal conseguiu, ao unir a teoria com a prática.
Lembre-se de que, até 2006, os times campeões portugueses tinham, em 68% das vezes, treinadores estrangeiros. Nas últimas 16 temporadas, só os locais ganharam o título. Também atravessaram fronteiras e conquistaram 73 troféus em 30 países.
Se Portugal não tinha bons técnicos e hoje tem, o Brasil, que teve alguns dos mais requisitados para desenvolver o futebol na Ásia, pode formar novos profissionais capazes de brilhar na seleção e na Europa.
Fala-se sobre o não reconhecimento dos cursos da CBF na Uefa. Mas Ricardo Gomes conseguiu dirigir o Bordeaux e o Monaco, no Campeonato Francês, por notório saber.
Usa-se o idioma como justificativa para não haver brasileiros em clubes europeus. Mas Oswaldo de Oliveira foi tricampeão japonês, pelo Kashima Antlers. Se a língua é dificultador na Inglaterra e na Alemanha, como não atrapalha no Japão?
Os técnicos brasileiros foram importantes para ensinar jogadores no Oriente Médio. O jogo mudou, é mais tático e tem menos espaço. A exigência é estudar e ensaiar todas as opções para atacar e defender.
Guardiola não virá. Isso não impede que o Brasil possa sair do sonho e começar a criar condições para ter uma geração de técnicos modernos. Formar o nosso próprio Pep Guardiola em alguns anos, como um dia formamos Zagallo e Telê.
*
Paulo Vinicius Coelho é jornalista, autor de ‘Escola Brasileira de Futebol’, cobriu seis Copas e oito finais de Champions .