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Edgar Augusto grava última "Feira do Som" após 50 anos no ar

Foto: divulgação
Foto: divulgação

 

Texto: Wal Sarges

Uma coisa é certa: há meio século no ar nas rádios paraenses, o programa “Feira do Som” cravou sua importância na história dos paraenses como um símbolo de fomento à cultura. Criador, produtor e apresentador do programa, o jornalista, locutor e radialista Edgar Augusto Proença dedicou esses 50 anos de sua vida construindo pontes para que artistas pudessem divulgar seus trabalhos através das ondas do rádio. Mas um ciclo se encerra, e a atração deixa a grade da Rádio Cultura FM definitivamente este ano por decisão do próprio Edgar. Nesta segunda-feira, 12, a partir de 14h, ele não estará ao vivo do ar. Ele grava a última edição do programa, com convidados especiais, entre eles os músicos Manoel e Felipe Cordeiro e Inesita,  o cantor e compositor Alfredo Reis, e a cantora Lucinnha Bastos.  “Será a minha despedida da rádio, de um programa [que ia ao ar] de segunda a sexta, que foi encerrado. Este programa terá uma série de convidados que vão prestar depoimentos e gravar comigo”, explica Edgar Augusto. “São 12 ou 13 convidados. Cada um vai cantar uma ou duas músicas”, completa.

Este último programa irá ao ar no dia 23 de dezembro, pela Rádio e TV Cultura, coroando o cunho especial da edição. “É quando termina oficialmente o programa. Mas até o final do mês, serão passadas reprises”, detalha.

 

PROGRAMA É PATRIMÔNIO IMATERIAL DE BELÉM

A “Feira do Som” começou em 1972, na antiga PRC-5 (Rádio Clube do Pará), recorda Edgar. “Tinha um programa antes chamado ‘Pocket show’, de um cidadão chamado Rosenildo Franco, que é publicitário. Ele fazia vinte milhões de programas por dia informando o que estava acontecendo no mundo da música e eu não perdia um. Ele viajou, deixou o programa e eu assumi. Aumentei para uma hora a duração do programa que foi depois para a Rádio Cidade Morena, nos anos 1980, e de 1986 em diante, passou para a Rádio Cultura, onde está no ar até hoje com o mesmo objetivo: o jornalismo musical”, relembra o radialista.

Em 2019, quando o programa “Feira do Som” conquistou o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Município de Belém, concedido pela Câmara de Vereadores, Edgar disse que desejava completar 50 anos no ar e então decidiria se continuaria com o programa ou não. Em tom confessional, ele afirma que o contexto das redes sociais foi um dos pontos determinantes para sua decisão de descontinuá-lo.

“Acredito que a proposta do programa, da maneira que é feita, esgotou para o que a ‘Feira do Som’ foi projetada. Ela veio de um tempo em que não havia nenhum caderno de cultura em nenhum jornal. Então, muita gente dependia de mim para divulgar suas atividades culturais, projetos e eventos. A ‘Feira do Som’ era procurada para divulgar, porque era um programa que estava ali para isso. Hoje, não. Com as redes sociais, tem coisa que eu sei depois dos outros. Gosto da rotina do programa, de ir para a rádio, encontrar amigos, mas tem um momento que é preciso pensar se aquilo é conveniente ou é necessário”.

SENSAÇÃO DE DEVER CUMPRIDO

A sensação é que o programa cumpriu com sua função social e cultural, sobretudo, selou o amor que os paraenses têm pela sua própria cultura, diz Edgar. “Estou com 50 anos de programa, 71 de idade, e tem um dia que você tem de parar por cima, antes que seja preciso que alguém diga isso a você. Acho que a ‘Feira’ cumpriu a função de ocupar um espaço em que não havia ninguém. Eu ainda tenho algum tempinho e penso em fazer algo diferente. Vou fazer o que amo em outros meios. Fiz durante 50 anos pela rádio e depois TV; agora penso no Instagram e no YouTube. Vou tentar fazer algo nessa linguagem, mas continuo fazendo o adoro, que é a coluna no jornal”, avisa Edgar, cuja “Feira do Som” ocupa lugar cativo neste caderno, às terças, quintas e domingos, com notícias dos bastidores do mundo cultural, resenhas de discos e deliciosas crônicas sobre Belém, frequentadas por personagens pitorescas da música, da comunicação e outras artes.

“Me comunicar pelo jornal, pelo qual sou apaixonado, não deixo nunca. Vou continuar trabalhando e me manifestando por outros meios e espero ganhar o mesmo prestígio que ganhei pelo rádio”, projeta para 2023 em diante.

CADA UM DO SEU JEITO

Edgar conta que não segurou a emoção na última quinta-feira, quando fez o programa ao vivo pela última vez. “Me deu uma emoção muito grande. Por um minuto, fiquei olhando para o operador e para a câmera. Quando encerrei, fiquei muito emocionado. Não estou arrependido de ter tomado essa decisão, vou ficar com saudades, mas não arrependido de encerrar o programa”, considera.

Edgar conta que não quer deixar substitutos. “Quem quiser vir, faça o seu”, diz. “Tem alguns amigos, como o Arthur Castro, que foi quem passei a levar para fazer o programa comigo, ele se saiu bem nisso. Ele ficará lá, mas é para fazer o programa dele, criar o dele, com o linguajar dele. A minha eu fiz. Esse programa futuro, será do jeito que ele vai fazer, à sua maneira própria”.