Entretenimento

O "Gabinete" de Guillermo del Toro tem até bruxo de Harry Potter

O "Gabinete" de Guillermo del Toro tem até bruxo de Harry Potter

Guillermo del Toro é considerado um midas das histórias de fantasia e horror em Hollywood. O cineasta, roteirista e produtor mexicano começou fascinando o público com filmes como “Kronos” e “Mutação”, seguindo uma carreira prolífica nos textos e atrás das câmeras em “A Espinha do Diabo”, “Hellboy” e o clássico absoluto “O Labirinto do Fauno”. A partir daí, começou a ter a carreira em queda de qualidade, com uma sequência de filmes só medianos: “A Colina Escarlate”, “A Forma da Água” e o ruim “O Beco do Pesadelo”.

Mesmo assim, continuou produzindo filmes e séries, como o atual00É uma antologia com oito episódios de uma hora, onde cada um conta uma história de horror, com roteiros baseados em contos, além de diretores, estilos e propostas diferentes (do horror gótico ao gore total). Para quem gosta, tem monstros, fantasmas e sustos à vontade.

MUITO ESTILO, POUCO CONTEÚDO

Infelizmente, como a maioria dos trabalhos atuais do diretor, é muito estilo para pouco conteúdo. A série começa bem, com “Lote 36”, sobre um homem que compra um depósito antigo e descobre situações sinistras ali dentro. Mesmo com alguns furos inacreditáveis de roteiro, funciona por manter a atmosfera de tensão até quase o final. Já “Ratos de Cemitério” pelo menos é divertido por mostrar um ladrão de túmulos enfrentando roedores de todo tipo para pagar dívidas de jogo. Tem um clima claustrofóbico bem construído pelo diretor Vincenzo Natali (que mostrou saber trabalhar com ambientes opressores em “Cubo”).

O episódio seguinte é o melhor: “A Autópsia” (de David Prior e David Goyer) é eficiente, agoniante e tem uma trama enxuta, com uma resolução decente. Uma pena que o restante da temporada não mantenha o mesmo nível. O próximo, “Por fora”, tem uma ideia interessante sobre padrões e produtos de beleza, mas a sempre competente Ana Lily Amirpour não sabe o que fazer com o pouco tempo que tem.

Já “O Modelo de Pickman”, baseado em um conto de H.P. Lovercraft, é tão arrastado e enfadonho que o maior desafio é chegar ao final, que até é impactante, mas se perde. Resta o bom trabalho de atuação de Ben Barnes e do sempre esquisito Crispin Glover.

NEM BRUXO DE HARRY POTTER SALVA

O sexto “Sonhos na Casa da Bruxa” é tão ruim que é preciso parar para pensar sobre quem aprovou esse roteiro e o porquê de Catherine Hardwicke dirigir essa joça. Tirando os efeitos e a presença do carismático Rupert Grint (o Ron Weasley de Harry Potter), nada se salva. É tudo muito perdido.

Já “A Inspeção”, de Panos Cosmatos (do espetacular “Mandy”), pelo menos se redime do anterior e consegue estabelecer uma trama minimamente coesa e aterradora. Por fim, “O Murmúrio”, é protagonizado por Andrew Lincoln (o Rick de The Walking Dead), e Essie Davis, sendo dirigido pela excelente Jennifer Kent, diretora e roteirista de “O Babadook”, funciona como exercício de gênero no derradeiro capítulo da antologia. Enfim, é uma série que até funciona no conjunto de ideias de Del Toro, mas que perde força devido à falta de coesão entre os episódios. Melhor esperar pelo “Pinóquio” do diretor, que estreia nesta sexta-feira (9), também na Netflix.

*Fábio Nóvoa escreve sobre cinema todas as quintas-feiras no caderno Você.