Diário no Qatar

A maturidade está na juventude (Coluna do PVC - 28/11)

Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Casemiro fez questão de afirmar que Daniel Alves não está na Copa do Mundo a passeio. Nem que viajasse apenas por seu papel de liderança estaria passeando. Tite o convocou por julgá-lo importante, por vezes em campo, por vezes no ambiente.
Não significa que não possa ficar no banco, com Militão jogando.

Depende da maturidade do técnico, que parece ter trazido ao Qatar lições aprendidas na Rússia. Num torneio de sete jogos, a observação precisa ser mais aguçada, e as decisões, muito rápidas, certeiras.
Vale para o substituto de Neymar.

Ninguém parece muito preocupado na imprensa e na torcida, porque Neymar voltará nas oitavas de final. Será assim desde que o Brasil se classifique, e não vale esquecer que a seleção enfrentou a Suíça duas vezes em Copas do Mundo e empatou ambas, em 1950, no Pacaembu, e em 2018, em Rostov.

A decisão sobre o substituto de Neymar é muito séria, a ponto de Tite ter ponderado três hipóteses: adiantar Paquetá; escalar Everton Ribeiro; apostar em Rodrygo.

O verbo usado com o atacante do Real Madrid se explica por ele jamais ter sido titular da seleção. Jogou sete vezes, marcou um gol, tem 21 anos, é o segundo mais jovem dos 26 convocados, seis meses a mais do que Martinelli.

Everton Ribeiro é o terceiro mais velho, o único que jamais atuou na Europa. Parece um preconceito geográfico. A Arábia Saudita ganhou da Argentina com oito titulares do Al Hilal, ora… Mas o México escala oito da liga mexicana, o dobro dos que escalava na Rússia, e corre o risco de ficar fora da segunda fase pela primeira vez em 28 anos.

Rodrygo é 12 anos mais novo do que Everton Ribeiro e bem mais experiente. Só um jogador participou de mais gols do Real Madrid na temporada do que ele: Vinicius Junior. O ex-rubro-negro tem seis gols e três passes no Campeonato Espanhol, Rodrygo não é titular, marcou quatro vezes e deu três assistências.

Verdade que Tite se encanta com a qualidade de Everton Ribeiro. A pergunta é se ser o melhor em campo na final da Copa do Brasil e na da Libertadores dá nível de Copa do Mundo.

Marcar duas vezes em três minutos e virar uma semifinal de Liga dos Campeões contra o Manchester City, como fez Rodrygo, dá a certeza de que pode jogar bem contra a Suíça.
Vinicius Junior e Rodrygo jogaram melhor do que Neymar na temporada passada e seguem no mesmo ritmo na atual.

Existe a questão tática. Paquetá adiantado serviria como meia armador, Rodrygo como ponta-de-lança. Um faz a bola circular, o outro acelera em direção ao gol. Neymar, bem, faz as duas coisas.

Chamava-se ponta-de-lança a posição de Pelé e Zico. Podia ser o número 10 ou 8, dependendo do posicionamento da equipe na época em que as camisas foram numeradas, na década de 1940.

Rodrygo é isso, o ponta-de-lança. Aquilo que três décadas atrás convencionou-se chamar de meia-atacante.

Ponta-de-lança é muito melhor e não cria uma confusão gramatical, por meia não ser nem substantivo nem advérbio.
A tendência é adiantar Paquetá.
Rodrygo é ponta-de-lança. São a palavra e a decisão certas.

 

* Paulo Vinicius Coelho
Jornalista, autor de ‘Escola Brasileira de Futebol’, cobriu seis Copas e oito finais de Champions