O jornalista e escritor inglês Jonathan Wilson, autor de “A Pirâmide Invertida” e “Atrás das Cortinas”, sobre as histórias táticas e do futebol do Leste Europeu, entende que o Brasil era um pioneiro em estratégias de ataque.
Mesmo que se admita que o jogo era mais individual e o talento resolvia mais antes de haver menos espaço, o gol de Carlos Alberto em 1970, a obra coletiva mais perfeita da história das Copas, revela que Wilson está certo.
Tostão desarmou, Clodoaldo driblou, Rivellino lançou, Jairzinho deslocou-se para a esquerda e atraiu o lateral Facchetti, seu implacável marcador individual. O movimento abriu o corredor para Carlos Alberto receber o passe de Pelé.
A escalação de Vinicius Junior é reveladora não apenas da ousadia da seleção de Tite, antes impiedosamente apelidado Empa-Tite. Mostra atenção à necessidade de usar estratégias de ataque para abrir o que se imagina ser um cadeado defensivo da Sérvia.
Os sérvios serão perigosos e agressivos na transição, ao recuperar a bola e atacar os espaços laterais, com passes de Milinkovic-Savic, escapadas de Zivkovic, o ala direito, e Kostic, na esquerda. Ter cuidado com os contra-ataques também exige inteligência para abrir espaços quando tiver a bola, exigência que o futebol mundial ainda faz ao Brasil.
A Copa exige de Tite mais do que o Mundial de Clubes exigiu, porque num Chelsea x Corinthians, os ingleses atacam e os brasileiros defendem. Globalizado, o jogo criou essa inversão de valores entre Europa e América do Sul.
Nas seleções, não. Então, Tite precisou evoluir muito nas estratégias ofensivas desde que chegou à seleção, em 2016. Ele é um técnico melhor do que há seis anos, o que não garante sucesso na Copa.
Lembre-se de que os sérvios mandaram Portugal para a repescagem nas eliminatórias da Europa e os suíços fizeram o mesmo com a Itália, ausente pelo segundo Mundial seguido. O grupo do Brasil não é fácil.
Daí ser importante notar a atenção dada ao estudo e à tentativa de criar problemas para os adversários, em vez de proteger-se de suas qualidades.
De todos os campeões mundiais, o Brasil é o invicto há mais tempo em estreias, desde 1934. Nesta semana, a Argentina perdeu da Arábia Saudita, e a Alemanha, para o Japão; em 2014, a Espanha caiu para a Holanda, o Uruguai, para a Costa Rica, e a Inglaterra, para a Itália; a França, para o Senegal em 2002, e a Itália, contra a Irlanda em 1994.
A mesma mão que acaricia fere e sai furtiva. O retrospecto anima e aprisiona. O Brasil não lida bem com a derrota e trata sempre como vexame. Imagine a Alemanha eliminada pela Coreia do Sul, em último lugar numa chave com México e Suécia, há quatro anos.
A Sérvia não deve ter Mitrovic. Vlahovic atacará com Jovic, mais dois alas precisos. A defesa é segura. Razões de sobra para estudá-los.
Por isso, Tite escala Vinicius Junior e propõe a estreia mais ofensiva desde o Brasil de Telê, em 1982.
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Paulo Vinicius Coelho é jornalista, autor de ‘Escola Brasileira de Futebol’, cobriu seis Copas e oito finais de Champions