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Pantera Negra: Nada de novo no front

Pantera Negra: Nada de novo no front

Dois anos após a morte precoce de Chadwick Boseman, aos 43 anos, o trauma ainda é visível para a Marvel e os produtores de Pantera Negra. Mesmo tentando seguir em frente, “Pantera Negra – Wakanda para Sempre” (2023), precisa viver o luto pela morte real e cinematográfica do ator / personagem e conectar isso à própria construção mitológica da empresa no cinema, inserindo novos personagens e fazendo as tramas se amarrarem.

Assim, o diretor Ryan Coogler (que dirige o filme e escreveu o roteiro com Joe Robert Cole) tinha uma missão espinhosa nas mãos. Na primeira parte, no funeral do rei Tchalla até a reorganização de Wakanda como reino em transição e abertura, ele consegue dar conta. As homenagens são bonitas e toda a estrutura política funciona graças ao talento inquestionável de Angela Basset, como a rainha Ramonda, que rouba as cenas quando aparece.

O visual continua rico na composição afrofuturista e a trilha sonora do experiente Ludwig Göransson dá o suporte emocional adequado para que os espectadores se envolvam com tudo que acontece no país fictício. E a introdução da nação de Namor é ótima por conectarem às origens dos povos originários latinos, inclusive em pinturas e vestimentas, apesar da origem do personagem e seu exército soar apressada e fora de foco. Os efeitos especiais parecem seguir o padrão atual da Marvel, revezando entre boas sequências de ação, e CGI ruins. A cidade submersa de Talocan, por exemplo, é escura e sem muita definição.

Infelizmente, o roteiro não faz jus ao pretendido e fica muito longe da qualidade do primeiro filme, de 2018. Ali, havia um clima de fascinação e ineditismo que ficou trás. A trama é arrastada e o uso do vibranium para criar os conflitos da trama parecem não se amarrar e toda a justificativa da guerra parece um jogo de infantilidade entre as nações. A introdução da Coração de Ferro, Riri Williams parece jogada no meio da história apenas para justificar a vindoura série dela no ano que vem.

Menos mal que os atores conseguem segurar os personagens, mesmo aqueles que possuem pouco tempo de tela e função na história. Tenoch Huerta traz a inteligência e o cinismo de Namor dos quadrinhos, enquanto Dominique Thorne é engraçada e carismática como Riri. Assim como Basset, o núcleo principal de Wakanda continua afinado. Danai Gurira (Okoye) e Winston Duke (M’Baku) estão confortáveis no papel, assim como Lupita Nyong’o, que ganha importância na trama. Letitia Wright segura a carga dramática de ser elevada para protagonista do enredo com a nova Pantera, apesar do ranço gerado por sua postura antivacina nos EUA.

“Pantera Negra – Wakanda para Sempre” é a Marvel jogando num terreno confortável, mesmo que isso tenha prejudicado o filme, assim como várias produções recentes da produtora. É produto para agradar os fãs, mas que afasta cada vez mais quem curte cinema bom e bem feito, mesmo as superproduções atuais. Sobra planejamento, mas falta ousadia.