Dr. Responde

Alopecia areata deixa falhas no couro cabeludo 

Em casos mais graves, o paciente tem a perda completa dos fios de cabelos. Foto: Freepik
Em casos mais graves, o paciente tem a perda completa dos fios de cabelos. Foto: Freepik

Cintia Magno

A perda de cabelo de forma localizada, gerando placas arredondadas sem fios no couro cabeludo pode ser sinal da alopecia areata, doença autoimune que agride os folículos dos cabelos e pelos, fazendo com que eles caiam. Ainda que se compreenda bem como a doença costuma agir no organismo, não é possível identificar exatamente o que a desencadeia.

O médico dermatologista, professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Walter Refkalefsky Loureiro, explica que a Alopecia areata é uma doença autoimune porque o próprio organismo do indivíduo faz uma agressão contra ele mesmo. “A gente não sabe exatamente por que ela começa, mas o organismo entende que o folículo do pelo é estranho ao próprio organismo e ele causa uma inflamação naquele folículo, que faz com que ele caia”.

Nesse sentido, a doença se manifesta com uma queda de cabelos que ocorre muito facilmente quando a pessoa puxa os cabelos ou mesmo por queda espontânea. Quando a queda de cabelo ocorre, deixa um aspecto, na maioria das vezes, bem liso no couro cabeludo, que é o lugar mais frequente de ocorrência da doença. “Geralmente, se formam áreas bem redondas onde falta o cabelo, por isso, o nome popular que se dava e que até alguns livros de dermatologia ainda se referem dessa maneira, é ‘pelada’. É como se ficasse, realmente, uma área pelada de cabelo”, aponta o dermatologista. “Os primeiros sinais da doença são a queda dos pelos, que pode ser no couro cabeludo, que é o mais frequente de todos, mas que também pode acontecer nas sobrancelhas, nos cílios, nos braços e até mesmo na região pubiana. Mas a queda dos pelos, tanto espontaneamente, quando eles caem sozinhos, quanto quando a pessoa está penteando o cabelo ou mesmo puxando, é a característica mais frequente e mais precoce”.

Dos 20 aos 40 anos – Alopecia acomete jovens adultos 

O médico dermatologista, professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Walter Refkalefsky Loureiro aponta que a alopecia areata é mais frequente nas pessoas entre os 20 e 40 anos de idade, sendo esse o grupo onde a doença tem uma incidência maior. Depois dessa faixa etária, a maior ocorrência se dá em pessoas mais jovens, de 1 até os 20 anos de idade e, por último, o grupo mais acometido são as pessoas que estão acima dos 60 anos de idade.

“Com relação ao gênero, ela é mais comum nas mulheres, do que nos homens, de uma maneira geral. Mas, nas crianças, costuma ser mais comum nos meninos, do que nas meninas”, aponta. “Embora a gente entenda muito bem o mecanismo da doença, de como ela se comporta e o tratamento, a gente não sabe exatamente qual é o mecanismo que desencadeia, o que faz com que seja muito difícil fazer uma prevenção. Tem pessoas que associam com o estresse, mas isso não é algo comprovado. Então, a gente não sabe qual é o motivo, o que a gente sabe é que ela é mais associada a outras doenças autoimunes, como Lúpus, Artrite Reumatoide, Vitiligo, alguns tipos de anemias que também são autoimunes”.

Tratamentos

Walter Refkalefsky Loureiro explica que, hoje, se tem diversos tratamentos para a alopecia areata e eles focam, basicamente, em duas coisas: uma é em interromper o processo de queda, sendo que, para isso, é feito uso de medicamentos que são anti-inflamatórios ou imunossupressores e que atuam para diminuir a reação inflamatória do próprio organismo agredindo o folículo; o outro foco está nas estratégias para estimular o crescimento do cabelo novamente, depois que já foi parado o processo inflamatório. Neste segundo caso, o dermatologista aponta que existem medicamentos que estimulam e alguns procedimentos que podem ajudar nesse processo.

“Antigamente, se falava de cura de alopecia areata porque, muitas vezes, você tinha isso na infância e depois nunca mais tinha na vida. Mas se viu que algumas pessoas podem ter surtos na infância e depois ter de novo na vida adulta. Então, hoje em dia se fala em remissão. A pessoa pode ter um surto na infância, ficar com a doença em remissão durante muitos anos e, eventualmente, ter um surto de novo na vida adulta”, esclarece. “Mas existem aqueles casos mais graves em que a gente não consegue controlar e que a pessoa, realmente, caminha para uma perda completa dos fios de cabelos, frequentemente na cabeça, seja no couro cabeludo, sobrancelhas, cílios, e que é muito difícil da gente conseguir controlar e repilar. Ainda bem que temos novas esperanças com novos medicamentos biológicos que estimulam o crescimento e conseguem uma boa repilação desses pacientes, mas ainda são experimentais”.

O dermatologista, esclarece, ainda, que a queda de cabelo tem muitas origens diferentes, o que diferencia a queda provocada pela alopecia areata é justamente o caráter autoimune da doença. “Pode haver queda de cabelo por uma inflamação, por uma carência de nutrientes, pode ser uma queda de cabelo pós alguma doença, como a gente viu muito na Covid-19, pode haver queda de cabelo pelo envelhecimento, pela ação hormonal pós-gravidez, então, existem diversos tipos de queda de cabelo. O que diferencia especificamente a alopecia areata das outras é que ela é uma doença autoimune, que é o próprio organismo que está agredindo o cabelo”.

Outra característica da doença, segundo o médico, é que a queda de cabelo provocada pela alopecia areata é não cicatricial, o que significa dizer que a agressão não é grande o suficiente a ponto de causar uma cicatriz no cabelo, o que deixa uma expectativa de que possa voltar a crescer cabelo no lugar. Mas o dermatologista alerta que cada caso precisa ser analisado isoladamente. “A gente não pode criar falsas expectativas. Cada paciente é diferente do outro. Geralmente, pessoas que têm placas únicas, uma única lesão com menos de 10 centímetros, são melhores candidatas para repilação até espontânea”, aponta. “E aquelas pessoas que têm muitas placas ou placas em mais de uma área, pessoas que já tiveram vários surtos ao longo da vida são pessoas que têm uma chance de repilação menor. Então, precisa ser visto caso a caso e discutido com o paciente, individualmente, o que a gente tem de perspectiva de tratamento, o quanto vale a pena investir, de que maneira, os benefícios e os riscos de cada um desses medicamentos e, em conjunto, tomar a decisão para ter o melhor tratamento possível”.