ALEX SABINO E LUCIANO TRINDADE
DOHA, QATAR (FOLHAPRESS)
Na corrida pelo álcool na Copa do Mundo, os prevenidos levaram vantagem. Torcedores com contatos no Qatar tiveram ajuda para estocar bebidas em seus apartamentos alugados para o Mundial.
A reportagem conversou com dois turistas que estão no país por causa do futebol e uma residente do Qatar que os auxiliou a comprar e guardar álcool. Os nomes serão preservados a pedido dos entrevistados.
A cerveja se tornou o centro da polêmica do maior evento esportivo do planeta, que começa neste domingo (20), quando o Qatar enfrenta o Equador. Na última sexta-feira (18), a monarquia da nação árabe, por meio do Comitê Supremo para Entrega e Legado, decidiu banir a venda da bebida dentro dos estádios e em seus arredores.
A Budweiser, patrocinadora oficial da Copa, pagou US$ 75 milhões (cerca de R$ 450 milhões) pelo direito de comercializar seus produtos. A empresa foi surpreendida pela decisão, embora o governo já tivesse dado ordem anterior para que os estandes da companhia norte-americana fossem movidos para locais menos visíveis.
A Fifa, apesar de ter anunciado que a medida foi de comum acordo, não esperava que a proibição ocorresse. Para dirigentes, o Qatar aguardou até o momento em que não houvesse mais tempo para um movimento de revogação do veto ao álcool nas arenas.
Um italiano e um uruguaio ouvidos pela reportagem, preocupados com as notícias da dificuldade de comprar cervejas no país, pediram ajuda a uma estrangeira que mora no Qatar e possui cartão de residente. Com ele, é possível ir a centro de distribuição estatal fora de Doha ou aos poucos pontos autorizados a vender bebidas alcoólicas, comprar o produto e levá-lo para casa.
Nesses casos, ela levou para os apartamentos alugados pelos turistas. A moradora disse que conhece outras pessoas que fizeram o mesmo para amigos que viajaram a Doha.
Os dois turistas investiram cerca de US$ 600 (pouco mais de R$ 3.200) cada um para garantir um estoque de cerveja e vinho durante a competição, que termina em 18 de dezembro.
O consumo de álcool não é permitido pelo islamismo, a religião oficial do Qatar. Ser visto bêbado na rua é considerado crime.
A cerveja, no entanto, está banida apenas nos perímetros dos estádios e dentro deles. Não é difícil consumi-la em Doha, desde que se tenha uma boa condição financeira. O álcool está liberado em bares autorizados pelo governo, que ficam principalmente dentro de hotéis. Um copo de 500 ml de cerveja é vendido por cerca de 50 riais do Qatar (cerca de R$ 74).
No dia seguinte à proibição, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse que se sente árabe, em uma forma de dar apoio ao primeiro Mundial realizado na região. Uma escolha criticada desde que o Qatar venceu a eleição, em dezembro de 2010. Na semana passada, o suíço Joseph Blatter, ex-presidente da entidade, disse que a escolha foi um erro.
“Claro que não sou qatari, não sou árabe, não sou africano, não sou gay, não sou deficiente. Mas sinto vontade, porque sei o que significa ser discriminado, sofrer bullying, como um estrangeiro em um país estrangeiro. Quando criança, sofria bullying porque tinha cabelo ruivo e sardas, além de ser italiano”, declarou Infantino.