Trayce Melo
Grande parte dos brasileiros não está conseguindo pagar as contas e juntar dinheiro, principalmente no contexto econômico atual que o país vive, no qual o desemprego atinge patamares altíssimos e a inflação castiga a população. Além do impacto tangível, existe outro aspecto sobre o qual a dívida tem grande influência, que é o efeito na saúde mental e emocional do indivíduo.
Um levantamento recente feito pela pesquisa de Endividamento do Brasileiro (Serasa) mostrou que, entre os perfis do brasileiro endividado, estão: os tipos de dívidas; motivos que levaram ao endividamento; tempo médio de atraso; comportamento do indivíduo e impactos no emocional e nas relações interpessoais.
Mas entre entre os principais os fatores que podem estar contribuindo para o aumento da dívida estão a diminuição de renda causada pela pandemia (desemprego) e fatores emocionais gerados pelas dívidas.
A pesquisa ainda revela que na região Norte, cerca de 81% dos endividados sofrem de insônia por conta das dívidas e 75% têm pensamentos negativos devido aos débitos vencidos.
Já 71% afirmam ter dificuldade de concentração para realizar tarefas diárias, enquanto 58% dos entrevistados sentiram impacto no relacionamento conjugal, 56% viveram ou vivem sensação de “crise e ansiedade” ao pensar na dívida, 49% dos pesquisados revelam sentir “muita tristeza” e “medo do futuro”, 46% dos entrevistados têm vergonha da condição de endividado, 30% não se sentem mais confiantes em cuidar de suas próprias finanças e 31% sentiram impacto das dívidas no relacionamento com familiares.
Foram ouvidas 5.225 pessoas em todas as regiões do país, que revelaram um cenário psicológico preocupante.
CONFIANÇA
Por outro lado, o estudo também traz alguns dados animadores, como o fato de que 71% dos respondentes da região Norte revelam ter confiança em quitar a dívida e recuperar o crédito e 55% passaram a conversar com os familiares sobre a importância de reduzir os gastos da casa e buscar soluções conjuntas.
Com a queda leve do endividamento no Brasil nos indicadores do país, o desemprego ainda é considerado o principal motivo de endividamento, apontado por 29% dos entrevistados, de todo o Brasil, pela Pesquisa da Serasa. Na sequência, aparece a causa da redução na renda própria (12%). Um fato que chama atenção no estudo é que 11% dos pesquisados em todo o país revelam ter emprestado o nome para um amigo, conhecido, colega ou familiar e este nunca honrou com o compromisso financeiro assumido.
Fábio Rodrigues, empresário, conta que no começo da pandemia sofreu muito. “Quando iniciou a pandemia, eu passei por momentos muitos complicados, sofria de insônia. Tudo era muito incerto, o mercado estava fechado e as contas não paravam de chegar. Graças a Deus consegui dar um jeito nas finanças, mas novamente estou passando por isso após as eleições, estou tendo uma baixa procura de clientes, a questão econômica do Brasil é muito imprevisível com a transição de Governo”, relata.
Já Cleide Moraes, 63, aposentada, não está conseguindo pagar as contas em dia. “Ando muito endividada, devendo os cartões de crédito e cada vez vai se tornando uma bola de neve. Essa questão tem me afetado muito psicologicamente, tem dias que não sei o que vou comer. Alguns amigos têm me ajudado com as refeições e emprestado
dinheiro”, desabafa.
Para Plinio Oliveira, 30, mecânico, o que mais lhe preocupava no auge da pandemia era conseguir pagar o aluguel da residência onde mora. “Foi muito complicado no auge da pandemia, não dormia direito, porque tivemos de fechar as portas da oficina, tinha contas para pagar e o aluguel da casa, cheguei a atrasar durante três meses. Ainda que a dona do imóvel entendeu nossa situação naquele momento”, lembra.