Cintia Magno
Caracterizada como uma doença autoimune, a Síndrome de Sjögren acomete principalmente as glândulas produtoras de lágrimas e salivas, levando a um ressecamento dos olhos e da boca do paciente. Com isso, um dos principais indicativos da doença é a sensação de ‘areia’ nos olhos e a boca muito seca, o que ocasiona a uma dificuldade de engolir e até mesmo de conversar. Apesar dessas características serem as que mais chamam a atenção na doença, não são as únicas.
O reumatologista, Dr. Rodrigo de Oliveira, explica que a Síndrome de Sjögren também pode acometer outras glândulas do trato intestinal, do trato pulmonar, causando tosse seca, por exemplo, além de acometer outros órgãos fora das glândulas. “Também pode ser acometido o pulmão do paciente, ele apresenta inflamação do pulmão, o que chamamos de pneumonite; pode ter acometimento das articulações, levando à artrite; pode ter acometimento dos pequenos vasos, levando a pequenas vasculites; pode ter acometimento de nervos, alterações de neuropatia periférica, por exemplo; pode ter acometimento renal e é frequente, inclusive, levando a alterações dos túbulos renais e até mesmo inflamação nos rins”.
DIAGNÓSTICO
Justamente por apresentar manifestações tão heterogêneas, pode acontecer de a doença acabar não sendo diagnosticada de pronto. Para fazer o diagnóstico, o reumatologista orienta que, primeiro, é preciso ter a suspeição clínica. “Muitos oftalmologistas têm a oportunidade de avaliar os pacientes com os olhos secos. Muitas vezes, como é uma queixa muito frequente, acabam passando apenas um lubrificante, o paciente fica bem e para por aí. Mas, quando as manifestações são muito intensas, às vezes até fazendo inclusive uma úlcera de córnea e, porventura, a perspicácia do médico faz com que ele suspeite que possa ter algo por trás disso, você pode lançar mão de alguns exames laboratoriais, exames de sangue que possam evidenciar essa autoimunidade, como a presença de autoanticorpos que atacam o próprio organismo”, explica. “Além disso, pode fazer a biópsia de pequenas glândulas da mucosa da boca que permitem ver se tem infiltrado de inflamação nas glândulas salivares. Com base nos quadros clínicos, achados laboratoriais e, muitas vezes, nessa biópsia é possível fechar o diagnóstico”.
Causas da Síndrome de Sjögren
Até pela característica de ser uma doença autoimune, portanto que não se conhece uma causa única, não há um perfil específico de paciente que costuma ser mais acometido pela Síndrome de Sjögren. O reumatologista Rodrigo de Oliveira aponta que é mais comum que paciente também apresente outras doenças reumáticas. “A gente não sabe a causa da doença. Sabemos que pode haver fatores predisponentes, eventualmente desencadeadores virais, e que algumas outras doenças reumáticas podem trazer a Síndrome de Sjögren secundária. O paciente que tem artrite reumatoide tem uma chance maior de ter Síndrome de Sjögren, assim como o paciente que tem Lúpus ou Esclerose Sistêmica” relaciona. “Em resumo, se tem a importância de suspeitar da doença. Uma especialidade que, geralmente, o paciente acaba procurando é o oftalmologista e outro é o dentista, que pode advir com pacientes com uma deterioração importante dos dentes e da saúde bucal. Eventualmente, essa paciente também pode procurar o ginecologista pelo ressecamento vaginal que também pode ser ocasionado e quando você tem acometimento neurológico, renal, os respectivos especialistas, na investigação, também precisam pensar em doenças reumatológicas autoimunes, entre elas a Síndrome de Sjögren. Muitas vezes, nessas situações, o reumatologista é chamado para avaliar o paciente”.
“O paciente que tem artrite reumatoide tem uma chance maior de ter Síndrome de Sjögren, assim como o paciente que tem Lúpus ou Esclerose Sistêmica”
Rodrigo de Oliveira, médico reumatologista
É preciso estar atento aos sinais da doença
Por se tratar de uma doença crônica, a Síndrome de Sjögren não tem cura, porém, o diagnóstico precoce favorece a eficácia do tratamento no que se refere ao controle desta que é uma doença inflamatória autoimune, em que o sistema imunológico se volta contra glândulas do próprio organismo do paciente, gerando uma secura no corpo.
Nesse sentido, a reumatologista Natasha Valente alerta que é preciso ficar atento aos sinais da síndrome. “Os principais sintomas são a secura nos olhos e na boca, sendo que algumas pessoas, por essa secura, acabam apresentando lesões como, por exemplo, úlcera de córnea. Algumas pessoas também apresentam muito mais infecções na região oral, na gengiva, nos dentes e uma ida ao oftalmologista e ao dentista para fazer exames de rotina podem sinalizar essas alterações”.
Além disso, Natasha aponta que a fadiga é frequente nesses pacientes, gerando a sensação de cansaço o tempo inteiro, além de dores crônicas no corpo, ou seja, que duram mais de três meses. “Esse é um padrão principal, muito frequente em todos os pacientes, mas existe um perfil em que, além disso, os pacientes apresentam o acometimento de órgãos. Em geral, são as lesões inflamatórias de pulmão, no rim, na pele, no sistema nervoso central e ainda em outros órgãos”, aponta.
Vida saudável ajuda no controle
“Não há cura, mas há controle da Síndrome de Sjögren. Atualmente, uma medicação que usamos como tratamento básico dos pacientes é a hidroxicloroquina. Dependendo do acometimento, da manifestação no corpo e da gravidade, nós utilizamos imunossupressores, medicações que estão direcionadas ao sistema imunológico e que reduzem a inflamação para, assim, levar o paciente a apresentar menos sintomas e menos danos aos órgãos”, explica a médica Natacha Valente.
Além do tratamento medicamentoso, especialista também destaca outros cuidados que contribuem com o controle da doença. “A gente não tem dúvidas que, fora as medicações, o tratamento que envolve a alimentação correta, exercício físico, controle de estresse, também é super importante para manter o sistema imunológico melhor possível, ajudando no tratamento com as medicações, inclusive”.