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Nicolas Cage e o peso da autodepreciação

Nicolas Cage e o peso da autodepreciação

Nicolas Cage tem uma das carreiras mais curiosas de Hollywood. Afora ser sobrinho do diretor Francis Ford Coppola, ele fez sucesso na década de 1980 e 1990, não necessariamente sendo um grande ator, mas tendo muita sorte (e um pouco de influência, claro) na hora de escolher seus projetos.

Nas mãos de grandes diretores, ele se sobressaria, inclusive ganhando um Oscar por “Despedida em Las Vegas” (1996). Entretanto, suas limitações dramáticas, digamos assim, ficavam visíveis em vários trabalhos e muitas das suas interpretações ganharam a internet, tornando ele uma das figuras mais “memeáveis” no showbusiness.

Se você tem Nicolas Cage e Pedro Pascal, não tem como dar totalmente errado. Foto: Divulgação

Mesmo assim, participou de uma sequência invejável de clássicos por duas décadas, seja nos dramas, comédias românticas ou na ação, sendo celebrado como um campeão de bilheteria e um astro merecedor da fama.

Contudo, um processo de falência nos anos 2000, graças a divórcios e um estilo de vida pitoresco e exorbitante, ele acabou tendo que fazer uma penca de filmes de baixo orçamento, além de narrativa e esteticamente duvidoso.

Em um espaço de tempo de 6 anos, ele chegou a rodar 33 filmes, sendo impossível um ator manter um padrão com essa persona criada para si próprio.

É nesse dilema real que repousa a graça de “O Peso do Talento” (2022), filme do diretor Tom Gormican (que só tem mais uma obra no currículo como diretor). E funciona por que Cage abraça a autodepreciação diante do roteiro que brinca com a vida pregressa dele.

Aqui ele vive Nick Cage, astro decadente distante da filha e afundado no álcool, que é contratado para a festa de aniversário de um magnata, mas acaba envolvido em uma trama de crime internacional.

As piadas metalinguísticas e apoiadas em um pastiche da vida real garantem boas risadas e o trabalho de Gormican tem no carisma inquestionável de Pedro Pascal um trunfo a mais. Cage e Pascal exalam química em tela e são a força motriz de um roteiro que não é bom (pois apoiado em todos os clichês possíveis de ação e superação), mas não compromete a diversão.

Há até algumas ousadias possíveis, como ter uma versão mais jovem do próprio rondando a cabeça do ator, em um efeito especial bizarro, mas que cabe na proposta geral. De resto, não há nada demais.

Um feijão com arroz simples, bem feito e capaz de fazer um ator com uma história de ascensão e queda rir de si mesmo. É mais do que a maioria dos colegas de trabalho consegue fazer. Está disponível no Prime Vídeo. Para assistir confortável no sofá de casa.