Texto: Aline Rodrigues
Os 150 anos do livro “O Nascimento da TragObra édia no Espírito da Música”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, serão celebrados a partir desta quinta, 10, pela Faculdade de Filosofia e pela Pós em Filosofia da Universidade Federal do Pará (UFPa), com várias conferências sobre a publicação que despertou polêmica pela ousadia da abordagem e pela militância estética em favor do músico alemão Richard Wagner, e que se tornou uma das obras mais influentes do século 20.
O evento abre hoje, às 10h, no Auditório do Intituto de Letras e Comunicação, com a conferência “Nascimento da Tragédia, Antiguidade e Modernidade”, com a participação do professor doutor Roberto Barros. Às 11h15, “Quatro Personagens Conceituais do Nascimento da Tragédia” é o tema da segunda conferência do dia, que terá à frente o prof. Dr. Ivan Risafi.
OBRA FOI CRITICADA NA ÉPOCA DO LANÇAMENTO
Na época em que o livro foi lançado, os primeiros leitores, com raras exceções, o criticaram com veemência. Isso porque ele questionava interpretações tradicionais arraigadas na filologia alemã. “Hoje o livro não apenas foi reabilitado como uma das mais originais contribuições contemporâneas sobre os estudos sobre a Grécia, mas também, e principalmente, na minha opinião, um livro que abre diversas frentes de interpretação de temas de grande atualidade, como a contraposição instinto versus racionalidade, civilização versus cultura, etc”, falou Henry Burnett Jr, professor de Filosofia da Unifesp, que abre o segundo dia de programação, amanhã, 11, no mesmo local, com a conferência “Ensaio de Autocritica, ante um olhar mais velho, cem vezes mais exigente, mas
não mais frio”.
Na conferência, o professor irá reler o prefácio que Nietzsche escreveu 16 anos depois da 1ª edição, quando reeditou a obra tentando mudar algumas perspectivas que lhe pareciam equivocadas em 1872.
“O livro foi novamente traduzido para o português pelo Paulo César de Souza, e há um interesse renovado dos jovens pesquisadores por ele, especialmente, muitos dos seus pressupostos aparecem direta e indiretamente em obras importantes para o debate contemporâneo sobre a causa indígena, como é o caso do livro de Eduardo Viveiros de Castro, ‘Metafísicas Canibais’, que como livro ‘deleuziano”, acaba prestando contas com Nietzsche através do conceito de ‘perspectivismo’”, destaca Burnett.
VISÃO DE NIETZSCHE A PARTIR DE WALTER BENJAMIN
E ainda na sexta, às 11h15, é a vez do professor Ernani Chaves com o tema “Entre Mitos e Histórias: Walter Benjamin, Leitor de O Nascimento da Tragédia”.
Sobre o livro, Ernani comenta que ele tem duas ou três ideias centrais. E detalha uma delas, de que a tragédia nasce da reconciliação entre dois impulsos, em princípio opostos: o apolíneo, que representa beleza e proporção, e o dionisiaco, que representa desordem e êxtase. “Então, para Nietzsche a tragédia grega surge de uma reconciliação entre a face da beleza (apolínea) e a face do desregramento (dionisiaca)”, diz.
“Se trata para Nietzsche de dizer que, se por um lado a gente não pode excluir a dor, o sofrimento e a morte, pode encarar esse acontecimento de outra maneira. E encarar isso de outra maneira significa valorizar a vida, intensificar todas as forças e potências da vida”
Essa reconciliação implica então em transformar o sofrimento. “Se trata para Nietzsche de dizer que, se por um lado a gente não pode excluir a dor, o sofrimento e a morte, pode encarar esse acontecimento de outra maneira. E encarar isso de outra maneira significa valorizar a vida, intensificar todas as forças e potências da vida”,
completa Ernani.