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Um sonho de Roqueiro (10/11/2022)

Neil Young exibindo a capa de "Harvest"
Neil Young exibindo a capa de "Harvest"

Comecei a gostar de rock and roll quando tinha 12 anos ouvindo “Rock Around the Clock” pelo rádio, com Bill Haley & His Comets. Aquela música realmente mexeu comigo, não me saía da cabeça. Depois veio Pat Boone, galã do cinema e dono de uma voz grave belíssima. Adorava escutá-lo com “Don’t Forbid Me” e “Bernardine”. Aí chegou Elvis Presley, nos filmes, com aquela dança que eu não tinha coragem de imitar (podiam me estranhar…). Só sei que o curtia cantando “Teddy Bear” e “Surrender”. Não tinha certeza, àquela altura, se já poderia ser chamado de projeto de roqueiro apenas por causa disso. O fato é que o rock era a minha música, em que pese também me impressionar com Frank Sinatra e Bing Crosby, que faziam jazz-romântico. Talvez me julgasse roqueiro só pelo fato de ignorar olimpicamente a João Gilberto e a bossa nova que papai Edyr tanto elogiava ao chegar em casa. Não queria saber de ambos.

Beatles e Rolling Stones pareceram ter vindo a seguir para me pregar definitivamente aquele tão almejado rótulo. Eles, Roberto Carlos e toda a turma da Jovem Guarda, só despreguei ao conhecer a Tropicália de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e os Mutantes. Dali para a frente pude perceber a existência de outras vertentes sensacionais, outrora ignoradas. Três delas: o forró, o samba de raiz e a bossa nova.

Já estudante e jornalista, passei a escrever nos jornais sobre minha empolgada descoberta. Mesmo assim, a alma roqueira teimou em não se aplacar. Quando assistia aos grupos Os Orientais (só de filhos de japoneses) e The Kings (este dirigido pelo maestro Adelermo Matos com o Bob Freitas, magrinho, na guitarra), no último coreto da Praça da República, atrás do Theatro da Paz, me batia o sonho de ser cantor do gênero. E isto já irradiando futebol e tudo, aos 20 anos de idade.

Agora, pasmem: o projeto de roqueiro aqui jamais aprendeu a falar inglês. Apenas repetia o que ouvia, sem entender patavina. O acalentado sonho desmilinguiu-se uma noite de quarta-feira, à entrada de um porão na rua Alcindo Cacela. Acompanhado pelo violão de meu saudoso amigo Tony Castro, então brilhante baixista do grupo Panteras Negras, eu cantarolava faixas do disco “Harvest”, de Neil Young, fazendo também fraseados de gaita de boca. Imaginei estar dando um show. Foi quando um senhor de seus sessenta anos, às proximidades, indagou: “o que vocês estão cantando? Por acaso, entendem?”. Íamos responder de forma agressiva. O cara, afinal, cortara nosso barato. Mas ele foi simpático e cirúrgico. “Não cantem em inglês sem saber o que estão cantando. É ridículo. Transmitam mensagens claras e inteligentes. Ah, sim! E ensaiem mais…”. Ficamos mudos, incrédulos, vendo nosso crítico ir embora na maior calma.

Tony continuou nos Panteras (depois foi para o Banco do Brasil). Eu, tempos depois, andei tocando chorinhos na gaita de boca, acompanhado pelo grupo do Gino do Cavaco, ocasionalmente. Um domingo de carnaval cheguei inclusive a puxar o Quem São Eles, na Praça da República, como cantor. A alma roqueira, assim, finalmente parecia ter se aplacado. O sonho de ser John Lennon ou Paul McCartney também.

Acho que o melhor mesmo foi só ter ficado fazendo a “Feira do Som” que, em síntese, reunia todos os projetos descendentes daquele velho devaneio. É, mas o diabo é que ainda gosto de Elvis, Beatles, Pat Boone, Stones e Neil Young como se o tempo não tivesse passado. O sonho, sem dúvida, diminuiu muito. Mas, rigorosamente, ainda não se despediu de mim por completo em plenos 71 anos de idade. Eita, velho chato!

Talvez seja melhor esperar pela próxima
reencarnação….

 

O jazz nordestino de Jorge Helder

Capa de Caroá, Jorge Helder

Aos 60 anos de idade, o gorduchinho Jorge Helder já pode ostentar o título de o mais disputado baixista da melhor MPB. Já tocou em mais de 300 lançamentos fonográficos da área. É o preferido de Chico Buarque, do qual, inclusive, já foi parceiro em duas composições. Malgrado tantos recordes obtidos nos estúdios, como solista, Jorge somente agora chegou ao seu segundo disco. “Caroá”, bromélia de flores vermelhas e rosadas da caatinga, inspirou não somente o título, como também a ambientação sonora do projeto. Cearense de Fortaleza, ele concedeu ao disco um notável tipo de jazz nordestino. O saxofonista Zé Nogueira deu show de bola em “Impressão Perfume”, Zé Renato, Monica Salmaso e Sérgio Santos fizeram vocalizes incríveis em “Migulim”, “Lugar Sem Tempo” e “Santos de Casa”; e Helio Alves (piano), Marcelo Costa (percussão), Chico Pinheiro (guitarra) e Tutty Moreno (bateria) formaram o invejável grupo de apoio do músico. Jorge Helder brilhou. Só faltou o Chico ter participado da festa.

 

Quinta-feira, a antessala do final de semana, o dia em que a gente já toma a primeira…

PARA MATAR A SAUDADE DO BIRA

Hoje, passado um ano do falecimento do cartunista, compositor e chorão Bira Porto, sua família e amigos o recordarão em um encontro festivo, marcado para às 20h, no Espaço Savieira (Tamoios, entre Padre Eutíquio e Apinajés). Bira receberá homenagens da Casa do Gilson e da Confraria do Chapéu Panamá.

LEVE

A cantora Simone Almeida lança amanhã seu novo EP. “Leve” ganhará show no Sesc Ver-o-Peso, às 19h, contando com as participações de Renato Rosas e Ruan Lennon. Trabalhadores do Comércio e dependentes nada pagarão. Ao outros, terão de desembolsar R$ 5, sendo que estudantes e titios pagarão somente R$ 2,50.

TAPAJAZZ

Vem aí o Tapajazz. Será em Alter do Chão, Santarém, dias 24, 25 e 26 do corrente. Na primeira noite, subirão ao palco Canto de Várzea e Trio Lobita. Dia seguinte, Alan Gomes, Zé Paulo Becker e Delcley Machado. No encerramento, Michael Pipoquinha, Pedro Martins, Filó Machado, Jane Duboc e Amazônia Jazz Band.

Quinta-feira, a antessala, divirtam-se!