O médico Pedro Pardal, que é Doutor em Doenças Tropicais, com atuação, principalmente, nas áreas de animais peçonhentos, envenenamentos e intoxicação, alerta sobre acidentes com escorpião na Amazônia.
Ele será um dos conferencistas do 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), que será realizado, em, Belém, de13 a 16 de novembro, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, abordando o tema “Acidentes humanos por Tityus obscurus. Sua relevância nos acidentes por aracnídeos no estado do Pará”.
Segundo Pedro Pardal, a gravidade das manifestações clínicas no paciente picado por escorpiões depende da quantidade de veneno inoculado e da quantidade, que pode levar a um quadro clínico leve, moderado e até grave. “No caso de picada de escorpião, a vítima deve, se possível, capturar o animal ou tirar uma foto e procurar o atendimento médico o mais breve possível, para receber o tratamento. Os casos leves, não necessitam de antiveneno, somente os casos moderados e graves”, explicou.
Ele informou que, no Brasil, existem cerca de 180 espécies de escorpiões, dentre as quais quatro espécies são consideradas de importância médica, todas do gênero Tityus, entre eles o T. serrulatus, que é encontrado no Centro Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste e considerado, segundo Pedro Pardal, “o mais perigoso estando associados aos acidentes de maior gravidade envolvendo crianças”.
Outros escorpiões do gênero Tityus de importância médica são o T. bahiensis, encontrado no Sudeste, Sul, Nordeste e Centro Oeste; o T. stigmurus, achado no Nordeste e o T. obscurus, que é encontrado nos estados do Pará, Amapá e Mato Grosso. “Na Amazônia, os principais agentes do escorpionismo são o T. obscurus, T. silvestris e T. metuendus, esse último especialmente no estado do Amazonas”, ressaltou o médico.
Conforme Pedro Pardal, os acidentes e envenenamentos por escorpiões são considerados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), um evento negligenciado, com cerca de um milhão e 200 mil acidentes anuais no mundo.
Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação apresentados pelo médico apontam o registro de 759.783 acidentes por escorpiões no Brasil, no período de 2017 a 2021, com média de 151.956 casos anuais; sendo os estados de Minas Gerais, Bahia e S. Paulo com maiores números de casos. “Só na região Norte, foram 26.058 acidentes, correspondendo a 3,42% do total de casos do Brasil, dos quais 10.004 (38,39%) foram registrados no Pará.
Sinais e sintomas
Uma das observações feitas por Pedro Pardal é que há diferenças entre as manifestações clínicas das vítimas do escorpião T. obscurus da Região Metropolitana de Belém (RMB) e as da região Oeste do Pará. “Em Santarém, Rurópolis, Novo Progresso, Itaituba, Monte Alegre, Oriximiná, etc., as vítimas apresentam uma clínica com manifestações neurológicas exuberantes, com ataxia de marcha (alteração do movimento de andar), dismetria (incapacidade de direcionar ou limitar adequadamente os movimentos), mioclonia (contração muscular involuntária que gera movimentos bruscos), sensação de choque pelo corpo. Já nos municípios de Belém, Ananindeua, Benevides, e outros da RMB, não apresentam esta manifestação citada para a região Oeste.
Pedro Pardal explicou que a causa das diferenças sintomáticas está na composição do veneno do T. obscurus. “No entanto, ainda não existe um estudo científico que esclareça qual componente do veneno leva a essas manifestações neurológicas nas vítimas da região Oeste”, concluiu.
Medidas preventivas
As principais medidas para a população evitar acidentes com escorpiões são as seguintes:
- Manter vedadas frestas e buracos em assoalhos, rodapés e paredes;
- Usar luvas e calçados fechados, ao realizar atividades rurais ou de jardinagem;
- Examinar o interior de calçados, roupas, lençóis e toalhas de banho antes de usá-los.
- Manter a limpeza do ambiente e armazenar o lixo em local adequado;
- Limpar periodicamente os terrenos baldios próximos às residências e não deixar entulhos próximos ao muro ou cerca.