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Parazão feminino: jogadoras têm que encarar jornadas duplas ou até triplas

Matheus Miranda

Neste segundo semestre de 2022, o futebol feminino tem sido um dos grandes responsáveis por manter a paixão do torcedor paraense em alta com a disputa do Campeonato Paraense. Com a presença das grandes equipes, o desempenho dos times é de dar inveja ao masculino com performances imponentes, dribles desconcertantes e goleadas históricas. Em meio aos destaques no gramado, histórias de superação marcadas, às vezes, por duplas jornadas entre esporte e trabalho formal na busca de um sonho que é representar uma grande agremiação e viver da modalidade esportiva.

Atual campeão do certame e caminhando a passos largos rumo ao bicampeonato, o Clube do Remo possui em seu elenco atletas que driblam adversidades dentro e fora de campo. A volante Talita, de 34 anos, por exemplo, concilia a função de atleta com a sua carreira profissional de personal trainer, algo que naturalmente atrapalha ambos os lados.

“Às vezes para estar presente em um a gente tem que faltar no outro. Mas vamos ajustando alguns detalhes e tudo vem dando certo. Já pensei em abandonar por outros motivos, mas sinceramente não consigo imaginar a minha vida sem o futebol. É o que eu amo, é a minha vida. Estar dentro de campo é algo sem explicação, e podendo, principalmente, ajudar o Remo nesta temporada”, disse.

Anne Janyne tem tripla jornada: futebol pela manhã, personal trainer à tarde e hamburgueria à noite – Foto: Samara Miranda/Remo
CAMINHO TRILHADO É CANSATIVO, MAS É TUDO PELO AMOR AO ESPORTE

Enquanto alguns vivem exclusivamente do esporte e depositam ‘ruindade’ em campo, as jogadoras se ajustam ao esporte com trabalho profissional e, muitas vezes, ao fator maternidade, ao serem o verdadeiro reflexo de polivalência em uma tripla jornada. A meia do Clube do Remo, Anne Janyne, por sua vez, não romantizou o excesso de funções, embora seja grata pelo caminho trilhado.

“É bastante cansativo. Pela manhã eu treino, pela tarde eu atendo os meus alunos de personal trainer e à noite trabalho em uma hamburgueria familiar. É cansativo, mas é muito gratificante juntar tudo e conseguir dar conta”, comenta.

A meia, que é capitã das Leoas e já distribuiu assistências e gols marcados nesta temporada, explicou como isso afeta no rendimento. “Em alguns momentos não dormir e ter o tempo necessário de descanso, atrapalha bastante. Mas seguimos trabalhando. O trabalho dentro de campo está dando certo e fora também. Isso é o mais importante”, enaltece, ao reiterar o forte sentimento pelo esporte como grande pilar. “Por amar o esporte sempre damos um jeito, mas atrapalha, sim (trabalho e futebol). Os dois dificilmente irão caminhar juntos, mas por amar o futebol conciliamos e graças a Deus está dando certo”, completou a jogadora de 29 anos que pratica há 17 o futebol.

Janaina Nogueira espera ver o futebol feminino do Pará disputando grandes competições – Foto: Ascom Paysandu
META É VER O PARÁ COM TIMES NA ELITE NACIONAL

O Estado do Pará esteve presente na elite do futebol feminino na última temporada com a Esmac, mas acabou rebaixado à Série A2 devido à diferença tática e de investimento em comparação com outros eixos. Além da equipe de Ananindeua, o Pinheirense também integrou o Brasileirão recentemente ao ser campeão da Série A2, em 2017. A zagueira Janaina Nogueira, do Paysandu, tem como grande ambição a presença paraense na principal divisão do país. “Meu objetivo no esporte é ver o futebol feminino crescer. Enquanto eu estiver jogando irei fazer o possível para que o futebol cresça em nosso Estado”, pondera.

A atleta de 26 anos, que concilia o futebol com os estudos, projeta uma ascensão no esporte justamente para que o esporte seja o seu pilar único futuramente. “Eu trabalho de manhã em uma academia e de tarde em um box de crossfit. À noite estudo. Afeta muito por eu ter pouco tempo para treinar, já que trabalho mais do que treino”, disse.

Não à toa, a defensora fez um balanço sobre o futebol local e o motivo para seguir firme no sonho. “Várias vezes pensei em abandonar, pois aqui no Estado não dá para viver só de futebol. O futebol é algo que faz aliviar a rotina pesada de trabalho e é algo que eu amo. Eu sei que tudo o que eu estou lutando agora vai ser por um melhor futebol aqui no estado, para que as meninas possam ser mais valorizadas”, almeja.