Parte da torcida encara o futebol, em qualquer de suas categorias, como competição permanente. É preciso ganhar sempre, dos dentes-de-leite e fraldinhas até a divisão de masters. É a porção mais refratária ao esforço que cerca as divisões de base. Nas categorias amadoras, o mais importante não é vencer sempre, levantar taças e conquistar campeonatos. Acima disso, deve estar o objetivo de preparar os garotos para futuro aproveitamento no time profissional.
Essa mentalidade deve prevalecer em relação ao resultadismo cego. Vencer é sempre muito bom e prazeroso, mas fundamental mesmo é entender os degraus para atingir as vitórias que realmente importam.
Por isso, a eliminação azulina na Copa do Brasil Sub-20 não pode ser encarada como um desastre, nem como razão para atribuir à atual geração da base a pecha de perdedora. Repito: o conceito de vitorioso na base é bem mais elástico e generoso do que a régua dos que se alimentam exclusivamente de conquistas.
A formação deve ser prioridade básica em qualquer clube. Único meio de tornar uma agremiação realmente forte a partir dos talentos que revela, para usufruto próprio ou para negociações rentáveis. Alguns clubes fizeram da base um pilar para adquirir ou ampliar grandeza. Vitória, Bahia, Goiás e Atlético-PR, Fluminense e Santos estão entre os exemplos mais óbvios.
O caminho obrigatório que a base descortina para o Remo é de trabalho contínuo, a partir da aquisição do Centro de Treinamento de Outeiro. Com campos de treinamento e instalações adequadas, as divisões formadoras tendem a evoluir muito mais.
Em dois jogos contra o poderoso Internacional, o Remo sofreu derrotas de 3 a 0 (em Belém) e 4 a 0 (em Porto Alegre, sábado). No agregado, uma goleada de 7 a 0; na realidade, um desfecho esperado e até óbvio.
O Inter tem larga tradição formadora e mantém suas equipes em intercâmbio permanente com outros centros, através das maiores competições da categoria no Brasil e no exterior.
Ao Remo, cabe plantar as bases para colher lá na frente. O trabalho é lento, nem sempre com resultados imediatos, mas a única certeza é de que não há outra saída. É obrigatório formar atletas, pois a gangorra de contratações a cada temporada estrangula financeiramente qualquer clube periférico.
Trio de ferro sobe e elitiza ainda mais a Série A
Cruzeiro, Vasco e Grêmio garantiram o retorno à Primeira Divisão nacional. É um fato auspicioso para os que apreciam campeonatos mais equilibrados e fortes. Como o “trio de ferro” na Série A do próximo ano, as coisas devem ficar bem mais acirradas na elite brasileira.
Os mineiros estavam fora da competição principal há três anos. Seu retorno marca também a chegada do modelo SAF, capitaneado por Ronaldo Nazário. A caminhada brilhante na Série B deste ano, com acesso assegurado com larga antecedência, aumenta a expectativa sobre o que o novo Cruzeiro irá mostrar na Série A.
O Vasco, que carimbou o acesso na vitória sobre o Criciúma, sábado, também estará regido pela SAF em 2023. Dois grandes clubes, de torcidas imensas, que podem – ao lado do Botafogo, também SAF – iniciar um processo de transformação administrativa na Primeira Divisão.
O Grêmio se mantém no sistema administrativo tradicional e é, como sempre, candidato a brigar por títulos, levando a tradição do clube. Economicamente sólido, o tricolor gaúcho caiu para a Série B por uma série de passos desastrosos no futebol. A gestão segue firme e elogiada.
A quarta vaga de acesso é disputada por Bahia, Ituano e Sport, com o Bahia bem mais próximo de confirmar participação na Série A.
Ao mesmo tempo em que o Brasileiro ganha em competitividade, há um cenário de elitização acelerada, com a progressiva eliminação de times emergentes vindos de regiões fora do eixo central – Sul e Sudeste.
Cabe observar que vagas o trio de grandes vai ocupar: além do Juventude, já rebaixado, Avaí, Cuiabá, Atlético-GO, Ceará e Coritiba estão na “berlinda da morte”. Qualquer que seja a composição final dos degolados, é fato que a Série A irá se livrar de equipes emergentes
O próprio Nordeste pode não se beneficiar da provável subida do Bahia, pois o Ceará pode cair, fazendo com que a região permaneça com os dois representantes atuais – o outro é o Fortaleza.
Direto do blog campeão
“O jogo é muito desigual. De um lado um time bom que atua dentro das regras do jogo. Do lado de lá, um adversário (inimigo, melhor dizendo) que dá tesouradas, faz faltas desclassificantes e violentas, apela para tudo que é antijogo. A arbitragem (tribunais, mídias…), fazendo vista grossa, permite tudo, mas quando o capitão do time prejudicado vai ao árbitro e reclama, ele recebe cartão amarelo e depois vermelho. Joga-se contra a arbitragem vergonhosamente parcial, joga-se contra uma torcida violenta, joga-se contra cartolas e mídias venais. Que Deus permita que, contra tudo isso, ainda assim ganhemos essa partida e se faça justiça”.
Antônio Valentim
Leão vence no feminino, mas racismo estraga o clássico
Um xingamento racista dirigido à atleta Simara, 19 anos, do PSC, empanou por completo o clássico Re-Pa disputado ontem, no Ceju. O Remo venceu com relativa facilidade por 3 a 0, mesmo placar do primeiro jogo, mas o choro convulsivo da jogadora bicolor foi a cena mais marcante da partida.
O racista que ofendeu Simara vestia uma camisa do Remo, mas não foi identificado. O caso foi denunciado pelo PSC em nota, e terá providências na esfera policial para descobrir a identidade do criminoso.