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Ícone da TV brasileira, Dias Gomes faria cem anos nesta quarta

Foto: Arquivo de família
Foto: Arquivo de família

Texto: Wal Sarges

Um trabalhador da literatura. Assim poderia ser classificado o romancista, dramaturgo, contista e novelista Dias Gomes, membro da Academia Brasileira de Letras, cujo centenário de nascimento se completa nesta quarta.

Batizado como Alfredo de Freitas Dias Gomes, ele nasceu em Salvador, em 19 de outubro de 1922, e faleceu em São Paulo no dia 18 de maio de 1999, como um dos grandes nomes da TV brasileira, autor de sucessos como “Roque Santeiro”, “Saramandaia” e “O Bem-amado”, além da peça “O pagador de promessas”, traduzida para mais de uma dúzia de idiomas e adaptada para o cinema pelo próprio autor, no filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes.

Sua trajetória pessoal e profissional pode ser vista a partir de hoje na “Ocupação Dias Gomes”, uma imensa exposição que celebra o autor em seu centenário, resgatando com fotos, vídeos, depoimentos e documentos, no Itaú Cultural, em São Paulo, mas que também pode ser conferida de forma virtual, na plataforma da instituição na internet

Veja a Ocupação Dias Gomes na internet

‘Ele era um ‘trabalhador da literatura’. Ouvimos depoimentos dele sobre a escrita ser tão importante quanto o ar que ele respirava. Ele escrevia porque respirava. Isso traz uma ideia do ofício – que não foi romantizada porque a gente vê uma pessoa que estabeleceu uma forma de trabalho que obedeceu a um rigor de horários de trabalho”, destaca o coordenador do núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, Carlos Gomes, que integra a equipe curatorial da mostra.

OBRAS COMO “O BEM-AMADO” CONTINUAM ATUAIS

A crítica fazia parte da escrita de Dias Gomes, algo que faz suas histórias atuais até hoje, diz Carlos Gomes. “Eu acredito que suas narrativas marcaram porque ele era uma pessoa de uma criatividade tão potente que conseguia dar asas e maturidade a essas histórias. Se a gente pensa na história de ‘O Bem-amado’, é uma coisa tão absurda, que faz a gente pensar o nosso país de outra forma. A gente vê que era absurdo, mas que encontra ressonância no nosso dia a dia”, analisa o curador.

Foi esse teor crítico que fez com que uma das novelas de Dias Gomes, “Roque Santeiro”  – até hoje um dos maiores sucessos da teledramaturgia nacional – só estreasse após dez anos barrada pela censura da ditadura.  A história do homem que é dado como morto e é santificado, definindo os rumos dos moradores de uma cidade, trazia reflexões que pareciam não caber numa telenovela. “Quando ele volta para a cidade, todo mundo praticamente havia santificado o Roque. Por causa de suas ganâncias e ambições, algumas pessoas resolveram se aproveitar dessa história. Tudo vai acontecendo em torno disso. São histórias que vão mexendo com a nossa imaginação e nos provocam uma reflexão. Esse é o poder da boa dramaturgia que nos interpela”, acredita Carlos Gomes.

DIAS GOMES ESCREVEU PRIMEIRA PEÇA NA ADOLESCÊNCIA

Com apenas 15 anos, Dias Gomes escreveu sua primeira peça, “A comédia dos moralistas”. Estreou no teatro profissional em 1942, com a comédia “Pé-de-cabra”, encenada no Rio de Janeiro e depois em São Paulo por Procópio Ferreira, que com ele excursionou por todo o país. Desde então, não parou mais de escrever. A extensa trajetória deu trabalho à curadoria na ora de fazer o recorte da mostra. São em torno de 200 peças expostas, num vasto material da obra de Dias Gomes. “Tem de construir uma narrativa e escolher o que será exposto. A gente pega a direção desse trabalhador da literatura, que vai guiar toda escolha que fizemos. Por isso, a máquina de escrever, o documento escrito por ele, com anotações. Essas obras são muito importantes”, explica Carlos.

A pesquisa se debruçou em acervos da viúva de Dias Gomes, Bernadeth Lyzio, com quem ele foi casado de 1989 a 1999, após o falecimento da também novelista Janete Clair, em 1983, com quem foi casado e teve cinco filhos. Desses arquivos, há documentos com anotações dele, fotos e capítulos de novelas inteiras. “Tem ainda correspondência dele com Jorge Amado, uma gama de documentos incríveis. Até uma máquina de escrever bem velhinha que ele usou. A gente encontrou muita coisa, basicamente tudo o que a gente tem no espaço expositivo, vem desse acervo que a Bernadeth mantém”, explica Carlos, que completa: “A pesquisa foi feita ainda no Museu da Imagem e do Som, além de ver e ouvir reportagens em jornais de grande circulação. A gente percebe sua criação e  de como refletiu tudo isso de pensar o Brasil”.

Veja

Ocupação Dias Gomes

Quando: 19/10/22 até 15/01/23

Onde: www.itaucultural.org.br/ocupacao-ic

Quanto: Gratuito