Tylon Maués
Quando o pernambucano Givanildo Oliveira substituiu a Fito Neves no comando do Paysandu para sair somente no segundo semestre de 2002, nenhum outro técnico havia completado uma temporada inteira na Curuzu. Com a confirmação de que comandará o Papão na Copa Verde, o paulista Márcio Fernandes quebrou essa marca. Ainda falta muito para igualar o feito de Givanildo, tanto em tempo quanto em títulos, mas Fernandes deixou para trás nada menos do que 67 profissionais que passaram pelo clube nos anos 2000 sem completar doze meses de trabalho.
Na última quarta-feira, o presidente Maurício Ettinger deixou claro que se for reeleito ele pretende renovar com Fernandes, que também já deu vários indícios de que por ele, a permanência seria viável. “Eu fico muito feliz pelo reconhecimento do nosso torcedor e de nossa diretoria pelo nosso trabalho”, comentou o treinador. Aos 60 anos, Márcio tem no currículo dois títulos da Série C, ambos com o Vila Nova-GO, e é um profissional mais do que qualificado para tentar um acesso para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, a obsessão bicolor nos últimos quatro anos.
Na atual temporada, o Paysandu foi o time do quase. Chegou muito perto do título estadual e do acesso, mas morreu na praia. No entanto, na análise de desempenho do time, é inegável que ele foi competitivo na maior parte do tempo. No Brasileirão, o Papão sobrou na primeira fase, caindo drasticamente de rendimento na “hora do vamos ver”. É o mesmo roteiro desde 2019.
A evidente boa base dentro do elenco, um ano sem problemas extracampo – pelo menos de relacionamento entre atletas e comissão técnica – e o comprometimento pessoal de Fernandes dão a entender que haverá essa continuidade. Atleta do Paysandu em 1982, quando o jovem ponta-esquerda foi emprestado pelo Santos-SP e conquistou o Parazão, e com uma passagem pelo Clube do Remo em 2019, com direito a título estadual, ele conhece bem o futebol local e suas especificidades. Conhece bem, inclusive, o Círio de Nazaré.
Na entrevista a seguir, ele comenta sobre essa relação com a fé, com o clube alviazul e com a possibilidade de ficar para 2023. Afirma que a base construída na temporada é boa e com contratações pontuais pode dar muitas alegrias à Fiel.
– Você esteve em Belém como atleta e agora, pela segunda vez como treinador. Você teve algum contato com o Círio de Nazaré? Qual sua relação com a religião?
Sim, estive aqui em 1980, ainda como jogador, e foi aí que conheci a fé do povo paraense pela Santinha. A partir daí passei a ser devoto da Nossa Senhora de Nazaré.
– É um Círio especial por causa da pandemia dos últimos anos. Será um Círio totalmente presencial depois de três anos de restrições. Você pretende ver, seja por uma questão religiosa ou para ter contato com a festa?
Sim, com certeza irei ver. Como falei, sou devoto da Santinha.
-Desde Givanildo Oliveira, de 2000 a 2002, você será o primeiro treinador a completar uma temporada completa no Paysandu. Ao mesmo tempo que deve ser algo benéfico pessoalmente, é um exemplo de como no futebol brasileiro a profissão de treinador de futebol é de “alto risco”?
Eu fico muito feliz pelo reconhecimento do nosso torcedor e de nossa diretoria pelo nosso trabalho, com uma votação expressiva pela continuação do que vem sendo feito.
-Muitos torcedores falam sobre a possibilidade de manter uma base desse elenco para 2023, com contratações pontuais e que venham para jogar. Como você vê essa possibilidade?
Quando chegamos ao clube só tínhamos quatro jogadores, o que dificultou bastante o início do trabalho. Hoje, temos uma boa base. A partir daí, se fizermos algumas contratações pontuais, será muito importante para que, no ano de 2023, possamos ter o acesso à Série B.
– E quanto a você e sua comissão técnica, somente após a Copa Verde é que haverá alguma conversa quanto à permanência ou não?
Sobre a permanência para o ano de 2023 o nosso presidente, se eleito, já manifestou a sua vontade publicamente. Ele expressou sua opinião que serei o seu treinador do Paysandu.
– Pela ligação que tem com o Paysandu por ter atuado aqui como jogador, você disse em sua apresentação como treinador que seria uma temporada diferente para você. Por conta disso, a não conquista do acesso teve também um peso diferente sobre você?
Quando vim pra cá tinha uma meta que era de levar o Paysandu à Série B. Isso ainda não foi feito, por isso quero continuar e completar a minha meta.