Pará

Saiba o que torna uma pesquisa eleitoral confiável

Pesquisa de opinião deve obedecer critérios científicos com rigor, alerta pesquisador. Foto: Divulgação
Pesquisa de opinião deve obedecer critérios científicos com rigor, alerta pesquisador. Foto: Divulgação

Por Carol Menezes

Criadas há mais de um século, as pesquisas de opinião, que posteriormente deram origem às pesquisas eleitorais, tornaram-se bastante populares no século XX. Neste último caso, o objetivo é obter um levantamento sistemático de informações realizado com perguntas de um questionário que busca coletar a opinião, o comportamento, os valores, as atitudes e os hábitos das pessoas a partir de uma amostra de uma população.

Com a lei 9.504/1997, as entidades e empresas que realizam pesquisas de opinião pública relativas às Eleições Gerais e Eleições Municipais ou a candidatos, para conhecimento público, passaram a ter de registrá-las junto à Justiça Eleitoral, conforme disciplinamento do Tribunal Superior Eleitoral. No site do TSE é possível ter acesso às pesquisas registradas, bem como o preço de cada uma, os técnicos responsáveis, contratantes, realizadores, etc.

Pesquisador de mercado e sócio-proprietário da Interpreta, empresa de pesquisa de mercado e consultoria com atuação em quase todo o Brasil, Marcelo Magalhães admite que é difícil responder se os cenários eleitorais seriam diferentes sem as pesquisas, porém acredita que candidatos e partidos devem ter a liberdade de realizar as suas pesquisas para avaliarem a sua aproximação com o eleitor.

“Há estudos acadêmicos que levantam a hipótese que as pesquisas pouco explicam os índices de votação. Esses estudos se valem da prerrogativa de comparar resultados de pesquisas diversos e os resultados das urnas. E também há estudos que avaliam que as pesquisas podem influenciar na medida em que pautam o debate. É um pleito justo e também avalio que o TSE tem seus instrumentos que pautam as melhores práticas”, pondera.

Magalhães detalha que os quantitativos de amostragem de uma pesquisa eleitoral são definidos a partir de dados públicos disponibilizados pelo TSE sobre como se comporta o universo de eleitores na área de abrangência da investigação. Nesse sentido, uma pesquisa realizada com rigor científico deve obedecer em sua amostra o perfil de como se comporta o universo, ou seja, todos os eleitores na área de abrangência.

“E sim, os critérios são suficientes e satisfatórios. Hoje a Justiça Eleitoral disponibiliza dados públicos dos eleitores estratificados por gênero, faixa etária e escolaridade. Ao se adotar uma amostra rígida com esses dados, naturalmente os outros critérios levantados que podem ser religião, renda e outros irão se comportar como o universo”, explica o pesquisador de mercado.

Uma comparação muito utilizada pelos analistas de política nestas eleições sobre pesquisas eleitorais é de que elas funcionam tal e qual um exame de sangue – a partir de uma amostra pode-se obter uma visão do todo.

“Eu inclusive uso essa mesma analogia para explicar a amostragem e complemento. Em todo o caso, é preciso tomar cuidado com a amostra coletada, assim como no exame de sangue. Se, por exemplo, você for fazer um exame de triglicerídeos, terá que fazer essa coleta em jejum. Esse cuidado com a amostra é fundamental”, exemplifica.

É justamente esse cuidado fundamental com as amostras que deve permitir entender a importância de critérios usados justamente para que os resultados reflitam as diversidades de opiniões, e não apenas de um grupo.

“Nós somos feitos de vieses. Essa condição humana já está provada por diversos estudos científicos. Em outros termos, estamos sempre em busca de dados e informações que validem nossas crenças. Isso está presente em todos nós. Em todo o caso, isso não deve influenciar a realização de uma pesquisaPesquisa realizada com rigor científico irá sempre trazer a opinião da população naquele momento da sua realização”, reforça Marcelo Magalhães.

Já a margem erro, assim como o intervalo de confiança de uma pesquisa, é definida a partir de um cálculo que leva em consideração o tamanho do universo e o tamanho da amostra. Por universo entende-se a população total de eleitores da área de abrangência da pesquisa e por amostra, a quantidade de entrevistas coletadas na pesquisa. A margem de erro aumenta em função da diminuição da amostra.

“O maior cuidado da pesquisa, entretanto, não deve ser com a margem de erro exibida a partir do tamanho da amostra e do universo, e sim com a representatividade da amostra. Em outros termos, com o quanto que a amostra coletada vai ao encontro do perfil exato do universo. Hoje em dia e sempre, o que define a confiabilidade em uma pesquisa eleitoral é o cuidado com a representatividade da amostra”, defende. “Pesquisa de opinião deve obedecer critérios científicos com rigor. Ao ser conduzida dessa forma, não há motivos para dúvida ou questionamentos”, finaliza o pesquisador.