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Pio Labato faz show de lançamento do novo album “Brinquedo”

Pio Labato faz show de lançamento do novo album “Brinquedo”

O guitarrista Pio Lobato e o baterista Clenilson Almeida (Vovô Batera) já tocaram juntos em diversos projetos, como o Cravo Carbono, Mestres da Guitarrada, Mestre Vieira e Terruá Pará. Atualmente, os dois se apresentam ao lado da rainha do carimbó chamegado, Dona Onete, com a banda Massa Grossa.

Essa parceria de décadas, que gerou uma conexão musical fascinante entre os dois músicos paraenses, será apresentada pela primeira vez em forma de dupla, na noite desta quinta-feira (29), a partir das 20 horas, no Núcleo de Conexões do Ná Figueredo.

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Na ocasião, Pio e Vovô Batera apresentarão melodias, arranjos e harmonias em formato de passeio pelos lados do vinil, no show de lançamento do album “Brinquedo”. O espetáculo, que contará ainda com a discotecagem do DJ AzuL, tem apoio do Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear).

Em “Brinquedo”, novo álbum de Pio Lobato, o músico equilibra-se de forma igualitária entre as nuances da música regional, com especial atenção à guitarrada paraense, e as tinturas de rock progressivo, folk rock e power trios típicos dos anos 1970. O resultado é instigante, e agrada tribos diversas.

“Respeito o Pio Lobato desde os anos 90, quando ele começou a fazer essa transição do rock com o regional numa linha mais experimental. E isso de um jeito que só ele conseguiu fazer por essas bandas paraenses de forma tão interessante”, diz Jaime “Katarro” Neto, vocalista da banda punk crossover Delinquentes.

“Acho ele incrível. Não tem como fugir dessa avaliação. O Pio passeia com muita maestria pelo rock (mesmo ele dizendo que não) e funde isso com a música tradicional como a guitarrada. Isso não é qualquer um que faz. Às vezes é um timbre muito específico que só alguém muito sensível e atento percebe. E ele faz isso de forma muito consciente”, diz a cantora paraense Gláfira.

“É um trabalho importante por lidar com nossa identidade cultural”, resume o percussionista Kleber Benigno, o Paturi, integrante do Trio Manari, grupo também fundamental para se entender a busca entre a regionalidade e o universalismo musical paraense.

Inspiração setentista

Em “Brinquedo”, Pio Lobato se baseou nas “bolachas” setentistas. Como se dividido em dois lados. De um lado, uma “suíte” de 18 minutos, batizada de “Suíte de brinquedo”, que antes levava “de brincadeira”, o nome de “Purruda”, uma expressão ribeirinha paraense que significa “muito grande” e do outro, três canções variadas entre si. O lado mais “normal”, digamos assim, tem “Ladainha”, “Derrapada” e “Casa Velha”, que por sinal ganhou clip realizado pelas produtoras Montagem Paralela e Equipe Reduzida.

“Casa Velha” é um flerte com a canção pop solar, quase um folk rock que poderia ter saído dos mineiros do Clube da Esquina, ou mesmo do falecido guitarrista Marco Antônio Araújo, extraordinário músico mineiro morto aos 26 anos na década de 1980. A guitarra limpa muda o fraseado e traz de volta os primeiros influenciadores de Pio Lobato, como o dedilhado de Alex Lifeson, do Rush.

“Ladainha” é uma das que mais impressionam à primeira audição. Usa a batida percussiva típica das canções praieiras religiosas, tão comuns no litoral do nordeste paraense. Mântrica e hipnótica, é onde Pio Lobato mostra para que lado está indo parte de seu interesse musical.

“Derrapada” faz com que Pio Lobato exercite o perfil musical dos power trios. Tem ecos de Rush, embora a sonoridade final se afaste muito do produzido pela banda canadense- e nem poderia ser diferente-, mas há a influência nítida.

E resta ‘Suíte de Brinquedo”. São quase vinte minutos de um som que une essas duas pontas. A do rock feito a partir de retalhos de ritmos regionais fragmentados, pontas soltas unidas na cabeça do guitarrista, quase como os Beatles fizeram em grande parte do Abbey Road, em 1969.  Dividida em oito partes, com temas como “lundu”, “batuque” e “3 por 4”, por exemplo, “Suíte de Brinquedo” é onde se poderia facilmente se chegar ao tal progressivo caboclo definido por Pio Lobato.

“O Pio tem essa coisa de ciclos e esses momentos sempre significaram uma espécie de apontar caminhos musicais para quem vem depois ou é contemporâneo dele”, afirma o antigo parceiro de Cravo Carbono Lázaro Magalhães. Letrista e vocalista, Lázaro Magalhães é um dos que defendem a ideia de ter sido o guitarrista o responsável por muito do que depois veio a ser uma música pop paraense reconhecida mundo afora. “Ele sempre abriu caminhos de vanguarda”, garante.

“Brinquedo” passou por várias mudanças, inclusive de conceito. O projeto gráfico minimalista do disco criado por Edvaldo Souza, com fotos em preto e branco de Thiago Silveira, já indica o direcionamento voltado a um tempo outro para o músico. É a infância ribeirinha, ao “rés” do asfalto da cidade grande. Caminhos que se bifurcam num estado onde as águas dominam os caminhos, mas parecem o tempo todo chocar-se com a violenta e desordenada urbanização. Há sempre um quê de cosmopolitismo e provincianismo na Belém paraense.

Outra coisa a chamar a atenção é a inserção de textos-poemas de Guaracy Brito, um guia a mais no caminho traçado por Pio Lobato, mostrando também que é um disco de parcerias, seja da coprodução musical de Leo Chermont, ou na participação luxuosa do baixo de Camila Barbalho e no violão de Ziza Padilha ou na percussão e sampler de voz do “Manari” Nazaco Gomes.

Vovô Batera

Mas nada disso teria tanto sentido não fosse a participação decisiva do baterista Vovô. Parceiro de longa data do guitarrista, Vovô assume uma importância tão grande nesse novo trabalho que não seria errado dizer que o disco poderia ser atribuído a Pio Lobato e ao baterista.

As ideais fragmentadas trazidas pelo guitarrista foram amarradas por Vovô, que costurou tudo misturando células percussivas de toadas, carimbós, lundus, entre outros ritmos. São quase imperceptíveis, mas é justamente daí que é possível admirar o trabalho feito pelo baterista.

O disco é a sentença definitiva de que Pio Lobato ainda prefere o risco ao lugar comum das coisas já feitas e vividas. Ou como diz o texto de Guaracy: “montar feito brinquedo/a gente grande, a gente pequena/ com as peças que se escuta/curvar o tempo, fácil”.