Uma vacina contra o zika vírus teve resultados positivos em testes realizados com camundongos. O imunizante teve a capacidade de limitar a replicação viral tanto de fêmeas adultas que não estavam grávidas quanto das que estavam – neste caso, também protegendo o feto.
Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na Microbiology Spectrum, revista vinculada a American Society for Microbiology (Sociedade Americana de Microbiologia). Até o momento, não existe uma vacina contra o zika, vírus transmitido principalmente pela picada do Aedes aegypti.
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Outra forma de infecção é da mãe para o feto. São nessas situações que pode ocorrer a chamada síndrome congênita da zika (SCZ), conjunto de sequelas provocadas pela infecção durante a gestação, como a microcefalia.
“O maior problema que temos com o zika é a questão do quanto ele é prejudicial para um feto”, afirma Patrícia Braga, professora do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP que pesquisa o zika. Ela não participou do estudo.
No Brasil, os casos de zika registrados em 2022 já superaram os dos últimos anos. Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, até 13 de agosto, 9.916 casos prováveis foram registrados em todo o país. Comparando com 2019, antes da pandemia, o número representa um aumento de 21%. Em relação a 2021, os registros quase dobraram.
O imunizante é resultado de modificações genéticas do zika para que ele não tivesse capacidade de replicação viral.
Com isso, esse vírus modificado infecta apenas um número limitado de células, que induzem a resposta imune do organismo sem que ocorra uma progressão da doença.
Com o modelo de vacina desenvolvido, os pesquisadores testaram a segurança do fármaco em animais. Para isso, camundongos neonatos foram divididos em dois grupos: um deles foi infectado pelo zika vírus e o outro teve a vacina injetada. Após cinco dias, observou-se que todos aqueles do grupo com o zika morreram e contavam com carga viral no sangue. Por outro lado, os animais vacinados continuaram vivos e sem presença do vírus no sangue.
Além da segurança, o estudo também observou os resultados do imunizante em evitar complicações causadas pela doença. Nesse caso, camundongos adultos foram vacinados e comparados com outro grupo que recebeu um placebo. Então, ambos foram expostos ao zika vírus. Em relação aos imunizados, não houve complicações e nem perda de peso. Além disso, a replicação viral foi contida em três dias.
A situação foi o contrário no grupo de camundongos com placebo: eles perderam peso e 37% apresentaram sinais de paralisia de membros.
A pesquisa ainda mediu os efeitos do imunizante em camundongos grávidas. A segurança e eficácia para prevenir complicações também foram vistas nesses animais vacinados em comparação àqueles que não foram imunizados.
Além disso, os pesquisadores analisaram os fetos a fim de concluir se houve má formação associada à infecção. No caso dos camundongos grávidas que foram vacinados, os fetos não tiveram problemas após a infecção. No entanto, no grupo controle, muitos deles apresentaram perda de peso ou até sofreram decomposição ainda no útero.
MECANISMO DE DEFESA E MEMÓRIA
O sistema imunológico utiliza diferentes meios para proteger o organismo em caso de infecções. Uma dessas formas mais conhecidas são os anticorpos. Outro modelo são por meio dos linfócitos T.
No caso da vacina contra o zika, os pesquisadores chegaram à conclusão que o principal mecanismo de defesa induzido pelo fármaco foram os linfócitos.
“Essas células são capazes de responder rapidamente se ocorrer uma infecção pelo zika”, afirma Braga.
A professora explica que os linfócitos reconhecem células infectadas por patógenos e as destroem a fim de evitar a replicação viral e conter, desse modo, a evolução da doença.
Além do mecanismo de defesa, os pesquisadores ainda observaram a memória do sistema imunológico. “A vacina foi capaz de induzir resposta celular contra o vírus e resposta de memória. Ou seja, ao entrar em contato com o vírus de novo, vai ocorrer uma resposta rápida contra ele”, diz Braga.
Os resultados promissores, no entanto, ainda precisam ser testados em humanos. Os testes em animais, como esse relatado no novo artigo, têm a finalidade de medir a segurança de novos fármacos. Somente com testes em humanos, principalmente nas fases 2 e 3, que será possível concluir qual a eficácia da vacina.