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Casa Igá conquista paraenses e visitantes famosos

Uma combinação de ingredientes, de cheiros e sabores diferentes forma a cozinha afetiva da chef Oriana Bitar, da Casa Igá, em Belém
Uma combinação de ingredientes, de cheiros e sabores diferentes forma a cozinha afetiva da chef Oriana Bitar, da Casa Igá, em Belém Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

Uma combinação de ingredientes, de cheiros e sabores diferentes forma a cozinha afetiva da chef Oriana Bitar, da Casa Igá, em Belém. O espaço vai além das entradas e dos pratos principais servidos no local: ele proporciona uma sensação de pertencimento que lembra um ambiente próprio de casa.

A experiência sensorial começa quando adentramos ao espaço e nos identificamos com as cores, os objetos e imagens da artesania amazônica. Ali, o casarão, que é uma das inúmeras construções do coração da Campina datadas do século 19, se conecta ao novo. Elementos antigos, como o forro amadeirado do porão, permanecem no salão principal e dialogam com os quadros nas paredes brancas e a iluminação mais sóbria do lugar, possibilitando uma composição harmônica ao ambiente, a partir de uma releitura estética, do olhar da designer de interiores e sócia do empreendimento, Patrícia Gondim.

A Casa Igá é um porão, mas ressignificado. “Igá significa passagem, então aqui pode ser uma casa de passagem para o seu bem-estar. Nós queremos que isso aqui seja uma experiência que você tenha com a própria casa e com a comida. É um espaço que está preparado para receber as pessoas e fazer com que elas se sintam melhores, além de possibilitar que o dia de quem estiver por aqui seja mais gostoso em todos os sentidos. O espaço é um aconchego, um carinho, um afeto. A cozinha que eu faço pode ser considerada uma cozinha de afeto. Eu não faço grandes pratos da gastronomia, mas é uma comida simples, porém muito bem-feita e sempre preocupada com o que a pessoa vai comer”, considera Oriana Bitar.

“A primeira lembrança de cozinha que eu tenho é da casa da minha avó, ela cozinhando e eu sentada e olhando no balcão. Essa presença da minha avó, da minha mãe e das minhas tias na cozinha, é sempre muito próxima”, diz a chef.

Toma conta do lugar o aroma exalado pelo alho refogado, cebola, tomate, cheiro verde, alfavaca e mexilhão. Com todos os temperos e especiarias adicionados ao preparo, que vão cozinhando numa redução de tucupi, é hora de selar o camarão e, por fim, o filhote, um dos peixes mais deliciosos da região amazônica. O prato é finalizado com folhas de jambu, que cozinham no próprio vapor que se forma na frigideira. Depois de algum tempo, está pronto para servir um dos pratos mais especiais da casa: a paella cabôca.

A experiência sensorial começa quando adentramos ao espaço e nos identificamos com as cores, os objetos e imagens da artesania amazônica.. Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

Nas mãos da chef Oriana Bitar, o prato de autoria do seu professor de gastronomia ganha o seu toque especial. “É considerado um dos pratos ícones da casa, que é uma criação de um professor meu, chamado Antônio Cumaru Leal, que mostrou uma grande criatividade nesse preparo, porque é feita com frutos do rio e não do mar. A minha paella não tem lula, mas tem caranguejo, camarão cinza e o filhote. E quando ele me deu esse presente, eu adicionei meu toque especial, que é ser feita com tucupi, jambu. É um prato que eu gosto muito”.

DO NOSSO JEITO

Outro prato especial do cardápio da Casa Igá é o Espetinho de Pirarucu com Tropeirinho Cabôco. “É uma comida idealizada a partir do feijão tropeiro mineiro, mas eu faço com a nossa assinatura. Eu trabalho sempre com insumos amazônicos. Então, na minha cozinha tem feijão manteiguinha, pirarucu, o filhote, tucupi, jambu, coentro, chicória, e alfavaca – que entra em tudo que eu faço, ela é muito presente e particular – a pimentinha e as ervas amazônicas”, conta Oriana.

A Casa Igá serve outros pratos principais, como cortes de cupim – o mais pedido. “Uma das minhas maiores felicidades é dar um prato e ouvir as pessoas dizendo que está gostoso e que irão voltar aqui para comer. A cozinha, pra mim, é sinônimo de bem-estar, de afeto. É uma manifestação de resiliência, de estar ali sempre produzindo”, diz.

Uma prova disso, segundo a chef, é o piracuí, que é o único alimento do ribeirinho durante seis meses. “Durante a maré cheia, se ele não consegue pescar, ele faz um milhão de coisas com piracuí. Hoje, trabalho também com a vitória-régia da Dona Dulce, uma senhora que mora no Lago do Jari, no oeste do Pará, por Santarém, e ela tem um jardim de vitórias-régias. Ela inventou várias receitas com esse insumo e agora eu trabalho com a geleia da flor e os picles de vitória-régia”, comenta Oriana, sempre atenta à sazonalidade dos produtos e período de defeso de peixes.

O COMEÇO

A cozinha sempre foi o espaço de estar de Oriana. “Sempre cozinhei e gostei de reunir os amigos na cozinha, mas em belo dia resolvi estudar gastronomia. A primeira vez, em 2015, e no segundo momento, em 2017, quando encontrei meu lugar na culinária. Foi um momento muito crucial na minha vida, eu estava deprimida, meu pai tinha falecido. Naquele momento, descobri que era algo que eu não dominava, mas que tinha certa facilidade para me encontrar ali. A cozinha era um meio de eu me manifestar.”

Tudo começou no período de isolamento da pandemia, quando cozinhar foi o ato que a manteve de pé. “Eu e a Patrícia, que é minha companheira e sócia, começamos a fazer comida para levar para os parentes porque estava todo mundo confinado. Comecei a cozinhar bastante e começamos a fazer delivery num isopor, que é nossa marca registrada. A gente começou a entregar comida, levávamos o isopor e depois íamos buscá-lo. Quando acabou o isolamento social, as pessoas começaram a nos perguntar quando nós íamos abrir o restaurante, e então falei para a Patrícia preparar o salão e em agosto de 2021, abrimos as portas”, descreve.

O lugar é composto de um salão e duas salas reservadas, com capacidade para 50 pessoas no total, diz Patrícia Gondim.

“Essa parte da Campina onde a Casa Igá está localizada é bem nostálgica. Eu gosto disso, como a Cidade Velha e os bairros mais antigos. A gente tem objetos bonitos e peças que remetem ao trabalho das mulheres que quebram castanhas, além do isopor enfeitado num colorido alegre, que é poético também. Quando pensamos no restaurante, quisemos deixar a madeira aparecendo, os esteios irregulares que é uma beleza especial da casa. A ideia foi trazer o olhar dessas construções, pensando em não apagar, mas preservar. Traz o conceito ainda de viver esse movimento do ir e vir, que é uma coisa muito nossa, de sairmos à pé e utilizar o serviço da rua, do pessoal do açaí que fornece comida para os funcionários, por isso que a escolha foi o porão, que é próximo à rua, é passagem”.

FAMA

Quando pensa na fama que o espaço tem tido, com a presença de celebridades, como o apresentador Zeca Camargo, o rapper Emicida e o ator Paulo Vieira, Oriana diz que se assusta um pouco.

Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

“A gente tem muitos amigos e eles vão trazendo outros amigos e, assim, tem o boca-a-boca que estimula esse movimento. O Zeca Camargo, por exemplo, chegou aqui por indicação das nossas amigas da Casa Amazônia. Ele veio a primeira, a segunda e a terceira vez e, agora, ele é um queridinho da gente. Veio também o Paulo Vieira e eles sempre voltam. Essa coisa de ficar famoso assusta porque não tenho intenção de ser famosa, tanto que me identifico como cozinheira e penso que bom que essas pessoas vieram e eu pude conhecer e dar esse abraço nelas. É um cliente, um amigo que será servido bem, tanto quanto qualquer outra pessoa que receberá carinho e afeto.”

Profissional do teatro, tendo trabalhado como produtora e diretora artística, Oriana conta que a arte continua pulsando dentro dela.

“Sou profissional do teatro, além de professora de história da arte. A arte é mais uma linguagem de manifestação humana. A arte sempre vai ter esse cunho de manifestação no sentido de te dizer algo que te faça pensar; ou elaborar um pensamento para que se possa chegar a uma conclusão para si mesmo e te tornes melhor. Esse é o princípio da arte também. Eu continuo professora de história da arte, e continuo sendo profissional do teatro e produtora e diretora de palco, e continuo amando e estudando arte. E sou cozinheira”.

CONHEÇA

Casa Igá

Onde: Trav. Frei Gil de Vila Nova, 215, entre Manoel Barata e Ó de Almeida – bairro da Campina – Belém.

Funcionamento: Quinta-feira a domingo, aberto para almoços, das 11h30 às 15h; no sábado e domingo, das 11h30 às 16h. Somente aos sábados abre para jantar, das 19h às 23h. Neste dia podem ser agendados eventos previamente.

Reservas e informações: (91) 98417-4209.