Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada recentemente, aponta que há 258 milhões de smartphones habilitados em 2024 no Brasil, ou seja, tem mais celular do que gente no País, o que dá uma média de 1,2 aparelho por habitante, quando levado em consideração que o Brasil tem 203 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando se adicionam notebooks e tablets nesta conta, o número chega a 384 milhões de dispositivos portáteis em uso. No Brasil, a pesquisa informa ainda que são três smartphones vendidos a cada aparelho de TV comprado.
Ao mesmo tempo em que conecta pessoas, ajuda a solucionar problemas, tem praticidade e encurta distâncias, especialistas alertam que o celular também pode ser um vício e causar dependência. Inclusive, atualmente há um transtorno denominado “nomofobia”, que de maneira geral, refere-se ao medo ou ansiedade pela falta de uso do aparelho celular. O vício no dispositivo afeta a saúde, desde questões psicológicas até ortopédicas.
Para a psicóloga Joelma Martins, o aparelho celular tem importantes funções, mas é preciso ter uso racional para não causar o que chama de disfuncionalidade, quando o objeto é utilizado de forma errada, a exemplo do excessivo tempo gasto usando redes sociais.
“Hoje, todo mundo fica no celular e muitos criam barreiras para não conversar pessoalmente com outras pessoas. Um exemplo é quando vemos uma fila e as pessoas estão olhando o celular fechadas em uma espécie de outro mundo. Não podemos normalizar este tipo de comportamento”.
Ansiedade
A psicóloga alerta que o uso excessivo do smartphone pode contribuir para o desenvolvimento de ansiedade e de depressão. Uma das situações chave é quando há muitas notificações nas redes sociais e o usuário fica apreensivo em não saber do que se trata ou fica ansioso para logo verificar o que é. “O indivíduo acaba se isolando por ficar mais tempo com o celular do que com a companhia das pessoas. Para muitos, é inimaginável ficar dois ou três dias sem olhar uma rede social, como o Instagram. É a nomofobia. E isso é algo que vai fazer essa pessoa ficar mais ansiosa ou até mesmo desenvolver depressão”.
Além dos riscos à saúde mental, o alerta é também quando o uso desmedido do aparelho celular resulta em prejuízos nas relações sociais. Exemplo: preferir utilizar o aparelho a interagir com pessoas em uma festa de aniversário. “Nesta situação, assim como em outras similares, o acompanhamento psicológico é fundamental para que a pessoa perceba que ela está se fechando e se isolando de outras pessoas por conta de um dispositivo celular”.
Proteja seus filhos do uso excessivos desses aparelhos
A situação também é um alerta para os responsáveis de crianças e adolescentes. “É muito comum vermos pais ou mães dando celular para distrair o filho ou filha porque dizem que isso acalma as crianças. Está errado. É só ver o resultado de irritabilidade quando o celular é tirado das mãos dos pequenos”. A psicóloga ressalta, ainda, que crianças e adolescentes ainda não possuem maturidade para entender os problemas que a tecnologia pode trazer para o cotidiano, a exemplo dos transtornos mentais.
Além de deixar crianças e adolescentes mais ansiosos, o uso excessivo ainda compromete a qualidade do sono, pois o uso demasiado perto do horário de dormir, atrapalha a capacidade de relaxar e ter uma boa noite de sono. “É preciso ter um limite e procurar ajuda psicológica quando achar que é a hora. O celular é uma ferramenta na vida, mas ele não é a nossa vida. Por isso é importante ficar bastante atento”.
Uso consciente
O servidor público Alexandre Menezes, 50 anos, tem dois aparelhos: um tablet e um celular. Porém, o servidor ressalta que mesmo utilizando ambos os dispositivos simultaneamente, usa de forma consciente, em especial para comunicação, trabalho e compras. Ele ainda afirma que as pessoas estão priorizando as relações on-line e desprezando a importância dos vínculos presenciais e afetivos. “O celular é um vício. Tem que ter equilíbrio no uso dele, principalmente com redes sociais. Muita gente não está discernindo o limite saudável”, analisa o servidor público.
Olho no olho
“Fui em uma festa linda de aniversário de criança, mas vi muita gente mexendo no celular. Praticamente, era interação pessoal zero”. O depoimento curioso sobre uma celebração infantil é da Alcilene Azevedo, serviços gerais, 56 anos. De acordo com a entrevistada, a impressão que ela tem é que as pessoas estão conversando menos entre si pessoalmente, e preferindo mais a comunicação por meio da internet. “Eu uso meu celular mais para trabalhar e ler as mensagens que chegam em grupos. Eu percebo que as pessoas estão esquecendo de algo tão importante desde sempre: a conversa olhando nos olhos”.