Enquanto os dados de junho do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa, principal indicador de inadimplência do Brasil, mostraram tendência de desaceleração pelo segundo mês consecutivo, o Pará foi na contramão e apresentou leve aumento no número de devedores no mesmo período.
Se hoje o país conta com menos 918 mil brasileiros no cadastro de negativação, contabilizando uma redução de 1,25% nos últimos 60 dias, só em junho o estado registrou 2.596.915 milhões de inadimplentes, o que corresponde a 40,68% da população, um montante 0,45% maior do que o registrado em maio, de 2.585.092 milhões de pessoas.
O valor médio da dívida por inadimplente no Pará é de R$ 4.190,29. O setor de bancos e cartões aparece com maior percentual de dívidas no estado, 31,47%. Na sequência aparece varejo com 18,83%, financeiras, 17,71% e serviços 13,10%.
Entre os devedores, as mulheres são as mais inadimplentes 51% e os homens 49%. Em relação a faixa etária a maior parte das dívidas está concentrada na população entre 26 e 40 anos, 35,9%, seguido dos que tem entre 41 e 60 anos (33,8%), acima dos 60 anos (15,6%) e até 25 anos (14,6%).
PANDEMIA
Coordenador do Grupo de Educação Financeira da Amazônia da Universidade Federal do Pará (Gefam/UFPA), Alex Damasceno, explica que esses quase 41% de inadimplentes são explicados por um conjunto de fatores, e um deles é ainda o resquício da pandemia da Covid-19, que também quebrou as finanças de muitos. “Essas dívidas vêm se acumulando desde esse período. Temos uma quantidade alta de pessoas com pouca renda, o Pará em si, o emprego ainda se encontra muito na informalidade. E tem a questão cultural, nós estamos em uma crescente de consumo. brasileiro voltou a comprar mais, e tem o consumismo muitas das vezes sem planejamento para pagar”, analisa.
Contador e coach financeiro, Joe Neris lembra que foi justamente na crise sanitária de 2020 e 2021 que muitos brasileiros recorreram ao crédito para cobrir despesas durante os períodos de lockdown e redução de atividades econômicas. “No Pará, esse efeito pode ter sido mais prolongado ou mais intenso devido a fatores regionais específicos. Nossa economia é fortemente dependente de setores como mineração e agronegócio. Qualquer flutuação nesses setores pode ter um impacto direto na renda das famílias”, pondera.
Joe enfatiza ainda o fato de que houve um aumento na oferta de crédito emergencial neste mesmo período, ao mesmo tempo em que a capacidade de pagamento dessas dívidas pode ter sido comprometida com a lenta recuperação econômica. “A educação financeira e a cultura de crédito variam significativamente entre as regiões do Brasil. No Pará, há uma menor disseminação de práticas de gestão financeira eficazes, levando a um uso mais arriscado do crédito. Isso pode resultar em um maior número de inadimplentes”, avalia.
Para ele, o fato de que o setor de bancos e cartões representa 31,47% das dívidas no estado é significativo. “Isso pode indicar um uso excessivo de crédito rotativo e cartões de crédito, que possuem taxas de juros muito altas. A falta de alternativas de crédito mais acessíveis pode forçar os consumidores a recorrerem a essas opções mais caras”, explica. “A combinação de dependência de setores específicos, desigualdade socioeconômica, práticas de crédito arriscadas e possíveis limitações nas políticas públicas cria um cenário complexo que resulta em um aumento na inadimplência”, conclui o contador.