Em meio à movimentação intensa do centro de reabilitação, as relações entre pais e filhos se estreitam com a mesma naturalidade que a rotina se cumpre. Enquanto uma atividade é desempenhada sob a orientação do profissional, o olhar atento dos pais que acompanham a evolução de seus filhos em terapias e tratamentos de saúde se enche de orgulho por cada nova conquista, certos de que o maior presente que poderiam receber neste Dia dos Pais é o bem-estar dos filhos.
De segunda a quinta-feira, a rotina do funcionário público Renato Aragão, 49 anos, é cumprida nas instalações do Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista, em funcionamento no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (NATEA/CIIR), em Belém. É lá que ele acompanha as terapias do filho Moisés Torres de Aragão, de 7 anos, antes de levá-lo para a escola, onde estuda à tarde.
“A minha rotina com ele é terapia de manhã, das 8h às 10h, e as aulas à tarde. Como ele é um menino atípico, eu tenho receio de deixá-lo sem acompanhamento nas aulas. Então, eu fico na recepção da escola porque se tiver qualquer necessidade, eu vou estar por perto. É praticamente uma dedicação em tempo integral para ele”.
Renato lembra que Moisés recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando ainda tinha 1 ano e oito meses de vida. Compreendendo que o melhor para o desenvolvimento do filho seria iniciar as terapias o quanto antes, logo a rotina de cuidados se estabeleceu na rotina da família e quem consegue se fazer presente em todas essas atividades é o pai.
“Eu tenho uma flexibilidade de horário, Deus me abençoou nesse sentido. Eu trabalho à noite, eu sou funcionário público lá da Ceasa, então eu tenho essa oportunidade de acompanhar e estar presente nessas atividades dele”, conta o pai. “O meu outro filho também é autista, mas ele tem grau de suporte 1, então, ele não precisa fazer as terapias. O Moisés é diagnosticado com nível 3 de suporte, então, ele sente essa necessidade de fazer o acompanhamento. Então, ele sempre foi um menino muito estimulado, orientado”.
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Renato conta que ao longo dos mais de dois anos que o filho Moisés faz as terapias necessárias no CIIR, os avanços conquistados em seu desenvolvimento foram significativos, uma alegria celebrada a cada nova conquista. “Qualquer avanço que ele tenha, qualquer coisa por menor que seja, para a gente até lágrima sai. Se outra pessoa olhar, pode achar que é uma coisa simples, normal, mas para nós que temos filhos atípicos cada evolução é muito gratificante, por menor que seja. É um presente que é melhor do que qualquer coisa material”.
Quem também se emociona com cada nova conquista da filha é o garçom Mário de Souza, 31 anos. Padrasto da Alice Fonseca, de 9 anos, uma criança com paralisia cerebral, ele sempre a acompanha nas terapias que ela realiza uma vez por semana e, mais recentemente, passou a ser o seu acompanhante exclusivo. “Geralmente vinha eu e a mãe dela, mas a nossa outra filha nasceu há quatro meses e, de lá para cá, eu que acompanho quase que exclusivamente ela”, conta.
“A Alice já está no CIIR há cinco anos e há um pouco mais de um ano ela está fazendo terapia toda semana. Ela tem uma saúde frágil, às vezes a gente acaba faltando por causa disso, mas a terapia foi muito eficaz na vida dela, foi algo que deu um salto tanto na parte cognitiva, quanto na capacidade dela se locomover. A qualidade de vida dela melhorou bastante”.
Mário lembra que quando chegou à vida da Alice, ela ainda não andava. Não demorou muito para que ele percebesse, porém, que ela precisava de um incentivo a mais para desenvolver melhor a parte motora. “Eu pude observar que ela já ficava em pé sozinha e que a maior dificuldade dela, na verdade, era a confiança. Então, eu trabalhei muito, muito, muito isso nela, a confiança. Até ela se sentir à vontade de andar e hoje ela anda com facilidade nos locais que ela já está habituada”, recorda o padrasto.
“Na rua ela tem medo, só quer andar segurando na mão da gente, mas só o fato de ela estar andando é uma vitória muito grande. Na verdade, todas as pequenas conquistas dela são algo muito grandioso: tomar água no copo, comer sozinha na colher, todas essas coisas que são rotineiras para a maioria das crianças, para a gente é uma conquista muito grande e que sempre emociona”.
Para Mário, o incentivo proposto pela família, em casa, é fundamental para que o desenvolvimento da criança seja cada vez maior. Para que isso seja possível, ele conta que sempre busca orientação com os profissionais que realizam o atendimento da Alice para que o trabalho possa ser continuado em casa. “A maior evolução é sempre me casa. A maior ferramenta que a gente tem aqui é a instrução dos profissionais, quanto mais os pais aprendem com os profissionais, mais a gente está capacitado para trabalhar melhor todos os aspectos dela”, avalia.
“A maior parte do tempo ela está em casa, mais do que aqui que ela vem uma vez por semana, então, em casa a gente tem que estar procurando fazer alguma atividade com ela para ela estar evoluindo o tempo todo. Na verdade, a maior parte do trabalho é todo dela, a gente só faz a mediação”.
Orgulhoso de tudo o que Alice vem conquistando ao longo dos anos de convivência com ela, Mário não esconde a satisfação de poder acompanhar de perto o crescimento das filhas, tanto da Alice, quanto da caçula Maria Helena. “Eu me apaixonei pela mãe dela, mas quem me conquistou foi a Alice. A relação que eu tive com ela foi fundamental para a minha relação com a minha esposa, foi algo que nos uniu muito e me fez querer ficar”, recorda. “Agora temos a Alice e a Maria Helena. Eu nunca liguei muito pra data. Pra mim todo dia é dia das mães, todo dia é dia dos pais, mas estar vivendo isso do outro lado, como pai, é muito bom”.
Amor e paternidade caminhando lado a lado
A possibilidade de vivenciar o amor proporcionado pela experiência da paternidade também é celebrado pelo pescador Gercinildo Sacramento, 44 anos. Pai de três meninas, ele também inclui na rotina da paternidade o acompanhamento de uma das filhas nas terapias. Toda quarta-feira, ele e a esposa se deslocam de Igarapé-Miri, onde moram, até Belém para acompanhar a filha Gabrielle Antunes, de 16 anos, nas terapias feitas no CIIR.
“Desde quando ela entrou para o CIIR, a gente pode ver a evolução, o desenvolvimento dela, ela tendo mais independência. E com isso a gente fica satisfeito, apesar da distância que a gente mora. A gente se desloca de Igarapé-Miri 5h para chegar aqui 8h, toda quarta-feira, mas vale à pena os esforços”, considera, ao contar que no local a filha, uma adolescente com paralisia cerebral, recebe acompanhamento com neurologista, ortopedista, psicólogas, entre outras especialidades. “Com certeza esse é o maior presente do Dia dos Pais. Só de ver que ela está sendo atendida por uma equipe preparada já é o presente de Dia dos Pais, não precisa outro presente”.