Fábio Nóvoa

Um noir diferente

Hoje, a Apple TV talvez seja o streaming menos conhecido e assistido no Brasil, mas produz obras com qualidade narrativa e visual impressionante. Uma dessas boas surpresas, para mim, é “Sugar” (2024), criada por Mark Protosevich, dirigida por Adam Arkin e pelo brasileiro Fernando Meireles, e estrelada pelo astro Colin Farrell.

O mais bacana da série é ela passear por dois gêneros cinematográficos fascinantes, mantendo a atenção do público até o final: o Noir e a Ficção Científica. Na trama, Farrell interpreta um detetive particular competente, mas cheio de traumas, que é contratado para encontrar a neta desaparecida de um produtor famoso de Hollywood. É o mote para a produção desfilar homenagens aos filmes da era de ouro da produção americana (entre as décadas de 30 e 50), em uma narrativa tensa e com reviravoltas surpreendentes.

Uma delas, inclusive, muda o tom da história completamente, e é fascinante juntar as peças que levaram o espectador até aquele momento. Transportando o glamour e o estilo de outras décadas para os dias atuais, os diretores (principalmente Meireles, que está por trás das câmeras dos melhores episódios) não deixam a peteca cair, seja com o design de produção acertado, trilha sonora e montagem fragmentada, mas que valoriza as cenas. Principalmente nas transições entre produções antigas, ações atuais dos personagens e flashbacks.

Farrell é a escolha acertada para o protagonista, transitando entre a bondade e a brutalidade, dando complexidade ao detetive mesmo diante da revelação absurda no episódio 6 (e falar mais sobre isso pode estragar a experiência de quem vai assistir). Mas a produção também pode se dar ao luxo de ter coadjuvantes de peso, como James Cromwell, Amy Ryan e Anna Gunn.

Meirelles utiliza de diversos maneirismos visuais (com ângulos holandeses e cenas desfocadas) para ilustrar a confusão mental e as dúvidas do detetive durante a sua investigação, sempre de maneira eficaz. O enredo em torno do desaparecimento não é dos mais elaborados, é até bem simples de entender, mas o percurso é o que importa, ao envolver o espectador na narrativa e também na sua conclusão quase estapafúrdia, deixando o espectador com vontade de acompanhar mais esse mundo.

Uma curiosa e bem-vinda adição ao mundo das séries, este ano, e das histórias de investigação policial. Para quem tiver oportunidade, está disponível completa na Apple TV.

Colin Farrell faz um investigador com características bem peculiares. FOTO: divulgação