Quando um empreendimento mantém a preocupação de acolher a produção de famílias e cooperativas que atuam preservando a biodiversidade da região, mais do que fomentar um novo negócio, a atividade também contribui para a valorização e a manutenção do modo de vida de comunidades e populações tradicionais, bem como com a própria preservação da biodiversidade.
Na outra ponta, sempre que um consumidor opta por um produto oriundo dessa integração, mais do que consumir o produto em si, ele está contribuindo com o fortalecimento de uma relação que garante uma produção sustentável e a manutenção da floresta em pé, uma relação de consumo e de produção responsáveis.
Foi centrada neste tipo de relação que nasceu, há pouco mais de dois anos, a Amazonique, um negócio de impacto que não apenas comercializa sucos de frutas nativas da Amazônia em escala industrial, mas que associa essa atividade à conservação da biodiversidade local. “A Amazonique surgiu com a ideia de suprir um anseio de ter acesso a produtos locais de qualidade, no caso sucos. A gente é focado em produzir bebidas e sucos com insumos locais e, hoje, a gente trabalha com algumas cooperativas e produtores locais”, explicam Paulo Araújo e Paulo Reis, sócios da Amazonique.
Paulo Reis conta que sempre teve um interesse particular em trabalhar com sucos regionais e o sócio, Paulo Araújo, tinha uma estrutura resultante de uma empresa anterior que poderia abrigar a nova ideia. Foi então que eles compreenderam que valeria à pena se unir para criar uma marca para suprir uma necessidade que eles próprios sentiam.
“A nossa proposta é levar as frutas da região amazônica para o consumidor através dos sucos. Por incrível que pareça, apesar de a gente estar em uma região que tem o hábito muito forte do consumo de sucos, há pouco tempo atrás se a gente olhasse nos supermercados a gente encontrava suco de maçã, de pêssego, de uva e não encontrava de nenhuma fruta regional”, lembra Paulo Reis.
“Uma coisa curiosa da nossa região é que a nossa forma de consumir as nossas frutas é na forma de suco porque as nossas frutas mais características não são aquelas frutas com um volume grande de polpa. Se você pensar, por exemplo, na acerola, no taperebá, não são frutas que costumam ter na mesa do café da manhã para tirar um pedaço e comer, você tem que transformar em suco”.
Apesar da oferta desse tipo de suco ser vista em restaurantes e na própria casa dos paraenses, os empreendedores observaram que essa oferta não era vista nos supermercados. A partir daí, os primeiros sucos lançados pela marca aproveitavam os sabores que já eram muito comuns no dia a dia dos consumidores, além de lançarem outros sabores que mesclam frutas que, por vezes, não são consumidas com tanta frequência, como é o caso do suco de cupuaçu com pitaya.
Com a boa aceitação que tiveram no mercado – em 18 meses a empresa cresceu 600%, sempre focada no mercado local -, os sócios viram a transformação chegar também à realidade dos produtores que fornecem os frutos processados na fábrica instalada no município de Ananindeua.
“Tanto eu, quanto o Paulo Araújo já tínhamos tido a oportunidade de trabalhar com aceleradoras ou programas que apoiam negócios de impacto, então, a gente já começou a Amazonique com esse olhar de que a nossa cadeia produtiva, os nossos fornecedores de ingredientes da região, poderiam nos ajudar e a gente também poderia ajudá-los a ter um impacto na região tanto no âmbito ambiental, quanto no âmbito social”, considera Paulo Reis.
“Na parte social diretamente porque a gente compra um volume razoável a grande de polpas de cooperativas ou de famílias diretamente, quanto também a gente ajuda a promover e a fazer com que esses familiares preservem a biodiversidade que normalmente está na área onde eles vivem e, muitas vezes, onde eles cresceram”.
Vale considerar que, muitas vezes, os produtores produzem essas frutas porque as mesmas fazem parte da cultura tradicional deles e de suas famílias, mas às vezes eles não tem para quem vender, então, acabam mantendo essa produção unicamente pelo propósito pessoal ou familiar de ter aquela árvore, ou ele acaba deixando de trabalhar com aquele fruto para focar em outras atividades que têm um mercado maior.
“Às vezes, por não ter estímulos gerais, essas famílias não têm essa necessidade de continuar plantando e cultivando certas frutas e a gente acaba fazendo esse trabalho e com o crescimento da própria empresa, com o crescimento de venda e, consequentemente, com a maior compra desses insumos, isso acaba estimulando que eles produzam mais”, considera Paulo Araújo.
“Eu sempre lembro do exemplo de uma produtora de Terra Alta que começou com pouquíssima acerola e, hoje, a gente compra 100 vezes o volume que ela costumava vender para região antes. Na última visita que a gente fez lá na produção dela, ela mostrou que de uma produção que ela fazia só de acerola, agora ela está diversificando e plantando pitaya também, algo que ela fez porque a gente passou a desenvolver o suco com pitaya. Então, é um estímulo onde todo mundo está ganhando”.