Após seis meses do teste da semana de trabalho de quatro dias, 16 de 19 empresas relataram um aumento na eficiência de seus funcionários. Segundo gestores da maior parte das firmas que aplicaram o modelo com jornada menor e salários iguais, os processos internos dos negócios melhoraram.
A semana de quatro dias de trabalho será mantida sem alterações por 8 das 19 empresas participantes do piloto, realizado em quatro estados brasileiros (SP, RJ, MG e PR). Sete delas preferiram estender o teste para avaliar mais a fundo os impactos a longo prazo antes da decisão final.
Parte das empresas que não manterá a redução não fez o teste com todas as suas equipes, por isso decidiu expandir a experiência para outros times em uma “nova rodada” do experimento. Outra parcela decidiu que não continuará com a semana reduzida, mas fará ajustes no formato, como uma folga a cada quinze dias, por exemplo.
A Vockan, empresa de tecnologia voltada para gestão empresarial que participou do piloto, adota o sistema de quatro dias de trabalho desde 2022. Para o CEO, Fabrício Oliveira, um dos principais motivadores para a decisão em manter o modelo é sua sustentabilidade.
“Hoje meus colaboradores se consideram 60% muito felizes e 40% felizes. As pessoas estão tendo uma melhor qualidade de vida, conseguindo gerir melhor seu tempo. E a produtividade aumentou. Está em torno de 32% acima da média”, diz Oliveira.
Desenvolvido pela Reconnect Happiness at Work & Human Sustainability, o projeto 4 Day Week Brazil mostra também que 14 empresas relataram melhoria do funcionamento das equipes. E a aceitação da nova jornada de trabalho pelos clientes foi registrada por 13 delas.
A maior parte dos negócios passou pelo experimento sem precisar contratar mais pessoas. Cerca de 13 empresas conseguiram ajustar suas operações com o mesmo número de colaboradores. Apenas seis delas reforçaram suas equipes para atender às exigências do piloto.
Em relação ao impacto nas finanças, cerca de 72,7% das empresas participantes observaram um aumento na receita, e 63,6%, no crescimento do lucro. O estudo ressalta, porém, que a melhoria nestes índices não pode ser atribuída exclusivamente à implementação da semana de quatro dias.
Desde janeiro de 2024, 19 empresas testaram o modelo 100-80-100, em que os colaboradores mantêm 100% do salário, trabalham 80% do tempo e mantêm 100% da produtividade. Todas as empresas do piloto no Brasil escolheram adotar a prática de folgar um dia na semana.
LÍDERES VEEM BENEFÍCIOS
Algumas das principais expectativas relatadas pelas empresas no piloto no início do projeto incluíam a redução da taxa de rotatividade de colaboradores, a facilitação na atração de talentos e a promoção do bem-estar dos colaboradores e uma elevada taxa de engajamento e produtividade.
A maioria dos anseios das companhias foram obtidos durante o experimento. O novo modelo aparenta ter ajudado na atração de novos talentos, uma vez que 66,7% das empresas relataram um aumento na capacidade de recrutamento. Em relação aos colaboradores, 60,3% deles disseram que o nível de engajamento cresceu e para 71,5% deles a produtividade aumentou significativamente.
Já a queda na rotatividade, um dos resultados esperados pelas empresas, não foi observada durante o piloto. Ela permaneceu estável para 75% das empresas, o que sugere que a implementação da semana de quatro dias não impactou diretamente na retenção de funcionários.
Mesmo sem terem todas as expectativas atendidas, 84,6% dos gestores das empresas participantes do projeto acreditam que a redução de cinco para quatro dias de trabalho por semana trouxe benefícios. Aumento da produtividade, melhoria na qualidade do trabalho, redução nas faltas e melhoria no bem-estar dos colaboradores foram alguns dos destaques.
“A forma como o colaborador trata o cliente ao telefone é diferente. A colaboração e o engajamento entre eles é fenomenal, aumentou muito”, diz o CEO da Vockan. De acordo com ele, os próprios clientes têm procurado a empresa para fazer elogios ao atendimento dos funcionários.
FUNCIONÁRIOS MAIS DISPOSTOS
Os funcionários relataram ainda um crescimento de 65,5% do comprometimento com a empresa. A análise dos dados de saúde dos colaboradores revelou que 72,8% dos participantes relataram uma redução na exaustão frequente e 49,6% observaram uma diminuição significativa na insônia ou em outros problemas de sono. Os funcionários passaram a trabalhar, em média, 6,3 horas a menos por semana com uma semana de trabalho menor.
Houve também um retorno positivo em relação ao bem-estar e ao convívio social. Cerca de 87,4% disseram ter mais energia para realização de tarefas e 45,9% notaram uma redução do desgaste no final do dia. Aproximadamente 71,3% dos funcionários afirmam ter sentido um aumento de energia para família e amigos e 49% uma melhoria na relação com o gestor/líder.
A maioria dos colaboradores participantes do projeto são mulheres (63,7%), pessoas brancas (72,2%) e sem filhos (69,4%). Cerca de 63,5% têm entre 18 e 34 anos, sendo os jovens de 18 a 24 anos a maior porcentagem (25,3%). A maior parte dos funcionários já trabalhava na empresa antes do experimento (86,9%).
Ao serem questionados se gostariam de continuar a ter três dias de folga por semana, cerca de 97,5% dos 202 colaboradores que responderam aos questionários do teste disseram desejar que o benefício fosse mantido.
COMO FOI O EXPERIMENTO
No Brasil, 22 empresas integrariam o projeto-piloto da semana de quatro dias. Mas, durante o processo, três companhias não foram adiante com o teste. Uma empresa desistiu após um mês, outra localizada no Rio Grande do Sul saiu do piloto após ser afetada pela enchente e a última pausou o experimento ao trocar a direção.
Desta forma, 19 empresas (SP, RJ, MG, PR), com 252 colaboradores, finalizaram os seis meses de implementação da semana de quatro dias. De janeiro a junho deste ano, os gestores colocaram em prática o que haviam visto na fase de preparação e planejamento do piloto. Durante os meses de prática, foram realizadas seis sessões de acompanhamento.
*LARA BARSI – NITERÓI, RJ (FOLHAPRESS)